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O que é uma biblioteca BIM?

Acervo de objetos ou componentes digitais utilizados no processo de modelagem 3D, pode ser encontrada nos softwares, fornecida por fabricantes de materiais e produtos para construção ou, quando não resta outra alternativa, desenvolvida pelos projetistas

Publicado em: 18/10/2022

Texto: Eric Cozza

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
BIM Fórum Brasil pretende colaborar com associações de fornecedores para a virtualização dos produtos, materiais e componentes, algo essencial para que projetistas e construtores possam trabalhar na era digital (Imagem da edificação: Shutterstock; desenho técnico e telas de objetos: INPrediais; montagem: Cozza)

A metodologia BIM (Building Information Modeling) vem se disseminando na construção, arquitetura e engenharia civil nacional. O movimento é perceptível em todo o mercado, mas com diferentes níveis de intensidade, dependendo do porte das empresas, do tipo de empreendimento a ser desenvolvido e, em especial, do interesse e nível de adesão das companhias.

Um dos assuntos que sempre chamou a atenção dos interessados no tema foi a questão das bibliotecas BIM. Acervos de objetos ou componentes digitais a serem utilizados no processo de modelagem 3D, são essenciais para o trabalho de projetistas e modeladores.

Permanecem, entretanto, algumas dúvidas no mercado: quem deve desenvolvê-las? Como deve ser a distribuição desse tipo de material? Como as empresas de projeto e construção devem utilizar as bibliotecas e organizar internamente esse tipo de conteúdo?

Para nos ajudar a entender melhor o assunto, convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil e projetista de sistemas prediais, Humberto Farina, vice-presidente do BIM Fórum Brasil e CEO da INPrediais. Confira abaixo a entrevista.

AECweb Responde – O que é uma biblioteca BIM e qual a sua utilidade?

Humberto Farina – A biblioteca é um conjunto de componentes, de objetos BIM. Resulta da digitalização de produtos empregados na construção, entre os vários tipos de materiais existentes. Esses objetos vão fazer parte do acervo de dados para a modelagem da informação dentro do software. Cada sistema pode ter uma forma de construir esses objetos. Alguns são feitos dentro do próprio software, a partir de uma parametrização interna, de uma determinada geometria e de parâmetros que correspondem ao produto real. Você representa esses materiais, de forma digital, por meio de uma construção tridimensional e da atribuição de parâmetros técnicos.

“Se a construção das bibliotecas for realizada por nós, usuários, há risco de erro tanto na composição geométrica quanto na introdução dos parâmetros. A gestão da informação pelos responsáveis diretos dos produtos é muito importante”
Eng. Humberto Farina

AECweb Responde – Quem desenvolve essas bibliotecas?

Farina – Há aquelas que chamamos de bibliotecas de sistema, pois são nativas dos softwares BIM, para a representação de paredes, de tubulações e de uma série de componentes necessários para uma modelagem básica. São bibliotecas configuráveis, internas aos softwares. E existem aquelas que são carregáveis no sistema para a utilização de determinado produto. Por isso, se espera que os componentes da construção civil sejam representados pelos fabricantes. Ou seja, que os fornecedores desenvolvam as bibliotecas. Isso é importante para que a informação sobre aquele produto não seja apenas uma cópia, a transcrição de um projetista que utilizou um catálogo para fazer aquele objeto, visando o uso imediato. É o que acontece, muitas vezes, por não termos a biblioteca disponível. Você usa uma geometria similar e atribui parâmetros copiados de catálogos, mas acaba sendo inconsistente. Para que haja consistência, precisamos beber direto da fonte, ou seja, da origem da informação. Aqueles objetos que vão ser aproveitados para extrairmos dados precisam estar coerentes com o produto de mercado. Se a construção das bibliotecas for realizada por nós, usuários, há risco de erro tanto na composição geométrica quanto na introdução dos parâmetros. A gestão da informação pelos responsáveis diretos dos produtos é muito importante.

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AECweb Responde – Em resumo, o papel dos fornecedores de materiais, produtos e tecnologias de construção no desenvolvimento desses componentes digitais é fundamental.

