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Empreender ou procurar emprego na construção civil?

Definição passa por questões práticas e objetivas, mas também pelo perfil pessoal e os sonhos para o futuro. Não há certo ou errado. Confira roteiro de perguntas para auxiliar a tomada de decisão

Publicado em: 07/06/2022

Texto: Eric Cozza

foto de dois homens se cumprimentando ao darem um aperto de mão
Construção civil possui problemas, oportunidades e desafios à vontade para profissionais em diferentes estágios de carreira. Decisão sobre empreender ou buscar uma colocação merece uma análise bem fundamentada. Sem modismos nem preconceitos (Foto: Shutterstock)

Você é um jovem recém-formado ou um profissional experiente? A dúvida sobre ter o próprio negócio ou buscar uma colocação no mercado corporativo já deve ter povoado seus pensamentos. Mesmo que a decisão, hoje, pareça óbvia, é algo para se refletir em diferentes fases da carreira.

Costuma-se dizer que o Brasil é o país do empreendedorismo. Exalta-se nossa criatividade e autoconfiança. Fala-se menos, entretanto, que muita gente é praticamente forçada a empreender por não encontrar mais opções no mercado de trabalho.

De outro lado, temos um ecossistema aquecido de startups, ‘prontas’ para oferecer novas soluções para dores recorrentes do setor. E olha que matéria-prima em termos de problemas, oportunidades e desafios não faltam na nossa construção civil, ainda atrasada em termos de industrialização e produtividade quando comparada aos países de Primeiro Mundo.

Aprender primeiro, antes de se expor a um risco mais elevado, é saudável para os jovens que planejam empreender
Arq. Salvador Benevides, consultor em reestruturação empresarial e gestão comercial

Mas e aí? O que fazer para tomar a melhor decisão? Confira um roteiro com sete perguntas que você deve fazer a si mesmo, para auxiliá-lo nesse processo. Vamos lá.

1) VOCÊ POSSUI, PELO MENOS, UMA EXPERIÊNCIA COMO EMPREGADO?

Conhecer os dois lados, como funcionário e como empreendedor, pode ajudá-lo a escolher melhor. Mais ainda: mesmo que você decida abrir seu próprio negócio, a experiência prática como empregado vai servir como base. “Aprender primeiro, antes de se expor a um risco mais elevado, é saudável para os jovens que planejam empreender”, afirma o arquiteto Salvador Benevides, consultor em reestruturação empresarial e gestão comercial, que já esteve nas duas situações: como empreendedor e como executivo na construção civil.

Conforto e estabilidade não existem mais, nem na vida corporativa
Eng. Paulo Oliveira, sócio-fundador da Aratau Construção Modular

2) QUAL É O SEU PERFIL PESSOAL E PROFISSIONAL?

Esqueça os estereótipos positivos ou negativos espalhados mercado afora e faça uma análise crítica e serena sobre o seu perfil: possui aversão à hierarquia, processos rígidos, reports constantes e restrições ao erro? Gosta de protagonismo e liberdade, mesmo que os desafios sejam imensos? Talvez o caminho do empreendedorismo seja interessante para você. Estabilidade, segurança e eventuais benefícios o atraem? Melhor pensar em uma colocação. São questões assim que você deve formular para si mesmo, sem modismos, mas também sem preconceitos. “Conforto e estabilidade não existem mais, nem na vida corporativa”, afirma Paulo Oliveira, sócio-fundador da Aratau Construção Modular, que fala com a experiência de mais de 30 anos de atuação em indústrias ligadas ao setor, construtoras e incorporadoras.

3) COMO ANDAM AS SUAS CONDIÇÕES FINANCEIRAS?

Aquelas histórias bacanas, heroicas, de ‘quebrei 10 vezes antes de acertar’ ou ‘vendi tudo o que eu tinha, fiquei na miséria, mas hoje estou fazendo IPO’ (initial public offering ou oferta inicial de ações, na Bolsa de Valores) são motivadoras e inspiram quem possui o perfil de empreendedor. Nesse quesito, porém, olhar para o próprio bolso antes de se aventurar é saudável quando se mora e trabalha no Brasil. Quebrar com dívidas fiscais ou trabalhistas não é brincadeira por aqui. Por isso, fazer as contas e ter clareza de quanto se pode arriscar são providências indispensáveis. É preciso saber ter dimensão da aposta e capacidade de honrar os compromissos assumidos.

