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Sistemas prediais de esgoto: montagem e perspectivas de racionalização

Gustavo S. Marangoni, mestre em Habitação pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT)

Publicado em: 29/01/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Coordenação técnica: Adriana Camargo de Brito
Comitê de revisão técnica: Adriana Camargo de Brito, Cláudio Vicente Mitidieri Filho, José Maria de Camargo Barros, Luciana Oliveira e Maria Akutsu
Apoio editorial: Cozza Comunicação

29/01/2021 | 16h30 - A instalação predial de esgoto destina-se a coletar, conduzir e afastar da edificação todos os despejos provenientes do uso dos aparelhos sanitários (Carvalho Júnior, 2016). Assim, o sistema predial de esgoto completo compreende desde a captação do efluente nos pontos de consumo (bacias sanitárias, chuveiros, tanques, pias e lavatórios) até seu despejo, seja na rede pública de coleta ou em fossas sépticas para regiões não providas de coleta.

Neste artigo, são abordados especificamente três trechos da instalação predial de esgoto, sendo eles o ramal de descarga, o ramal de esgoto e o ramal de ventilação. As definições são dadas a seguir:

a) Ramal de descarga: é a tubulação que recebe diretamente os efluentes dos aparelhos sanitários (NBR 8160/99). No caso das instalações prediais residenciais, são os trechos que recebem o despejo na bacia sanitária e os conduzem até o tubo de queda, e os trechos que recebem o despejo dos lavatórios e ralos secos e os conduzem até a caixa sifonada;

b) Ramal de esgoto: tubulação primária que recebe os efluentes dos ramais de descarga diretamente ou a partir de um desconector (NBR 8160/99). Um desconector é um dispositivo com fecho hídrico, ou seja, uma caixa sifonada;

c) Ramal de ventilação: tubo ventilador que interliga o desconector, ou ramal de descarga, ou ramal de esgoto de um ou mais aparelhos sanitários a uma coluna de ventilação ou a um tubo ventilador primário (NBR 8160/99).

A figura 01 apresenta as partes constituintes de uma instalação predial de um banheiro típico de apartamento:

Figura 01 – Partes constituintes de uma instalação predial de esgoto

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Fonte: Carvalho Júnior (2016)

Deve-se atentar para a grande quantidade de conexões embutidas nos ramais de um banheiro. Pastrello (2014) apresenta em seu trabalho um levantamento sobre a quantidade de conexões, sendo que banheiros entre 2,0 e 3,0m² apresentam em média 5 conexões por m² de banheiro. Do ponto de vista executivo, deve-se levar em consideração que há probabilidade considerável de falhas de execução nas conexões das instalações. De acordo com o estudo de Boschetti (2010), 16% dos problemas identificados nos ramais de esgoto foram detectados especificamente nas conexões.

Face esse cenário, apresenta-se a oportunidade de industrializar a montagem dos ramais (descarga, esgoto e ventilação), buscando-se minimizar a influência do fator humano no processo. No canteiro de obras, o conjunto desses três ramais recebe o nome de “aranha de esgoto”. A proposta é que os kits “aranha de esgoto” sejam preparados na indústria e tenham boa parte de suas conexões realizadas e testadas em ambiente controlado. Além disso, os mesmos podem ser fornecidos em embalagens individuais, identificados e acompanhados de todo o material necessário para o término da montagem no canteiro (abraçadeiras de fixação, etiquetas de identificação, lubrificante etc.).

A concepção do kit é baseada na transformação do projeto executivo de hidráulica em um projeto de produção, onde todas as conexões e medidas de cada trecho são detalhadas em tal projeto, dinamizando o trabalho na bancada. Embora o kit seja projetado para absorver alguma variação de posicionamento, a falha na locação dos pontos poderia culminar na impossibilidade de aplicação da aranha pré-montada. Para garantir o posicionamento das luvas e passantes hidráulicos na laje de concreto são feitas recomendações a seguir.

