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Como assentar pisos cerâmicos de grandes formatos?

Transporte, manuseio, corte e assentamento das placas de maiores dimensões ainda causam receio em alguns profissionais. Ferramentas e materiais específicos auxiliam em uma boa execução

Publicado em: 21/11/2023

Texto: Eric Cozza

Homem posicionado no centro da imagem, assentando piso de cerâmica na cor branca.
Se, em meados dos anos 1990, uma placa cerâmica de 45 x 45 cm era considerada grande, hoje é possível encontrar formatos de até 3,20 m no Brasil. Ferramentas, materiais específicos e cuidados especiais ajudam a evitar problemas para os aplicadores (Imagem: Shutterstock)

O uso de placas cerâmicas de grandes formatos tem conquistado cada vez mais espaço no Brasil e em diversos países do mundo. Estamos falando aqui de peças acima de 60 centímetros, mas que podem chegar até a 3,20 metros, cobrindo, por exemplo, trechos de parede do piso ao forro.

Entre as vantagens, talvez a mais relevante seja a menor incidência de juntas, que proporciona uma sensação de amplitude, estética agradável, melhores condições de limpeza e menor necessidade de manutenção dos rejuntes.

Há, porém, alguns profissionais, tanto de construtoras quanto aplicadores especializados que ainda possuem receio de trabalhar com grandes formatos. Os principais temores se referem ao transporte, manuseio e eventual corte das peças. Mas será que tal desconfiança se justifica do ponto de vista técnico?

Para nos falar mais sobre esse assunto, nós convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil Luiz Henrique Manetti, gerente nacional de engenharia da Ardex Ceramfix e secretário da Norma de Desempenho, a NBR 15.575, pela ABNT.

AECweb – Quais são os principais cuidados no assentamento de pisos cerâmicos de grandes formatos e por que ainda se encontra alguma resistência por parte de alguns profissionais?

Luiz Henrique Manetti – Essa é uma questão que incomoda alguns instaladores há muitos anos. Quando comecei minha carreira, no final dos anos 1990, estava sendo lançado o porcelanato com 45 x 45 cm. Era gigantesco para a época. É um formato minúsculo para os padrões atuais. As principais reclamações, naquele momento, se referiam à necessidade de recortes, ao peso das peças e à diminuição da produtividade. Alguns achavam impossível, por exemplo, fazer o caimento da água para o ralo. De lá para cá, os formatos vêm crescendo. Sessenta centímetros, depois 90 cm, na sequência 1,20 m. Por volta de 2013, chegaram as placas gigantes ou lastras – como alguns fabricantes denominam: 2 m; 2,50 m; 3 m e 3,20 m. Mas existem placas de até 3,60 m no Exterior. O cliente é quem manda. E ele quer essas placas maiores. Não se trata de uma imposição da indústria, mas uma resposta aos desejos dos clientes. E, se há interessados, a indústria vai fabricar. Mas sempre terão aqueles que vão nadar contra e outros que vão aproveitar e surfar a onda.

“Boa parte desse receio é causado por experiências ruins do instalador que, por algum motivo, aceita um trabalho com uma placa grande com a qual nunca trabalhou. Não se informa adequadamente sobre como deve ser realizada a execução e acaba não obtendo um bom resultado”
Luiz Henrique Manetti

AECweb – Há ferramentas específicas para trabalhar com grandes formatos? Como diminuir esse receio?

