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O que é método do caminho crítico no planejamento de obras?

Técnica permite identificar no cronograma as atividades críticas, que não devem sofrer atrasos, sob pena de prejudicar o prazo de entrega da obra. Considerada substituível por alguns profissionais, metodologia segue em pleno uso no Brasil e no Exterior

Publicado em: 14/02/2023

Texto: Eric Cozza

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
Toda construção é formada uma grande rede de atividades. Entre o início e o final da obra, há uma série delas, em sequência, com vários roteiros possíveis para se chegar ao final. O caminho crítico é, simplesmente, o mais longo deles. O profissional deve saber identificar as tarefas críticas para evitar atrasos com impacto no cronograma geral (Imagem: Shutterstock. Montagem: Cozza)

Quem trabalha com planejamento e gestão de obras já deve ter ouvido falar em caminho crítico. Trata-se de um método capaz de identificar quais são as tarefas e atividades previstas que não podem sofrer atrasos em um canteiro de obras, sob pena de severos prejuízos ao cronograma do empreendimento.

Muitos profissionais na construção civil costumam associar o caminho crítico, em geral, somente às atividades em atraso. Mas será que é isso mesmo? Há também quem possua algumas reservas em relação à sua aplicação na construção civil, principalmente entre adeptos da lean construction ou construção enxuta. Será que faz algum sentido?

Para nos ajudar a entender melhor o conceito do caminho crítico no planejamento e controle de obras, nós convidamos para o podcast AEC Responde o arquiteto João Petrocelle, diretor associado da Turner e Townsend Brazil, com mais de 25 anos de experiência no controle do prazo e custo de obras, atuando em construtoras, incorporadoras e gerenciadoras. Confira, a seguir, a entrevista.

AEC Responde – O que é o método do caminho crítico no planejamento de obras?

João Petrocelle – O método do caminho crítico é a origem de tudo aquilo que denominamos por gerenciamento de projetos. É uma técnica de descobrir, no cronograma de obras, ou em outro qualquer, quais são as atividades críticas, que acabam por determinar a duração total de um projeto. É um método para determinar, dentro de um cronograma, quais são as atividades que possuem, ou não, folga. Imagine um cronograma com muitas atividades e tarefas. Quem gerencia 3000 tarefas, na verdade, não faz a gestão de nenhuma. É preciso identificar quais são as importantes, ou seja, aquelas que vão determinar o prazo total da obra. Então, imagine que, em um cronograma de 3000 tarefas, nós vamos encontrar algo como 300, 400 ou 500 críticas, que são prioritárias, capazes de determinar a duração da obra. A sequência dessas tarefas, por terem maior extensão, correspondem ao prazo final de entrega.

“Entre o início e o final da obra (...) abre-se um mundaréu de tarefas em formato de rede, em sequência, com vários caminhos para chegar ao final. O caminho crítico é, simplesmente, o mais longo deles."
Arq. João Petrocelle

AEC Responde – Como o profissional consegue identificar as atividades críticas e as não críticas?

Petrocelle – Quando eu comecei, era um processo feito manualmente. Possuímos grandes diagramas escritos à mão. Chamávamos de AON, do inglês, activity-on-node ou, em português, atividade em nós. Eram grandes quadradinhos. A beleza desse instrumento é que se trata de uma conta matemática, que usa o algoritmo do passo à frente. Vamos somando as atividades e voltando também. Trata-se de um processo um pouco complicado de descrever aqui mas, hoje em dia, tudo isso já está resolvido nos softwares – basicamente, nas atividades paralelas. Vamos dar um exemplo de um cronograma bem simples. Pense que vamos construir um prédio comum no mercado, de 25 andares. Nós temos três grandes fases de obra: infraestrutura, superestrutura e acabamento. Infraestrutura tem algo como 3 meses. Para a fase de estrutura, são 6 meses e acabamento 10 meses. Então, 3 + 6 + 10, são 19 meses. Agora, imagine que, junto com a fase de estrutura, nós vamos executar uma tarefa em paralelo que, ao invés dos seis meses da estrutura, vai levar 5 meses. Essa atividade de instalações não está no caminho crítico. Os cinco meses, se forem iniciados junto com a estrutura e executados dentro do prazo da estrutura, não serão um problema. Porém, são críticas as 3 atividades que eu mencionei no início: infraestrutura, estrutura e instalações. Agora, aquela atividade executada em paralelo à estrutura, com um prazo menor, não é considerada crítica. O engenheiro dessa obra deve ficar de olho nessas três atividades principais e cuidar um pouquinho da instalação, mas apenas para que ela não atrase mais do que a estrutura. Se não atrasar mais do que estrutura, não será crítica.

