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Como evitar a volta de mau cheiro em pias e ralos?

Especialista aponta rompimento do fecho hídrico dos desconectores como uma das causas mais comuns para o retorno de odores das instalações de esgoto

Publicado em: 04/04/2022

Texto: Eric Cozza

encanador trocando o sifão de uma pia em uma cozinha com paredes de tijolos branca
A NBR 8160, de 1999, é a norma técnica que fixa os critérios e requisitos necessários para os sistemas prediais de esgoto sanitário (Foto: Shutterstock)

O retorno de mau cheiro proveniente de instalações de esgoto costuma ser uma dor de cabeça para moradores e usuários de edificações. Os gases que retornam indevidamente ao ambiente pelos ralos e pias deveriam ser contidos nas próprias tubulações ou lançadas na atmosfera por um sistema de ventilação.

Uma causa comum é o rompimento do desconector, um dispositivo de fecho hídrico que funciona como barreira para a passagem de gases no sentido oposto ao deslocamento do esgoto. Os tipos mais comuns são os sifões, caixas sifonadas e ralos sifonados. É a falta de água ou o entupimento deles que causam o retorno do mau cheiro.

Há outros fatores que provocam tais odores, como a vedação inadequada da bacia sanitária ou da caixa de inspeção e gordura ou, ainda, a ausência ou inadequação da ventilação de esgoto.

Para orientar os profissionais a respeito, o engenheiro civil com mestrado em hidráulica e saneamento, Roberto de Carvalho Júnior é o convidado do podcast “AEC Responde.” Palestrante e autor de vários livros na área, entre eles “Patologias em Sistemas Hidráulico-Sanitários”, da Editora Blucher, o especialista fala sobre os cuidados de projeto e execução para evitar o retorno de mau cheiro em instalações hidráulicas.

AEC Responde – O que provoca a volta de mau cheiro em instalações hidráulicas, principalmente em pias e ralos?

Roberto de Carvalho Júnior – São várias as causas do mau cheiro e não apenas em pias e ralos. Um dos principais fatores que provocam esse odor, especialmente nos banheiros e áreas de serviço, é o retorno de gases provenientes do esgoto primário. Isso se deve ao rompimento do fecho hídrico dos desconectores. O fecho hídrico funciona como uma barreira de proteção, já que a água, por ser mais pesada do que gás, impede o surgimento de mau cheiro transmitido junto às peças de utilização. A norma (técnica) pede que seja assegurada a manutenção do fecho hídrico mediante às solicitações impostas pelo ambiente, tais como evaporação, tiragem térmica, ação do vento, variações de pressão, uso propriamente dito, sucção e sobrepressão. Então, quando ocorre o rompimento do fecho hídrico, consequentemente, o mau cheiro vai para dentro dos ambientes, principalmente nas áreas molhadas.

A primeira coisa a ser pesquisada é a ausência ou a ventilação inadequada do sistema de esgoto. É muito fácil fazer isso: você retira a grelha da caixa sifonada do banheiro, pede para alguém dar descarga próximo ao ralo e verifica se há redução do nível do fecho hídrico ou se há turbulência na superfície dele (...)
Eng. Roberto de Carvalho Júnior, professor, consultor e autor de livros sobre sistemas prediais hidrossanitários

AEC Responde – Como é que podemos evitar que isso aconteça? Quais são os cuidados de projeto e de execução?

Carvalho Júnior – É muito comum a ocorrência de mau cheiro devido à ausência de sistema de ventilação adequado. Quando isso acontece, em geral por falha de projeto ou de execução, pode ocorrer o rompimento do fecho hídrico dos desconectores e provocar o mau cheiro. Então, a primeira coisa a ser pesquisada é a ausência ou a ventilação inadequada do sistema de esgoto. É muito fácil fazer isso: você retira a grelha da caixa sifonada do banheiro, pede para alguém dar descarga no vaso sanitário próximo ao ralo e verifica se há redução do nível do fecho hídrico ou se há turbulência na superfície dele enquanto se aciona a descarga. Se for constatado um desses problemas – a redução nível do fecho hídrico ou turbulência na superfície dele – deve-se corrigir o sistema de esgoto, instalando o sistema de ventilação, conforme os requisitos da NBR 8160, de 1999, que é a norma que fixa os critérios e requisitos referentes às instalações de esgoto sanitário.

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AEC Responde – Então, depois de constatar o problema, como deve ser feita a correção?

Carvalho Júnior – Fazendo a ventilação de forma correta. Porque muitas vezes o que nós temos é ausência de ventilação ou uma ventilação incorreta por erros de projeto. A norma prevê a ventilação de duas formas: primária, desde que seja suficiente, e secundária. Temos que verificar a inserção do ramal de ventilação no ramal de esgoto ou ramal de descarga. Às vezes, uma distância inadequada dessa inserção também pode fazer com que a ventilação não funcione. São vários erros de projeto ou de execução que podem ocorrer e provocar o mau cheiro. Então, a principal forma de corrigir, primeiro, é verificar as condições do fecho hídrico. Às vezes, o desconector não tem o fecho hídrico maior ou igual a cinco centímetros, que seria o ideal para evitar o retorno de gases. Pode ser um defeito do sifão ou um sifão sujo. E se for a ausência ou ventilação inadequada, você tem que corrigir o sistema de esgoto.

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Colaboração técnica

Roberto de Carvalho Júnior – Engenheiro civil com mestrado em hidráulica e saneamento e também em arquitetura e urbanismo na área de projeto e planejamento de assentamentos humanos. É palestrante e autor dos livros “Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura”; “Instalações Elétricas e o Projeto de Arquitetura”; “Patologias em Sistemas Hidráulico-Sanitários”; "Instalações Prediais Hidráulico-Sanitárias – Princípios Básicos para Elaboração de Projetos" e "Interfaces Prediais" (Blucher). Trabalha hoje na área acadêmica e como consultor independente.