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O que é curva de valor agregado no planejamento de obras?

Análise estabelece relação entre o custo real aplicado e o avanço físico obtido. Ou seja, o que foi incorporado pela obra em relação ao investimento realizado para se obter tal resultado. Permite eventuais mudanças de rotas e ações corretivas pelos gestor

Publicado em: 02/02/2023

Texto: Eric Cozza

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
Método pode ser empregado no gerenciamento do projeto como um todo, envolvendo escopo, prazo e custo, de forma integrada. Desenvolvido na década de 1960, compara o valor do trabalho planejado com aquele realmente concluído (Foto:Shutterstock)

Problemas no planejamento de obras podem gerar consequências graves para um empreendimento e as empresas envolvidas. Atrasos e estouros nos custos costumam terminar em conflitos, prejuízos e até ações judiciais.

Existem, porém, metodologias e técnicas consagradas na engenharia civil e no gerenciamento de projetos para evitar esse tipo de situação. A análise de valor agregado é uma dessas ferramentas.

Desenvolvido na década de 1960, o método compara o valor do trabalho planejado com aquele realmente concluído, permitindo eventuais mudanças de rotas, ações preventivas ou corretivas.

Para nos ajudar a compreender melhor o conceito e os benefícios da análise ou curva de valor agregado no planejamento de obras, nós convidamos para o podcast AEC Responde a engenheira civil Ana Meneghetti, mestre pela Universidade Federal de Santa Maria com MBA em gerenciamento de projetos pela Fundação Getúlio Vargas.

Responsável pelo planejamento de obras de grande porte em todo o País, ela hoje é consultora e professora em cursos de gestão e liderança. Confira, a seguir, a entrevista.

AEC Responde – O que é curva de valor agregado no planejamento de obras?

Ana Meneghetti – Trata-se de um método que surgiu para auxiliar no gerenciamento de custos, porém, é muito utilizado também na gestão do cronograma. Acaba sendo empregado, portanto, no gerenciamento do projeto como um todo, envolvendo escopo, prazo e custo, de forma integrada.

AEC Responde – A análise do valor agregado envolve três parâmetros: valor planejado, agregado e real. Como monitorá-los e com qual periodicidade?

Ana – A análise do valor agregado veio suprir uma deficiência do método tradicional, que consiste no previsto versus realizado. Justamente porque, além do realizado e do previsto, nós temos um valor agregado às atividades, ao que foi realmente realizado ali dentro da tarefa. Para que possamos fazer uso desse método, a primeira coisa que devemos montar é o cronograma. Deixá-lo todo pronto. Para ser mais assertivo, esse cronograma precisa ter a alocação de recursos. A partir dela, fazemos a curva S, com os custos, isto é, os valores e as porcentagens planejadas. E depois, aí sim, faremos o acompanhamento do custo real, ou seja, os gastos incorridos para aquela tarefa ou para aquele pacote de trabalho. Com isso, podemos ter a análise do valor agregado, que nada mais é do que pegar esse custo e multiplicar pela porcentagem física, pelo progresso da tarefa ou do pacote de trabalho. Isso tem que ser feito sempre, com uma periodicidade predeterminada, a ser definida caso a caso. Na minha visão, deve ser, pelo menos, semanal, para se ter uma avaliação de toda a medição, de tudo que foi feito, das tarefas realizadas, verificando os custos reais e fazendo a análise do valor agregado.

“Muitas vezes, gastamos em uma semana menos do que era previsto e ficamos felizes, satisfeitos. Mas, se verificarmos o valor agregado, percebemos que a obra está atrasada, pois não foram realizadas todas as atividades que deveriam ter sido feitas no período. Aquilo, então, não foi um ganho”
 Enga. Ana Meneghetti

AEC Responde – É possível fazer essas análises em um software? Como coletar os dados, construir as curvas e promover as verificações em um sistema?

Ana – O primeiro passo ao utilizar um software, como o MS Project ou o Primavera, é criar o cronograma, como fazemos normalmente: colocando as atividades e, a partir delas, a alocação de recursos, os custos. Feito o cronograma, criamos a curva S e, a partir daí, fazemos o acompanhamento e a atualização do cronograma semanal. Como eu já tenho ali todos os custos mapeados ali, vou verificar qual foi o realizado. Coloco ali o gasto real e, a partir dele, eu passo essa informação, no resumo do projeto, para a curva S. Com isso, pego a porcentagem física naquela semana, com base no acompanhamento, e a multiplico pelo custo real para verificar o valor agregado. É importante lembrar que não basta colocar na curva. Tenho que fazer a análise de valor agregado. Como eu faço isso? A partir do índice de desempenho de custo, o IDC, e o índice de desempenho de prazo, o IDP. Posso criar uma planilha, aplicar ali aqueles valores e, pelas fórmulas, vou analisar os índices. Se ele estiver negativo ou menor do que 1, dependendo da situação, eu tenho que atuar. Verifico, portanto, se o meu custo está dentro ou fora do planejado. Isso é muito importante porque, muitas vezes, gastamos em uma semana menos do que era previsto e ficamos felizes, satisfeitos. Mas, se verificarmos o valor agregado, percebemos que a obra está atrasada, pois não foram realizadas todas as atividades que deveriam ter sido feitas no período. Aquilo, então, não foi um ganho.

“Ciente dos meus índices, faço uma análise e consigo atacar o problema, examinando o escopo, que vem lá das atividades e da EAP (estrutura analítica do projeto). Consigo avaliar, portanto, as tarefas e os pacotes de trabalho dentro do cronograma”
 Enga. Ana Meneghetti

AEC Responde – Uma ilusão, na verdade...
Uma ilusão. O valor agregado vai demonstrar isso pelos índices, pelas variações. Vai deixar claro que o custo parece bom, mas o prazo está ruim, atrasado. Ou seja, é preciso agir. É muito importante para nós, gestores, atuar em cima. Não adianta apenas analisar o desempenho. O que vale é tomar providências após a análise. Estabelecer imediatamente um plano de ação. Isso é que é importante.

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AEC Responde – A curva de valor agregado é uma ferramenta para analisar o desempenho da obra em relação aos gastos. Mas, como a senhora mencionou, pode ajudar também a verificar atrasos em alguma área e as possíveis influências na gestão do cronograma. É isso mesmo?

Ana – Exato. No momento em que eu verifico meu índice de desempenho do prazo, já sei se o projeto está, ou não, atrasado. Então, não é só a gestão de custo. Ciente dos meus índices, faço uma análise e consigo atacar o problema, examinando o escopo, que vem lá das atividades, da EAP (estrutura analítica do projeto). Consigo avaliar, portanto, as tarefas e os pacotes de trabalho dentro do cronograma. Tenho tudo isso mapeado e vinculado aos custos e aos prazos. Eu posso ir analisando a partir dos parâmetros que determinei no início do projeto. Para isso, precisamos de um escopo bem definido. O profissional tem que começar, desde a EAP, passando pelo progresso de atividades, a estimativa e alocação de recursos das atividades. E ter critérios de medição. Há, portanto, uma série de cuidados que devemos ter ao utilizar esse método.

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Colaboração técnica

Ana Meneghetti – Engenheira civil e mestre pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) com MBA em gerenciamento de projetos pela Fundação Getúlio Vargas. Foi professora universitária na UFSM nos cursos de engenharia e arquitetura. Responsável pelo planejamento de obras de grande porte em diversas cidades do País, hoje é consultora e sócia-diretora da Ana Meneghetti Gestão de Obras e Projetos. Também é professora em cursos de gestão e liderança.