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Como melhorar o conforto acústico em escolas?

A preocupação acústica em obras novas é fundamental para evitar futuras correções, que serão mais caras e menos eficientes. No caso de reformas, é importante avaliar a necessidade específica de cada ambiente preexistente

Publicado em: 07/02/2024

Texto: Eric Cozza

Você já pensou que boa parte do processo de aprendizagem em uma sala de aula passa por falar e escutar? Ouvir e ser ouvido, conseguir explicar e compreender uma explanação são elementos cotidianos para professores e alunos.

O desempenho acadêmico de uma turma pode, inclusive, ser bastante prejudicado pela condição acústica do ambiente, devido às eventuais dificuldades de comunicação.

Mas como controlar o nível de ruído em ambientes escolares e de aprendizado? Quais são os aspectos de projeto e de especificação de materiais e componentes que precisam ser observados?

Para falar sobre o assunto, nós convidamos para o podcast AEC Responde a arquiteta Paula Omizzolo, gerente técnica e de especificação da Knauf Ceiling Solutions. Ouça o áudio e/ou leia entrevista, a seguir:

AECweb – Como melhorar o conforto acústico nas escolas e nos ambientes de aprendizagem?

Paula Omizzolo – Devemos aplicar alguns tipos de soluções acústicas nos diferentes ambientes. Em uma sala de aula, por exemplo, precisamos condicionar o som. Ou seja, trabalhar com revestimentos acústicos que possam diminuir, por exemplo, o tempo de reverberação, proporcionando qualidade acústica interna para a sala de aula. Podemos fazer isso a partir do uso de materiais absorventes, mais fofos e porosos, como um forro removível, que costuma melhorar a absorção sonora, diminuir o tempo de reverberação e oferecer uma qualidade acústica dentro do ambiente. As pessoas se sentem mais confortáveis naquele espaço. Agora, se precisarmos isolar o som, se temos que impedir a passagem de ruído, devemos trabalhar com materiais mais densos, para diminuir a transmissão de um ambiente para o outro. Na frente da sala, por exemplo, onde o professor fala, costumamos trabalhar com materiais mais reflexivos, porque precisamos que o som bata naquele material e seja levado para o fundo da sala. Já na metade da sala para trás e nos fundos, normalmente, utilizamos materiais de maior absorção sonora, para que o som não volte para a frente. Mas, claro, existem vários tipos de ruído dentro de um ambiente escolar, que demandam soluções específicas.

“O som é como a água: onde há uma fresta, ele passa. E daí acabamos perdendo alguns decibéis em uma pequena abertura e o projeto como um todo pode fracassar”
Arq. Paula Omizzolo

AECweb – O fator de reverberação, que você mencionou, é importante, mas não é o único, certo? Quais são os principais parâmetros que devem ser observados para saber se uma edificação escolar atende aos requisitos necessários de conforto acústico?

Paula Omizzolo – O tempo de reverberação é um dos parâmetros a serem levados em consideração porque, quando o controlamos, deixamos o ambiente mais confortável e conseguimos fazer com que as pessoas tenham o que chamamos de inteligibilidade da fala. Há, inclusive, um índice de transmissão da fala, o STI. Mensura o quanto é falado e compreendido pois, muitas vezes, as crianças até escutam, mas não conseguem compreender a mensagem, porque há reflexão muito grande do som. Ouvem, mas não conseguem entender o que foi dito. Então, precisamos levar em consideração a reverberação, a inteligibilidade da fala. Em uma sala de aula com cerca de 300 m³, o tempo de reverberação, para que tenhamos uma boa inteligibilidade, deve girar em torno de sete segundos. Devemos considerar também o isolamento acústico, para o qual existem outros índices, como o Rw, o índice de redução sonora ponderado.

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AECweb – Um outro receio dos profissionais refere-se à argamassa de assentamento. Há alguma especificidade quando se trabalha com grandes formatos?

Manetti – Sim, existe. Às vezes, as pessoas gastam R$ 1000 em uma placa e, na hora de escolher uma argamassa, consideram caro um produto de R$ 100 e acabam optando por outro de R$ 40, R$ 30 ou até R$ 20. Aí começam os problemas. Quanto maior a placa, menos rejunte você tem. Quando você trabalha com placas pequenas e há uma trinca no meio da sala, provavelmente, ela vai andar pelo rejunte, que vai trincar ou microtrincar e aquilo não vai incomodar. Quando eu assento uma placa grande, essa mesma trinca pode ficar na placa. A função dessas argamassas especiais é, justamente, de absorver essa trinca e não deixar ela passar para o porcelanato. Trincas pequenas conseguem ser absorvidas. Ocorre que, infelizmente, no Brasil, temos uma nomenclatura muito ruim, de argamassa colante. Chamamos de AC-I, AC-II e AC-III. Só que existe uma gama enorme acima da AC-III fora do País. Alguns fabricantes já têm utilizado as normas europeias, que incluem modelos acima da AC-III, capazes de absorver trincas ou movimentações entre 5 a 10 mm. É quase uma borracha. É mais caro, mas vai proteger aquele patrimônio. Outra questão se refere ao instalador. As argamassas para placas gigantes são mais moles, exatamente para permitir o arraste da placa e facilitar a instalação. Essas argamassas são mais fluídas e é importante que o instalador leia na embalagem quantos litros de água devem ser adicionados na mistura. Afinal, não adianta nada a indústria produzir uma argamassa mais fluída para facilitar o trabalho do instalador e, na hora do assentamento, ele colocar menos água sem nenhum critério, no olho, simplesmente porque gosta da argamassa mais seca. É um erro enorme, mas muito comum. É fundamental ler a instrução que está na embalagem. Se aquela argamassa não proporciona o desempenho e a produtividade que você precisa, é simples: troque a argamassa, mas não a quantidade de água.