Projeto executivo de instalações hidráulicas

O projeto executivo é responsável por representar detalhadamente toda a tubulação e conexões utilizadas no ramal de esgoto e seu dimensionamento deve obedecer às normas vigentes. O material a ser aplicado é mostrado no memorial descritivo de instalações hidráulicas, que é parte integrante do projeto. O diâmetro das tubulações é apresentado na planta, ao passo que os componentes são representados graficamente e apresentados separadamente em uma folha exclusiva de legendas. A figura 02 mostra um exemplo de projeto de ramal de um banheiro:

Leia também: Projetos de sistemas prediais pedem atenção

Figura 02 – Exemplo de projeto executivo de um ramal de banheiro

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Fonte: SPHE (2019)

Detalhamento do “kit aranha” de esgoto

O projetista do kit geralmente é o próprio fornecedor dos materiais ou do sistema a ser utilizado. No caso de instaladoras bem estruturadas, que contam com um departamento interno de engenharia, esse trabalho pode ser desenvolvido pela própria instaladora. O projetista dos kits é responsável por identificar cada trecho do ramal com seu respectivo código comercial em uma tabela, e inserir também os comprimentos de cada trecho do ramal na planta. Essas informações orientam a produção dos kits na bancada de trabalho e sua montagem no canteiro de obras. A figura 03 detalha o projeto de um trecho do ramal em forma de kit:

Figura 03 – Exemplo de projeto de um kit aranha de esgoto

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Fonte: acervo do autor (2019)

Marcação de lajes

Para garantir as medidas das luvas e tubos passantes deve-se utilizar uma planta de marcação de laje para passagens hidráulicas, como mostrado na figura 04. Essa planta apresenta as medidas dos passantes em relação aos eixos de locação do prédio. Uma vez que as medidas para os diversos sistemas construtivos partem sempre em relação ao mesmo eixo, a aplicação desse conceito permite a montagem dos ramais de esgoto antes mesmo da execução da alvenaria do andar, proporcionando mais espaço de trabalho ao instalador.

Figura 04 – Exemplo de planta de marcação de passagens hidráulicas

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Fonte: ADDOR (2019)

No exemplo da figura 04, os pontos em vermelho representam os passantes de cada aparelho sanitário na laje (caixa sifonada, bacia sanitária, ralo seco e lavatório), ao passo que as setas pretas representam as medidas em centímetros em relação aos eixos de locação X e Y da edificação. A figura 05 apresenta um ramal de esgoto montado em canteiro a partir da locação dos pontos em laje por esse critério. Pode-se observar que a montagem do ramal referente ao pavimento superior foi concluída antes mesmo da elevação da alvenaria no andar de trabalho.

Figura 05 – Ramal de esgoto montado

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Fonte: o autor (2019)

A cultura de industrialização nos canteiros tem sido absorvida pelas grandes construtoras, que já colhem como fruto dessa prática a redução de mão de obra no canteiro, redução de prazos na execução das atividades e grande diminuição no desperdício de insumos.

Em relação à industrialização dos sistemas prediais de esgoto, o método apresenta grande potencial de ganhos para a execução da obra, porém exige boa fiscalização e controle dos sistemas que antecedem a montagem dos kits, principalmente no que diz respeito ao posicionamento dos passantes na laje de concreto. Pode agregar ainda ganhos na logística da obra, uma vez que os kits de um pavimento completo podem ser entregues no canteiro exatamente no momento de aplicação no andar, reduzindo os estoques em almoxarifados.

A mesma prática de industrialização de kits pode ser extrapolada para os outros subsistemas das instalações hidráulicas, como prumadas, shafts, distribuição de água fria e quente, entre outros.

Por fim, ressalta-se que as instalações hidráulicas ainda apresentam problemas patológicos significativos à percepção do usuário, após a entrega das obras, e merecem toda a atenção nas fases de projeto e execução, de forma a garantir o desempenho ao longo do tempo e propiciar uma manutenção adequada por parte do usuário.

Referências

BOSCHETTI, Luis Augusto. Análise das falhas pós-obra nos sistemas prediais de edifícios residenciais multipavimentos. 2010. 157 f. Dissertação (Mestrado) – Mestrado em Habitação: Planejamento e Tecnologia, Centro de Ensino Tecnológico, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, 2010.

CARVALHO JÚNIOR, Roberto de. Instalações hidráulicas e o projeto de arquitetura. 10. Ed. São Paulo: Blucher, 2016. 373 p.

PASTRELLO, Tatiane de Lima. Banheiros de apartamento: proposta de projetos das instalações prediais de esgoto. 2014. 137 f. Dissertação (Mestrado) – Mestrado em Habitação: Planejamento e Tecnologia, Centro de Ensino Tecnológico, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, São Paulo, 2014.

SPHE ENGENHARIA DE INSTALAÇÕES. Instalações Hidráulicas, projeto Atemporal Pompéia. São Paulo: SPHE, 2019. 37 f.

ADDOR E ASSOCIADOS. Projeto de Vedações, Atemporal Pompéia. São Paulo: ADDOR, 2019. 242 f.