menu-iconPortal AECweb

O que são revestimentos de alto desempenho para pisos?

Resistência a ataques químicos é um dos principais atributos desse tipo de tecnologia empregada nos pisos de concreto em indústrias alimentícias, farmacêuticas, salas limpas ou áreas com presença de agentes agressivos

Publicado em: 14/11/2022

Texto: Eric Cozza

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
Preparo da superfície para a aplicação do revestimento é fundamental. Piso de concreto deve ter umidade controlada para evitar bolhas, rugosidade adequada para uma boa ancoragem e, em especial, estar livre de patologias que poderão, posteriormente, se refletir no revestimento (Imagem: Shutterstock)

A pandemia e o consequente crescimento das compras online aqueceram o mercado de logística e de centros de distribuição em todo o País. A partir de então, os pisos industriais de concreto, assim como os revestimentos de alto desempenho, têm sido ainda mais demandados do que eram antes de 2020.

A decisão por uma ou outra tecnologia passa pelo uso específico do piso, pela expectativa do dono da obra em relação aos custos, pelo ciclo de manutenção desejado e a disponibilidade de empresas de execução na região. A análise deve ser cuidadosa e realizada em conjunto com o projetista responsável.

Por isso, para tirar nossas dúvidas e nos dizer quando deve-se optar pelos revestimentos de alto desempenho, nós convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil e projetista, Wagner Gasparetto, diretor-presidente da LPE Engenharia. Confira abaixo a entrevista.

AECweb Responde – O que são revestimentos de alto desempenho para pisos?

Wagner Gasparetto – A ANAPRE (Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho), com apoio da LPE Engenharia, estabeleceu no passado um conceito de pisos de alto desempenho que começa pelo subleito, ou seja, por um solo pensado e tratado para resistir às ações de cargas que o pavimento vai receber. Passa também por uma sub-base, que vai receber as cargas do pavimento de concreto que, por sua vez, funciona como um substrato para o revestimento de alto desempenho – nomenclatura dada ao piso por resistir às ações mecânicas ou químicas. Quando falamos de mecânica, são ações de cargas ou de abrasão. E temos as químicas, ou seja, determinados tipos de ataques que o concreto não é capaz de resistir. No mercado brasileiro, os revestimentos capazes de abrandar a agressão química sobre o concreto são muito focados nas soluções epoxídicas, tradicionais por aqui, ou as poliuretânicas. O que confere, portanto, essa condição de alto desempenho a um piso de concreto é resistir às ações mecânicas ou químicas. Vale mencionar que, muitas vezes, um pavimento de concreto aparente, desde que bem projetado e acabado, resiste às ações mecânicas. Já para ataques químicos, em geral, o concreto precisa do apoio de revestimentos epoxídicos ou poliuretânicos.

“Os revestimentos poliuretânicos têm uma resistência, especialmente os chamados alifáticos, muito grande aos raios ultravioletas. Também reagem bem a uma ampla gama de agentes químicos. Até por conta de todos esses atributos, acabam tendo um custo mais elevado”
Engo Wagner Gasparetto

AECweb Responde – Quando são indicados, então, os revestimentos de alto desempenho e qual é a diferença de performance para um piso industrial de concreto polido?

Gasparetto – Nos condomínios ou galpões logísticos, normalmente, não precisamos dos revestimentos, porque um concreto bem projetado, com bom acabamento e resistência adequada, tem capacidade de resistir às ações mecânicas e de abrasão. Por outro lado, se, nesse mesmo galpão logístico, há uma área, por exemplo, onde é necessário carregar baterias de empilhadeiras, que possuem ácidos, é importante ter um revestimento nesse local. O mesmo acontece na indústria alimentícia, farmacêutica, onde se tratam açúcares e ácidos, ou lugares onde há exigências de salas limpas. Então, nesses casos, é necessário tratar com revestimentos e pinturas – eventualmente autonivelantes, espatulados, argamassados. E aí cabe uma questão adicional: muitas vezes, o cliente quer investir em um revestimento por uma questão arquitetônica. Ou seja, por um apelo estético, possui o desejo de ter um piso revestido. Posso, então, trabalhar com epóxi ou poliuretano. Consigo conferir mais ou menos brilho. Ou, então, um revestimento que não seja escorregadio. É importante ter essa visão.

