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O que é radier e quando deve ser utilizado em fundações?

Fundação que se apoia na camada superior do terreno, costuma ser constituída por uma laje de concreto. Impermeabilização, posicionamento da armadura, cobrimento adequado e passagens para instalações hidráulicas são cuidados fundamentais

Publicado em: 07/06/2022

Texto: Eric Cozza

radier em fundações
Frequente em casas e sobrados, a fundação direta radier costuma ser a primeira a ser analisada pelo custo-benefício, prazo e facilidade de execução. Vale ressaltar que, dependendo das condições do terreno, obras de pequeno porte também podem exigir fundações profundas. (Foto: Shutterstock)

O radier se destaca pelo custo competitivo, velocidade de execução e redução da mão de obra, quando comparado às demais alternativas tecnológicas para fundações rasas. Não deve, entretanto, ser especificado de maneira indiscriminada para casas térreas, sobrados ou edificações de pequeno porte.

A realização de sondagens e a preparação de projeto geotécnico específico são fundamentais para evitar o risco de patologias e até de colapsos. Afinal, a escolha do tipo de fundação não depende apenas da dimensão e da estrutura de uma edificação. É preciso compatibilizar as cargas atuantes e os deslocamentos previstos com as características do solo de suporte.

Para tirar dúvidas sobre o radier em fundações, o podcast AEC Responde convidou a Engª Gisleine Coelho de Campos, pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), mestre e doutora na área de geotecnia. Confira a entrevista na íntegra.

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Cada caso precisa ser analisado individualmente, considerando os esforços atuantes, o projeto de arquitetura, a estrutura a ser construída e, em especial, a capacidade de suporte do terreno, que varia muito e precisa ser investigada antes de qualquer construção
Engª Gisleine Coelho de Campos, pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), mestre e doutora na área de geotecnia

AEC Responde – O que é radier e quando deve ser utilizado em fundações?

Gisleine Coelho de Campos – O radier é um tipo de fundação superficial, que fica apoiada na camada superior do terreno. É constituído, em geral, por uma laje de concreto armado. Costumamos dizer que se aplica bem quando uma análise conjunta dos esforços da estrutura e da capacidade de suporte do solo convergem para essa solução de fundação. Não é porque costuma ser utilizado em obras de pequeno porte que não pode ser usado em edificações de maiores dimensões. Cada caso precisa ser analisado individualmente, considerando os esforços atuantes, o projeto de arquitetura, a estrutura a ser construída e, em especial, a capacidade de suporte do terreno, que varia muito e precisa ser investigada antes de qualquer construção.

AEC Responde – Ou seja, não faz sentido aquela história de “vou fazer uma casa ou um conjunto habitacional e já orço logo o radier para as fundações.”

Gisleine – Vemos muito o uso. É frequente para esse tipo de construção. Porque, em geral, essas obras têm carregamentos relativamente pequenos. São edificações de um ou dois pavimentos e a solução de fundação direta radier, em geral, é a primeira a ser analisada pela questão de custo-benefício, prazo e facilidade de execução. É bastante adequada para esse tipo de obra, mas não se limita a essa tipologia. Dependendo das condições do terreno, obras de pequeno porte podem exigir fundações profundas. Muitas vezes, você tem elementos de fundação com comprimento maior do que a altura da própria edificação. Ou seja, maior do nível do terreno para baixo do que do nível do terreno para cima. Quando você encontra regiões com solos muito moles, muito compressíveis, às vezes, isso torna inviável o uso de uma fundação direta.

Na etapa de execução, o construtor tem que garantir que o projeto seja adequadamente implantado, com um bom controle de topografia, preocupação com a qualidade e o atendimento às especificações do concreto e do aço
Engª Gisleine Coelho de Campos, pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), mestre e doutora na área de geotecnia

AEC Responde – Daí a importância da realização das sondagens, da investigação geotécnica.