As pessoas também perguntam: O que é uma construtech? Pode impulsionar sua carreira?

4) QUAL É O SEU ESTÁGIO DE VIDA E DE CARREIRA PROFISSIONAL?

Na sua área específica de atuação, pessoas da sua faixa etária são valorizadas pelos contratantes? Vale a pena procurar emprego? Ou você é jovem, tem alguma experiência, mas poucos compromissos ou amarras e está disposto a arriscar um pouco mais agora? Ou, ainda: não tolera mais a vida corporativa, mas já conquistou estabilidade financeira, condições e tem gana de empreender? São perguntas pertinentes relacionadas ao seu estágio de vida e ao momento da sua carreira. Não determinam a sua escolha, mas apoiam a reflexão.

5) QUAL É A MELHOR OPORTUNIDADE À VISTA?

As questões anteriores são relevantes, mas todas podem sucumbir por conta de uma grande oportunidade em cima da mesa, que pode estar tanto em uma iniciativa própria quanto em uma chance de emprego. “Certa vez, um amigo que estava começando a empreender recebeu o convite de uma grande empresa do setor para um cargo expressivo de liderança”, conta Benevides. “Pediu a minha opinião. Respondi de bate-pronto: vá correndo, aprenda muito, tenha essa experiência, mas não deixe a iniciativa morrer. Em algum momento, você pode retomá-la.” O contrário também pode ser verdadeiro. A oportunidade de empreender com uma solução inovadora, que você acredita e já teve a oportunidade de testar na prática, pode ser irresistível.

6) VOCÊ CONHECE O MERCADO ONDE PRETENDE ATUAR?

Premissa que vale tanto para o empreendedor quanto para o candidato às vagas no mundo corporativo. Não se pode desenvolver uma solução, prestar um serviço ou comercializar um produto sem estudar bem o mercado no qual se está inserido. E as chances de se empregar em uma companhia na qual não se conhece a cultura, os valores ou a área de atuação também são reduzidas. Isso é importante também para detectar oportunidades. Oliveira aponta, por exemplo, a necessidade de industrialização da construção civil brasileira como uma tendência. “A queda na produtividade do setor, observada nos últimos anos, é insustentável”, diz o fundador da Aratau. “Em um cenário de inflação setorial, alta da taxa de juros e falta de mão de obra, mesmo os profissionais e empresas mais conservadoras terão que reavaliar seus processos de construção”, completa. Fica a dica.

7) VOCÊ SERÁ UM PRESTADOR DE SERVIÇO OU VAI DESENVOLVER UM PRODUTO?

Atenção, pois são mundos completamente diferentes. No caso de um produto, a fase de planejamento é vital. “O início é duro, mas depois que você prototipou, testou e validou com o mercado, torna-se mais fácil”, afirma Oliveira. “Se for competitivo na gestão e nos controles, sempre de olho na jornada do cliente, a variabilidade é menor”, prossegue. No caso de serviço, manter a constância é o mais difícil. “A medição da temperatura do seu negócio junto aos clientes tem que ser intensa”, conclui o engenheiro. Por outro lado, a necessidade de investimento no caso de produtos, em geral, costuma ser maior. O valor da prestação de serviço costuma estar mais associado ao conhecimento, à expertise incorporada e/ou à experiência proporcionada aos clientes. A natureza do negócio que pretende abrir deve ser muito bem analisada antes de sair em busca de um CNPJ para chamar de seu.

Carreira: qual é a sua sugestão de tema para o nosso espaço dedicado aos profissionais de Engenharia Civil, Arquitetura e Construção?

Colaboração técnica

Paulo Oliveira – Engenheiro civil, PMP, MBA pela FIA-USP e mestrando em inovação na construção pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, é CEO da ARATAU Construção Modular. Dirigiu indústrias de produtos para construção e foi diretor de engenharia, de unidades de negócios e CEO de empresas de engenharia, construção e incorporação.
Salvador Benevides – Arquiteto com pós-graduação em administração de empresas, foi diretor e CEO de várias empresas do setor, como Simétrica, Formaplan, Pavi e Pinto de Almeida. Também foi sócio-diretor da Projeto Engenharia, especializada em gerenciamento de empreendimentos. Membro fundador do Comitê de Tecnologia e Qualidade do SindusCon-SP, foi superintendente do CB-002 (Comitê Brasileiro da Construção Civil) da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Atua hoje como consultor em reestruturação empresarial e gestão comercial.