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Critérios acústicos na escolha dos componentes de fachadas

Adriana Camargo de Brito, Marcelo de Mello Aquilino, Elisa Morande Sales, Laboratório de Conforto Ambiental do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo

Publicado em: 31/08/2020

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Coordenação técnica: Adriana Camargo de Brito
Comitê de revisão técnica: Adriana Camargo de Brito, Cláudio Vicente Mitidieri Filho, José Maria de Camargo Barros, Luciana Oliveira e Maria Akutsu
Apoio editorial: Cozza Comunicação

31/08/2020 | 14:15 A norma ABNT NBR 10152 (ABNT, 2017) estabelece que o nível de pressão sonora equivalente em dormitórios seja de 35 dB(A), valor propício para uma pessoa conseguir descansar. Para obter tal condição em apartamentos, o papel da fachada é fundamental, assim, os componentes que compõem as fachadas, como paredes e esquadrias, precisa apresentar, em conjunto, isolação sonora adequada.

O projetista precisa conhecer o nível de ruído residual da região da implantação do projeto, isto é, o ruído de fundo típico do local onde será construído o empreendimento, com base nisso determinar a classe de ruído, e a partir disso, especificar os componentes de fachada que potencialmente terão a isolação sonora requerida. A norma NBR 15575 apresenta valores limites mínimos para a isolação sonora de fachadas de dormitórios em função da classe de ruído do local, como indicado na Tabela 1. Em locais onde há maiores níveis de ruído é exigida maior isolação sonora da fachada e vice-versa. Entretanto, não são apresentados quais seriam os níveis de ruído representativos desses locais. Brito et al (2018) apresentam uma sugestão de valores para esses intervalos, considerando o atendimento da NBR 10152 para níveis de pressão sonora no interior de dormitórios, como indicado na Tabela 2. Caso haja situação na qual o nível de pressão sonora equivalente externo exceda tais valores, devem ser feitos estudos específicos para garantir que a isolação sonora da fachada permita que o ambiente atenda às exigências da norma NBR 10152.

Tabela 1 – Valores limites mínimos da D2m,nT,w da vedação externa de dormitórios para atendimento do nível “Mínimo” em função da classe de ruído externo

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Tabela 2 – Proposta de valores limites das Classes de Ruído externo e valores mínimos da isolação de fachadas de dormitórios (D2m,nT,w) para atendimento do nível “Mínimo” de desempenho acústico da norma NBR 15575 e NBR 10152 

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A classe de ruído de um empreendimento pode ser determinada por meio da realização de medições do nível de pressão sonora em vários pontos do perímetro do terreno, fornecendo uma ideia geral do ruído ambiental na região. Outra possibilidade é também fazer simulações computacionais da propagação de ruído ambiental considerando a volumetria da futura edificação, utilizando os dados das medições para ajustar as simulações.

Com as simulações consegue-se ter maior precisão dos resultados, identificando exatamente qual seria o nível de pressão sonora em cada fachada dos edifícios. A vantagem desse método é a possibilidade de escolher componentes e esquadrias diferentes em função do nível de pressão sonora identificado. Isso pode gerar economia nos custos de execução do empreendimento, visto que só serão utilizados componentes com isolação sonora maior que as típicas do mercado (e maior valor agregado) onde realmente são requeridas.

A seguir são apresentados procedimentos para identificação das classes de ruído das fachadas de um empreendimento habitacional para a escolha de esquadrias com isolação sonora adequada. Os dados da sua localização e data de realização do trabalho foram omitidos.

MÉTODO

Foram efetuadas medições externas, para determinar o nível equivalente de pressão sonora (LAeq), em seis pontos localizados no perímetro do terreno (Figura 1), além de se efetuar contagem de veículos leves e pesados que transitaram pelas vias durante o período de medições. As medições foram feitas em um dia de semana com movimentação típica do local, das 7h30min às 11h30min, aproximadamente.

Figura 1 – Esquema da implantação do empreendimento com a indicação dos pontos de medição e identificação das edificações por letras 

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A geometria do terreno do empreendimento e entorno (curvas de nível, edificações etc.) foi inserida em programa de simulação da propagação de ruído ambiental, SoundPlan. Os dados obtidos durante as medições foram utilizados para adequar o modelo eletrônico do referido programa. Foram previstos receptores de ruído em todas as fachadas, posicionados à meia altura do pé-direito do pavimento, com distância horizontal de 1 m entre si.

Foram determinados os níveis equivalentes de pressão sonora nas fachadas das edificações, obtendo-se a classe de ruído à qual está exposta cada fachada, selecionando-se o valor máximo do nível de pressão sonora equivalente identificado. Os referidos valores são apresentados em uma tabela, na qual as cores das células indicam a Classe de ruído ambiental incidente na fachada, da seguinte forma: células na cor verde correspondem à Classe I de Ruído; na cor amarela, Classe II e, na cor vermelha, representam a Classe III de ruído.