“Primeiro, é necessário fazer um estudo do local, realizar medições e simulações em relação à fachada para, depois, pensar nas vedações, no tipo de parede, de janelas, portas e cobertura. Você deve avaliar o desempenho de cada um desses elementos a partir do Rw, o índice de redução sonora”
Arq. Paula Omizzolo

AECweb – Nos grandes centros urbanos, o ruído gerado pelo tráfego de veículos costuma ser um problema para os ambientes escolares. Como o isolamento acústico das fachadas pode reduzir esse impacto?

Paula Omizzolo – Tanto a fachada quanto a cobertura, devem ser projetadas para ter um bom isolamento acústico e atender a Norma de Desempenho (NBR 15575) e a Norma 10152 (“Acústica – Níveis de pressão sonora em ambientes internos a edificações”). Primeiro, é necessário fazer um estudo do local, realizar medições e simulações em relação à fachada para, depois, pensar nas vedações, no tipo de parede, de janelas, portas e cobertura. Você deve avaliar o desempenho de cada um desses elementos a partir do Rw, o índice de redução sonora. A partir do momento em que você projeta a fachada, a cobertura e a porta, você consegue reduzir o som que vai ser passado para dentro da sala de aula. Precisamos pensar em todos esses elementos: o tipo de vedação, a porta, o Rw da janela e da parede e fazer um cálculo de todos os elementos. O som é como a água: onde há uma fresta, ele passa. E daí acabamos perdendo alguns decibéis em uma pequena abertura e o projeto como um todo pode fracassar. Por isso, é importante levar em consideração todos esses elementos. Fazer as simulações para verificar, de fato, a eficiência do conjunto. O ruído externo de aviões, veículos e pessoas na rua... afinal, tudo isso impacta diretamente dentro do ambiente escolar e faz com que as crianças percam concentração na sala de aula.

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AECweb – Quais são as principais diferenças de abordagem da questão acústica em escolas quando se trata de uma obra nova e, de outro lado, quando falamos da reforma de um ambiente preexistente?

Paula Omizzolo – Quando se trata de um projeto novo, primeiro, você vai estudar aquele espaço. Vai examinar o terreno e pensar a implantação da escola. A partir daí, você já consegue evitar muitos problemas acústicos. Você sabe onde vai colocar, por exemplo, as salas de aula que precisam ser mais silenciosas, onde ficarão a quadro e o pátio. Tudo isso você consegue desenvolver a partir do projeto, no caso de uma obra nova. Você vai projetando e especificando soluções específicas para as necessidades de cada um desses ambientes: o tipo de vedação para a fachada, a parede que você vai colocar entre as salas, o tipo de forro acústico dentro das salas de aula. Consegue pensar previamente. Mas e quando a escola já está pronta e não houve todos esses cuidados anteriormente? Você vai precisar solucionar algo que já está prejudicando aquele espaço. E nem sempre a solução é simples e será tão eficiente. Muitas vezes, você acaba tendo um custo maior, porque isso não foi pensado antes. Quando falamos, por exemplo, de condicionamento acústico, ou seja, de melhorar o tempo de reverberação dentro de uma sala de aula, não se trata de uma interferência muito difícil. Conseguimos fazer rapidamente, pensando em um forro acústico ou em um revestimento de parede para o fundo da sala. São soluções fáceis de adaptar, de adequar em um ambiente preexistente. Agora, quando você tem, por exemplo, um problema de ruído ou uma questão de fachada que não foi projetada adequadamente, as soluções se tornam um pouco mais complexas e caras. Por isso, é importante sempre avaliar a necessidade específica de cada ambiente preexistente para saber até onde uma boa especificação será capaz de reduzir o problema. Muitas vezes, dá para resolver, principalmente nessas demandas de condicionamento. É possível, sim, adotar algumas soluções, mas obviamente que, em se tratando de um projeto pensado desde o início, as alternativas são sempre melhores e menos custosas.

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Colaboração técnica

Paula Omizzolo  – Arquiteta e urbanista formada pela FAAP, pós-graduada em neuroarquitetura e arquitetura sustentável e bioecológica, com especialização em acústica de edificações pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Com 15 anos de experiência na área, é responsável pela gerência técnica e de especificação da Knauf Ceiling Solutions na América Latina.