“Não creio que o método perdeu toda a força. Por exemplo, quando nos envolvemos em atividades de perícia e arbitragem e temos que analisar atrasos de obras, a única, a maior, a principal ferramenta que empregamos é o caminho crítico. E não foi substituída ainda”
Arq. João Petrocelle

AEC Responde – Mas há uma rede de dependências entre as atividades, não é? Poderia explicar um pouco esse conceito?

Petrocelle – Um cronograma de obras, na verdade, não é tão simplificado como mencionei no exemplo anterior. São muitas atividades, que começam com a infraestrutura, terraplenagem, escavação, tirantes, fundações profundas, estacas, blocos, lajes, pilares. E assim nós vamos construindo uma rede de precedência lógica. Primeiro as atividades de infra, depois as atividades de estrutura e, assim, nós vamos ligando cada uma delas. Antigamente, fazíamos isso manualmente, com setinhas, bolinhas e quadradinhos. Desenvolvíamos toda a lógica da construção. Hoje em dia, nós utilizamos softwares para isso e vamos conectando as atividades. Então, a construção, como um todo, forma uma grande rede que começa com uma atividade e termina com outra, lá no fim. Entre o início e o final da obra, no meio de tudo isso, abre-se um mundaréu de tarefas em formato de rede, em sequência, com vários caminhos para chegar ao final. O caminho crítico é, simplesmente, o mais longo deles. Ou seja, uma linha que passa por todos eles, com as atividades de maior duração.

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AEC Responde – Alguns profissionais possuem reservas em relação ao método do caminho crítico. Dizem que outras metodologias como, por exemplo, a linha de balanço, permitem que eventuais atrasos sejam previstos desde o início. Essa crítica – em geral, associada aos adeptos da lean construction – faz sentido na sua visão?

Petrocelle – Parcialmente, sim, mas eu prefiro uma abordagem um pouco mais holística, na qual empregamos o lado bom de todas as metodologias. Um grupo do pessoal da lean construction – não são todos – não gosta muito da metodologia do caminho crítico. Dizem que foi desenvolvida nos anos 1950 pelo pessoal da DuPont e da marinha norte-americana, com foco em projetos especiais, para gerenciar contratos. Ou seja, para o gestor da obra poder gerenciar os subcontratados de estruturas, de alvenaria, de instalações, para poder ter uma maneira de acusar quem estava atrás no processo. Seria, então, uma coisa mais conflituosa e não colaborativa. Eu sou muito fã da linha de balanço, que apresenta outras facilidades e abordagens como, por exemplo, em relação à produtividade – algo que o caminho crítico não vai mostrar. Agora, eu não acredito que seja uma análise a ser considerada integralmente. Não creio que o método perdeu toda a força. Por exemplo, quando nos envolvemos em atividades de perícia e arbitragem e temos que analisar atrasos de obras, a única, a maior, a principal ferramenta que empregamos é o caminho crítico. E não foi substituída ainda. Então, quando você tem uma obra que atrasou e acabou indo para uma situação de perícia judicial ou de arbitragem, na qual é necessário determinar a responsabilidade pelo atraso, a ferramenta que o perito vai utilizar é o caminho crítico. Se ela fosse tão ruim ou obsoleta, não seria utilizada no mundo inteiro hoje em dia. E ainda é – e muito. Não acho, portanto, que a crítica procede integralmente.

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Colaboração técnica

João Petrocelle – PMP, MRICS, arquiteto com pós-graduação em administração de empresas e economia financeira aplicada pela FGV. Também é graduando em direito pelo Mackenzie (2023). Possui 25 anos de experiência no controle do prazo e custo de obras, atuando em construtoras, incorporadoras e gerenciadoras. Pesquisador e articulista de metodologias e técnicas como PMBOK, corrente crítica e lean construction. Professor de planejamento de obras do curso de pós-graduação em gerenciamento de obras do Instituto Mauá de Tecnologia. Diretor associado da Turner e Townsend Brazil, responsável pela área de gerenciamento de custos.