RESULTADOS

Os valores dos níveis de ruído equivalente (LAeq) obtidos nos pontos de medição são indicados na Tabela 3. Os valores dos níveis máximos de ruído equivalente obtidos nas simulações para cada fachada das edificações são apresentados na Tabela 4. Nas Figuras 2 e 3 são indicadas imagens dos intervalos de níveis de ruído equivalentes incidentes nas fachadas para ilustrar os resultados.

ANÁLISES E COMENTÁRIOS

É possível notar diferenças significativas entre os valores obtidos nas medições no perímetro do terreno e nas simulações que indicam valores dos níveis de pressão sonora nas fachadas. Os valores obtidos no perímetro não dariam segurança para se escolher esquadrias diferentes para cada fachada, por exemplo, o que só é possível a partir dos valores obtidos nas simulações.

Tabela 3 – Níveis de ruído equivalente obtidos nos pontos de medição durante os intervalos de 5, 10 e 15 minutos 

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Tabela 4 – Nível máximo de ruído equivalente (LAeq em dBA) para as fachadas dos edifícios em função de sua orientação geográfica

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Nota: Cor da célula: Verde: Classe I de Ruído / Amarela: Classe II de Ruído / Vermelha: Classe III de Ruído.

Figura 2 – Vista frontal do empreendimento e indicação dos intervalos de nível equivalente de ruído incidente na fachada

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Figura 3 – Vista do fundo do empreendimento e indicação dos intervalos de nível equivalente de ruído incidente na fachada 

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Além disso, observa-se que cada edificação está exposta a uma condição distinta em termos de ruído: a edificação “A” encontra-se em ponto menos ruidoso do terreno, enquanto a edificação “I” está posicionada em ponto com maior exposição ao ruído.

Considerando a fachada “Sul”, no edifício “A”, o nível de ruído é de 53 dB(A), Classe I, enquanto no edifício “I”, o nível de ruído é 62 dB(A), Classe III. A primeira fachada precisaria ter uma isolação sonora mínima de 20 dB, para atender as normas NBR 10152 e NBR 15575. Já a segunda, precisaria de uma isolação sonora acima de 30 dB para isso. Como em acústica as grandezas são logarítmicas, uma diferença de isolação sonora de 10 dB entre componentes é muito significativa.

Para entender melhor o que isso significa em termos de componentes construtivos, se as fachadas dos dormitórios, com área total de 6,24 m², fossem compostas por painéis maciços de concreto leve, com espessura de 10 cm, prevendo-se janelas com área de 1,80 m², ponderando-se os valores de isolação sonora dos elementos com suas áreas equivalentes, seria necessário utilizar esquadria com isolação sonora típica para habitações populares, da ordem de 16 dB na fachada sul do edifício “A” e janelas com maior isolação sonora, da ordem de 25 dB na fachada sul do edifício “B”.

Vale ressaltar que os valores citados para a isolação sonora das fachadas dependem também de questões relacionadas à qualidade da execução, deste modo, para que a edificação construída tenha as características projetadas, deve haver cuidados específicos na escolha dos componentes e na sua execução.

Referências

ABNT ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.

_______NBR 10152: Acústica - Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações. Rio de Janeiro, 2017.

_______NBR 15575: Edificações habitacionais — Desempenho. Rio de Janeiro, 2013.

BRAUNSTEIN BERNDT. User’s Manual Sound Plan 7.4. Backnang, Germany: BRAUNSTEIN BERNDT, 2015. 600p.

BRITO, A. C.; SALES, E. M.; AQUILINO, M. M; AKUTSU, M. Valores de referência para as classes de ruído previstas na norma NBR 15575. In: Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído. Foz do Iguaçu, 2018.

Colaboração técnica

Adriana Camargo de Brito – doutora em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo (USP) Mestre em Tecnologia do Ambiente Construído pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) e arquiteta formada pela Universidade Paulista (UNIP). Trabalha no Laboratório de Conforto Ambiental do IPT desde 2006, atuando em avaliações e consultorias nas áreas de desempenho térmico, acústico, lumínico e ergonômico de edifícios. Também é docente do curso de Mestrado em Habitação do IPT.
Marcelo de Mello Aquilino – físico formado pela PUC-SP com mestrado em tecnologia na construção de edifícios pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). Atualmente pesquisador do IPT vinculado ao Laboratório de Conforto Ambiental. Experiência de 32 anos na área de acústica e térmica. Professor do curso de mestrado do IPT.