Farina – Sim, fundamental. Aquelas outras que mencionei, nativas dos sistemas, são mais básicas, mas também precisam ser avaliadas. É que muitas são simples: paredes e camadas de revestimentos, que você simplesmente aplica e atribui os nomes corretos. Para isso, temos algumas regras de construção. Existe um grupo de trabalho na CEE-134 – Comissão de Estudo Especial de Modelagem de Informação da Construção (BIM) na qual se discutem as informações que devem ser inseridas nos objetos, de acordo com os usos pretendidos. Há uma questão da linha de projeto, mas também uma abrangência para mais usos, por exemplo, de planejamento, orçamento, visualização e renderização. Podemos ter uma biblioteca de qualidade gráfica extrema, para um determinado uso ou uma outra mais simplificada, com uma qualidade de conteúdo técnico, por exemplo, para algum uso ligado à especificação e ao orçamento. É com essa visão que atua o grupo de trabalho da norma: conseguimos segregar os grupos de informação necessários para cada uso. Isso já está sendo trabalhado há um bom tempo e vai dar muita base para o mercado atuar na construção dos seus próprios objetos, com uma certa racionalização. Por enquanto, os fabricantes fizeram e fazem da melhor forma possível, mas no entendimento deles. Não estou dizendo, com isso, que são objetos ruins. Há muita coisa bacana. Mas ainda sem uma regra pactuada entre todos.

“Existe uma necessidade de gestão: tanto do fabricante que vai disponibilizar a biblioteca, garantindo que ela representa os produtos que estão em linha, com todas as informações técnicas, quanto do projetista, que precisa gerir o que usa, para não correr o risco de empregar um componente defasado”
Eng. Humberto Farina

AECweb Responde – Como os profissionais e as empresas, da porta para dentro, principalmente no caso de projetistas, construtoras e incorporadoras, devem organizar e utilizar esses modelos, os componentes digitais?

Farina – Essa questão é tão boa quanto difícil de responder. Não dá para apontar uma única maneira, pois não há fórmula pronta. Mas entendemos que passa por estruturação de banco de dados. A partir do momento em que você tem uma organização, pode ter arquivos que contém esses objetos de forma facilitada para o uso. Outros optam por fazer um armazenamento na web, na nuvem. Tudo isso parte do pressuposto de que você precisa de uma organização, tal como se fosse um sistema interno da qualidade, no qual você tem procedimentos e dados que vai utilizar. Então, a melhor forma é ter isso bem gerenciado e cuidado. Também é importante ter um olhar constante sobre as bibliotecas dos fabricantes que você utiliza com frequência, pois eventuais mudanças, caso existam, precisam ser acompanhadas. Há, portanto, uma necessidade de gestão: tanto do fabricante que vai disponibilizar a biblioteca, garantindo que ela representa os produtos que estão em linha, com todas as informações técnicas, quanto do projetista, que precisa gerir o que usa, para não correr o risco de empregar um componente defasado. Isso acarreta para o modelador e as empresas que empregam esses objetos uma necessidade de organização forte, para que esse conteúdo seja consistente. Para uso tridimensional, de compatibilização, talvez se exija menos, pois o mais importante é a questão geométrica. Agora, a partir do momento que você usa as informações para outros fins, tornam-se importantes a padronização das informações, os parâmetros utilizados, a classificação e a codificação. Por exemplo, em um uso de quantificação, de orçamento: se você não tem um regramento, pode aparecer qualquer natureza de informação dentro da modelagem. Na prática, o que ocorre? As empresas acabam tendo que estabelecer algumas regras próprias. Fazem filtros daquela informação, a codificam e, por vezes, exigem que o projetista altere todos os parâmetros do seu modelo. É algo que gera um certo desgaste para quem trabalha com isso, pois cada cliente traz uma nova regra a ser exigida. Por isso, precisamos da padronização, para que as coisas caminhem em um fluxo melhor. Hoje, estamos nessa fase: há muita coisa para ser desenvolvida. No BIM Fórum Brasil, temos iniciativas setoriais para um trabalho de produção de bibliotecas, auxiliando os fabricantes no entendimento de que a informação é deles e que precisamos da virtualização dos produtos para trabalhar na era digital. Estamos trabalhando em manuais, no desenvolvimento de facilitadores e com ações juntos às associações de fabricantes de materiais, para oferecer um suporte mais abrangente para todos os fornecedores.

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Colaboração técnica

Humberto Farina – Graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com mestrado pela mesma instituição, é diretor da INPrediais, atuando em consultoria e inovações tecnológicas na área de engenharia de sistemas prediais e infraestrutura. Professor convidado de cursos de extensão e educação continuada da Poli-USP, é especialista em sistemas prediais hidráulicos, de energia, de telecomunicações e de prevenção e combate a incêndio. Vice-presidente do BIM Fórum Brasil.