Manetti – Boa parte desse receio é causado por experiências ruins do instalador que, por algum motivo, aceita um trabalho com uma placa grande com a qual nunca trabalhou. Não se informa adequadamente sobre como deve ser realizada a execução e acaba não obtendo um bom resultado: quebra uma placa e tem que repor – lembrando que, quanto maiores as dimensões, mais cara é a peça – ou não consegue dar o acabamento desejado pelo cliente. Mas o fato é que tem muita gente que topa trabalhar com as placas grandes, acaba se especializando e ganha muito dinheiro. Porque, do mesmo jeito que a placa é mais cara, a instalação dessa placa também é. Além disso, é mais fácil demonstrar a qualidade do serviço. E isso é percebido – e aí vou entrar na pergunta – pelas ferramentas empregadas, que são muito importantes. Se, para uma placa de 60 cm, eu utilizo uma serra mármore manual, popularmente chamada de Makita, para outra de 3 metros de comprimento, se eu fizer igual, a chance do corte não sair reto é enorme. Por isso, o mercado possui hoje serras mármores de trilho, na qual se posiciona o trilho em cima da placa com extrema facilidade e a serra corre reto. O acabamento fica maravilhoso. Outra coisa que também não se faz nos formatos menores, mas é importantíssimo com as placas grandes, é utilizar água no corte. Isso permite um acabamento mais primoroso. Outra providência é abandonar o tal do disco turbo, que traz um falso ganho de produtividade, que vem acompanhado de um acabamento muito serrilhado, craquelado que, depois, se você quiser melhorar, vai ter que ficar lixando a placa de porcelanato. Ou seja, o tempo que você ganhou no corte acaba perdendo na correção do acabamento. Uma outra ferramenta essencial para a instalação é o quadro de ventosas. É um conjunto de barras de alumínio, na forma de um quadro, como se fosse uma janela, com várias ventosas distribuídas, capazes de estruturar a placa, proporcionar melhor ergonomia e segurança para transportar com tranquilidade. Alguns aplicadores se assustam com o preço desse equipamento, que pode custar de 5 a 7 mil reais. Mas devem lembrar que, se quebrarem umas sete placas e tiverem que ressarcir os clientes, o valor será, mais ou menos, equivalente. Há algumas iniciativas em andamento para colocar esse tipo de ferramenta disponível para a locação. Aí o aplicador poderá alugar por uma fração do custo total. A ventosa vibratória também ajuda muito no assentamento, pois permite que se faça o arraste da placa com mais facilidade. Ajuda na execução de grandes formatos de porcelanato, com uma instalação mais uniforme e nivelada.

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AECweb – Um outro receio dos profissionais refere-se à argamassa de assentamento. Há alguma especificidade quando se trabalha com grandes formatos?

Manetti – Sim, existe. Às vezes, as pessoas gastam R$ 1000 em uma placa e, na hora de escolher uma argamassa, consideram caro um produto de R$ 100 e acabam optando por outro de R$ 40, R$ 30 ou até R$ 20. Aí começam os problemas. Quanto maior a placa, menos rejunte você tem. Quando você trabalha com placas pequenas e há uma trinca no meio da sala, provavelmente, ela vai andar pelo rejunte, que vai trincar ou microtrincar e aquilo não vai incomodar. Quando eu assento uma placa grande, essa mesma trinca pode ficar na placa. A função dessas argamassas especiais é, justamente, de absorver essa trinca e não deixar ela passar para o porcelanato. Trincas pequenas conseguem ser absorvidas. Ocorre que, infelizmente, no Brasil, temos uma nomenclatura muito ruim, de argamassa colante. Chamamos de AC-I, AC-II e AC-III. Só que existe uma gama enorme acima da AC-III fora do País. Alguns fabricantes já têm utilizado as normas europeias, que incluem modelos acima da AC-III, capazes de absorver trincas ou movimentações entre 5 a 10 mm. É quase uma borracha. É mais caro, mas vai proteger aquele patrimônio. Outra questão se refere ao instalador. As argamassas para placas gigantes são mais moles, exatamente para permitir o arraste da placa e facilitar a instalação. Essas argamassas são mais fluídas e é importante que o instalador leia na embalagem quantos litros de água devem ser adicionados na mistura. Afinal, não adianta nada a indústria produzir uma argamassa mais fluída para facilitar o trabalho do instalador e, na hora do assentamento, ele colocar menos água sem nenhum critério, no olho, simplesmente porque gosta da argamassa mais seca. É um erro enorme, mas muito comum. É fundamental ler a instrução que está na embalagem. Se aquela argamassa não proporciona o desempenho e a produtividade que você precisa, é simples: troque a argamassa, mas não a quantidade de água.

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Colaboração técnica

Luiz Henrique Manetti – Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo com MBA em marketing pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), possui 25 anos de experiência na área de desenvolvimento de produtos e tecnologias, atuando em diferentes empresas como Telefonica, Tecnisa, Universidade de São Paulo e Portobello S/A. Atualmente, acumula os cargos de gerente nacional de engenharia pela Ardex Ceramfix e secretário da Norma de Desempenho, a NBR 15.575, pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).