Gisleine – Sim, sempre, qualquer que seja o projeto a ser executado. Há a necessidade de se investigar por sondagens e também por ensaios laboratoriais, a depender da condição do terreno. Você vai investigar o comportamento esperado para esse terreno tanto em termos de resistência quanto de deformabilidade. Se não conhecemos o terreno, não conseguimos fazer uma boa escolha do tipo de fundação. Não basta conhecer somente o projeto arquitetônico e as cargas que serão aplicadas. Tem que ser uma análise conjunta: arquitetura, cálculo estrutural e geotecnia. Isso é fundamental para o sucesso de um projeto e para o desempenho dessa construção ao longo da sua vida útil.

AEC Responde – Então, além da investigação geotécnica, que é essencial, quais são os principais cuidados que devem ser tomados na fase de projeto e, depois, na execução do radier?

Gisleine – O projeto deve orientar todas as etapas construtivas: como vai ser feita a preparação do terreno? Qual a necessidade de impermeabilizar para evitar que a umidade suba e se transfira para a estrutura? Pensando em um radier armado, como vai ser o posicionamento das armaduras? Também deve prever o uso de espaçadores para garantir o cobrimento adequado, além das passagens para as instalações hidráulicas, que são superimportantes e devem estar previstas nessas lajes. Na etapa de execução, o construtor tem que garantir que o projeto seja adequadamente implantado, com um bom controle de topografia, preocupação com a qualidade e o atendimento às especificações do concreto e do aço. Garantir, por exemplo, durante a concretagem, que seja mantida a espessura mínima do radier indicada em projeto e verificar a cura adequada do concreto. São os cuidados convencionais de construção, de uma forma geral. Seguir o projeto e as boas práticas de engenharia na atividade de campo.

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AEC Responde – Quais são as principais patologias associadas a esse tipo de fundação e quais as correções mais comuns?

Gisleine – Um cuidado importante que recomendamos, tanto na fase de projeto quanto de execução, é prever vigas de borda, que evitam, por exemplo, infiltrações de água para a parte inferior do radier, algo que pode evoluir para processos erosivos e geração de recalques de toda a estrutura apoiada. Outra questão geralmente associada são os recalques que podem acontecer, sejam uniformes, a depender da flexibilidade do radier, ou recalques diferenciais que, em geral, são os mais preocupantes, porque geram trincas e distorções na estrutura, podendo afetar o desempenho de esquadrias, causar a ruptura de tubulações e diversas outras patologias. Como tratar isso? Vai depender muito da investigação da origem. Só conseguimos tratar uma patologia se identificamos claramente qual é a sua causa. Sendo um problema associado à característica do terreno que, por exemplo, está se deformando mais do que o previsto, há necessidade de partir para um tratamento visando a melhoria da capacidade de suporte, redução dos vazios para melhorar a deformabilidade, que é uma atividade um pouco complexa depois da obra construída. Sendo algum problema associado à infiltração de água, muitas vezes, a implantação de um sistema de captação e direcionamento das águas superficiais ajuda a reduzir o problema de patologias decorrentes de processos erosivos, de aumento da saturação do terreno. Por isso, um projeto de fundações deve ser olhado em conjunto com o projeto arquitetônico global. Você tem que dimensionar a fundação da edificação e olhar também para o entorno. Como é que eu vou direcionar as águas? Vou ter alguma interferência da região vizinha, que possa vir a afetar o desempenho do meu radier? Checar também redes de infraestrutura enterradas que, eventualmente, passam próximas – como tratar isso? Devemos ter um olhar bastante aberto e amplo para verificar em qual contexto a fundação está inserida para, aí sim, investigar a causa e definir, então, o melhor procedimento a ser adotado.

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Colaboração técnica

Gisleine Coelho de Campos  – Engenheira civil pela Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado, também pela USP, na área de geotecnia. Pesquisadora do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT), atua também como professora e orientadora dos cursos de pós-graduação promovidos pela instituição. Realiza trabalhos na área de geotecnia, com ênfase em fundações e escavações, tendo experiência no desenvolvimento de pesquisas e serviços técnicos especializados em fundações por estacas, instrumentação de obras geotécnicas, investigação geológico-geotécnica, ensaios em modelos reduzidos, inspeções técnicas de obras de infraestrutura e em temas relacionados à engenharia urbana, geotecnia e riscos.