As pessoas também perguntam:
Quais são os principais cuidados na concretagem de lajes?

AECweb Responde – Quais são as principais diferenças entre o revestimento epóxi e o de poliuretano?

Gasparetto – Os revestimentos epoxídicos são mais tradicionais no nosso mercado e, por terem uma oferta muito grande de fornecedores, inclusive com empresas competentes para aplicação, acabam sendo mais econômicos. A limitação em relação ao epóxi é que eles degradam com ataques de raios ultravioletas. Acabam tendo um amarelamento. Então, se o cliente possui uma exigência arquitetônica, talvez o epóxi não seja a solução mais adequada. Pode-se fazer, entretanto, uma pintura poliuretânica sobre o epóxi para protegê-lo do ataque dos raios UV. Os revestimentos poliuretânicos têm uma resistência, especialmente os chamados alifáticos, muito grande aos raios ultravioletas. Também reagem bem a uma ampla gama de agentes químicos. Até por conta de todos esses atributos, acabam tendo um custo mais elevado. Quando eu penso em resistência mecânica, o epóxi atende perfeitamente algumas necessidades. Quando vou para as áreas mais químicas, muitas vezes, preciso aplicar o poliuretano.

“No preparo da superfície, é importante conseguir oferecer uma rugosidade adequada para a ancoragem e, especialmente, verificar se há patologias no pavimento de concreto, tais como fissuras. Porque, se existirem tais aberturas, vão se refletir no revestimento, por conta da movimentação do piso”
Engo Wagner Gasparetto

AECweb Responde – Há cuidados de projeto específicos para os revestimentos de alto desempenho? E em relação à execução?

Gasparetto – Toda a engenharia presume processos de controle de aplicação e isso vale tanto para os revestimentos epoxídicos quanto para os poliuretânicos. Creio que dois pontos são importantes quando pensamos em aplicar um revestimento sobre uma base de concreto: primeiro, devo ter certeza de que o piso não possui qualquer tipo de patologia. Não posso ter muita umidade no pavimento de concreto, pois ela pode ascender e gerar bolhas no revestimento e, consequentemente, ocasionar o desplacamento desse material. E, também, no preparo da superfície, a rugosidade deve estar adequada para que haja a devida ancoragem do revestimento sobre o pavimento de concreto. No que diz respeito à execução, existem técnicas apropriadas para cada um dos tipos de revestimentos: aplicação de rolos fura bolha, verificações de umidade e do preparo da superfície. Eventualmente, há a necessidade de fazer a aplicação de uma ponte entre o pavimento de concreto e o revestimento, para que tudo funcione adequadamente. Cada caso é diferente do outro. Mas, de forma geral, no preparo da superfície, é importante oferecer uma rugosidade adequada para a ancoragem e, especialmente, verificar se há patologias no pavimento de concreto, tais como fissuras. Porque, se existirem tais aberturas, vão se refletir no revestimento, por conta da movimentação do piso. O concreto tem que estar são, sem fissuras e com uma rugosidade adequada – eventualmente, até com algum jateamento de areia ou de granalha de aço – para que haja uma ancoragem desse revestimento de forma adequada.

AEC Responde: envie sua dúvida técnica sobre construção, engenharia civil e arquitetura

Colaboração técnica

Wagner Gasparetto – Diretor-presidente da LPE Engenharia, é engenheiro civil pela Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie com MBA em marketing pela Fundação Getúlio Vargas. Atua, desde 1985, no desenvolvimento do mercado de pisos e pavimentos de concreto. Publicou inúmeros trabalhos técnicos no segmento de pisos de concreto e participou de vários congressos e seminários internacionais. É membro de comissões da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) de normas relacionadas ao segmento. Integrou a diretoria executiva da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) e foi presidente da ANAPRE (Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho).