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Como impermeabilizar com mantas asfálticas?

Cuidados começam com a contratação de um bom projeto, passam pela especificação correta da manta e a escolha do aplicador, além da preparação adequada da superfície e a fiscalização da execução. Confira seis requisitos indicados por um especialista

Publicado em: 13/03/2023

Texto: Eric Cozza

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
Impermeabilização com manta asfáltica dificilmente terá sucesso nas mãos de mau aplicador. A fiscalização do serviço pelo engenheiro de obra também é muito importante. E garantir que, ao término do serviço, um empreiteiro não decida, por exemplo, bater um prego para puxar um fio de alinhamento, danificando a impermeabilização (Imagem: Shutterstock)

As mantas asfálticas são uma das principais alternativas técnicas para a impermeabilização de lajes, piscinas e terraços, entre outras áreas de uma edificação.

A decisão pela melhor opção para cada obra será realizada de acordo com o projeto de impermeabilização que, muitas vezes, infelizmente, acaba sendo negligenciado por algumas empresas e profissionais.

Feita a opção pelo sistema, são necessários alguns cuidados, que vão desde a escolha adequada da manta asfáltica, passando pela preparação da superfície até os procedimentos de execução.

Para nos ajudar a entender melhor o assunto, nós convidamos para o podcast AEC Responde um especialista em sistemas de impermeabilização, patologia em edificações, recuperação e reforço estrutural, o engenheiro civil e professor José Eduardo Granato. Confira a entrevista a seguir.

AECweb – O que é uma manta asfáltica e quais são as aplicações mais comuns na impermeabilização?

José Eduardo Granato – A manta é composta por alguns elementos, como o asfalto, que pode ser modificado com polímeros de variados tipos, para que se garanta algumas características importantes, que estão previstas na norma técnica NBR 9952. As mantas são divididas em tipo 1, 2 e 3 – que devem ter espessura mínima de 3 mm – e tipo 4, que deve ter 4mm. Essa divisão dos tipos de mantas está relacionada à resistência à tração, na ruptura e o alongamento. Cabe ao projetista definir qual tipo de manta será apropriada em função das necessidades de resistência às cargas as quais estará submetida. Os principais usos são, de fato, lajes de cobertura, lajes térreas e piscinas. Também em algumas situações de usos especiais em fundações, canais de irrigação, lagoas e até estações de tratamento de esgoto em solo, em fazendas. No Brasil, nós temos um consumo anual entre 25 e 30 milhões de metros quadrados. No mundo, o consumo anual é de 9 bilhões de metros quadrados. Trata-se do produto mais utilizado em todo o mundo para as impermeabilizações técnicas.

“Nós temos algumas formas de aplicação de manta asfáltica. No Brasil, a mais comum é com a chama de maçarico de gás GLP, que aquece a manta para fazer a colagem no substrato”
Eng. José Eduardo Granato

AECweb – Quais são os cuidados na preparação da superfície?

Granato – São praticamente os mesmos de outros sistemas de impermeabilização. Há necessidade, no caso de uma laje, por exemplo, de fazer uma argamassa de regularização com caimento mínimo de 1% em direção aos ralos. Ou seja, uma regularização com argamassa de cimento e areia sobre um substrato lavado, bem limpo. Infelizmente, muitas vezes, o contrapiso é feito em cima de sujeira, barro etc., o que impede uma boa aderência. Existe um rebaixo feito também nos ralos para que, quando você for aplicar a manta – e normalmente são feitos dois ou três reforços – não haja água acumulada em volta do ralo. Então, deve haver um rebaixo de, pelo menos, mais um centímetro e dez milímetros. Além do arredondamento dos cantos vivos, a manta deve subir, como os demais produtos impermeabilizantes, pelo menos 20 cm acima do nível do piso acabado. Normalmente, esses são os preparos básicos. Agora, se houver mudança de planos, há necessidade de arredondamento. Se há pontos de ferro, de amarração de fôrma e outros materiais, ninhos de concretagem, tudo isso tem que ser previamente reparado. Porque a manta possui uma certa fragilidade perto de outros elementos mecânicos da edificação. Precisa, realmente, ser aplicada em um berço, numa base bem adequada.

“Se for uma manta asfáltica com argamassa de proteção mecânica ou um piso acabado – ou seja, onde a manutenção é possível somente com a quebra do revestimento –, a vida útil de projeto mínima deve ser de 20 anos."
Eng. José Eduardo Granato

AECweb – E na execução? Detalhes como a sobreposição das mantas, a selagem das emendas e dos cantos são relevantes?

Granato – Sim. Nós temos algumas formas de aplicação de manta asfáltica. No Brasil, a mais comum é com a chama de maçarico de gás GLP, que aquece a manta para fazer a colagem no substrato. Existe uma outra maneira de fazer, que consiste em colar a manta com asfalto modificado. Você tem um aquecedor de asfalto, a uma temperatura entre 180 e 200°C, para colar a manta no substrato. Existe uma terceira, normalmente vendida no mercado de varejo, que é uma manta autoadesiva. Há um adesivo na parte inferior e um filme siliconado para permitir a colagem. Antes de executar a manta, normalmente, se aplica um prime, que pode ser uma solução ou uma emulsão asfáltica. Feito isso, você deve fazer o alinhamento da manta, normalmente começando a aplicação na região dos ralos em direção às partes superiores. São desenroladas duas, três ou quatro bobinas e se faz um alinhamento para garantir uma sobreposição mínima de 10 cm nas emendas. Você enrola novamente a manta e começa a aplicar na sequência dos ralos para as partes mais altas. Se for com maçarico, você vai aplicando a chama na parte inferior da manta e, assim, vai desbobinando. E aí faz as outras sequências, sempre com a sobreposição também de 10 cm, chegando até a região da meia cana, da relação piso parede, subindo ligeiramente aí uns 10 cm acima. Se for com asfalto a quente, normalmente, o material que está no aquecedor é recolhido em um balde e o aplicador vai despejando com uma ferramenta chamada meada, como se fosse um vassourão de pano, espalhando o asfalto. Imediatamente, ele vai desbobinando a manta asfáltica para fazer a colagem dela no substrato. E faz a mesma coisa nas emendas, na segunda manta. E, depois, se aplica uma demão a mais de asfalto aquecido nas emendas. O projeto pode, eventualmente, solicitar um banho de asfalto em toda a área impermeabilizada.

“Primeiro: um bom projeto. Segundo: uma boa qualidade de construção. Aplicar em um concreto malfeito, em alvenaria trincada, não vai dar certo. Terceiro: escolher uma manta asfáltica de boa qualidade”
Eng. José Eduardo Granato

AECweb – Quais são as principais normas técnicas relacionadas? E a importância da contratação do projeto de impermeabilização?

Granato – As mantas são normalizadas pela NBR 9952, sendo a última edição de 2014. Em relação ao projeto, a própria norma NBR 15575, a Norma de Desempenho, exige ou recomenda a elaboração de um projeto de impermeabilização. Porque, afinal, as mantas não são todas iguais. Nós temos, inclusive, aquelas com acabamento em alumínio e ardósia, que podem ficar expostas. O projetista deve preparar um estudo de necessidade, de aplicação entre os diferentes tipos de mantas disponíveis e definir a vida útil dessa impermeabilização. A NBR 15575 prevê a definição de vida útil pelo projetista. Se for uma manta asfáltica com argamassa de proteção mecânica ou um piso acabado – ou seja, onde a manutenção é possível somente com a quebra do revestimento –, a vida útil de projeto mínima deve ser de 20 anos. No caso de classificação da edificação no nível intermediário da norma, a vida útil deve ser de 25 anos. E, para o nível superior da NBR 15575, são 30 anos. Quando a impermeabilização é manutenível sem a quebra do revestimento, a vida útil prevista pela norma é 8 de anos para o nível mínimo, 10 anos para o intermediário e 12 anos para o superior. São critérios de norma que precisam ser bem executados.

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AECweb – Quais são, então, em resumo, os principais requisitos para uma boa impermeabilização?

Granato – Considero seis requisitos importantes para uma boa impermeabilização. Primeiro: um bom projeto. Segundo: uma boa qualidade de construção. Aplicar uma manta em um concreto malfeito, em alvenaria trincada, não vai dar certo. Terceiro: escolher uma manta asfáltica de boa qualidade, de procedência confiável. Existem excelentes fábricas no Brasil, mas também há aquelas que trabalham com máquinas adaptadas, de menor porte, com asfaltos ruins. Quarto: temos sempre que procurar um bom aplicador. Você não vai ter sucesso com um mau profissional, com uma empresa que atua na improvisação. Quinto: fiscalização. Não somente da empresa executora, mas também da obra, do engenheiro residente. Infelizmente, hoje, esse profissional possui pouco tempo disponível para isso. E sexto: a preservação da impermeabilização. Evitar que, ao terminar o serviço, um outro empreiteiro venha, por exemplo, bater um prego para puxar uma linha. Se você tiver esses cuidados e, ao entregar a obra para o proprietário, apresentar um guia de manutenção da manta asfáltica, para ele não danificar a impermeabilização quando for trocar um gradil ou instalar uma antena de TV... se você cuidar de todos esses fatores, aquela vida útil prevista em projeto certamente vai ser cumprida. Agora, basta uma dessas falhas, um desses requisitos furar e acabamos perdendo a impermeabilização.

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Colaboração técnica

José Eduardo Granato – Engenheiro civil formado pela Universidade São Francisco, é especialista em sistemas de impermeabilização, patologia de estruturas e edificações, tratamento de concreto, revestimentos, pinturas, isolação térmica, recuperação e reforço estrutural, pisos industriais e aditivos para concreto. Membro do Comitê de Impermeabilização e Isolação Térmica da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), é professor e coordenador de cursos técnicos relacionados às áreas de patologia da construção e impermeabilização. Apresentou mais de 20 trabalhos técnicos em congressos no Brasil e no Exterior.