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Veja como a Tegra Incorporadora está lidando com a pandemia de Covid-19

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Em podcast ao Portal AECweb, o diretor Angel Ibanez conta que o abastecimento de materiais está normal. Porém, o segmento de serviços foi prejudicado e a importação de produtos inviabilizada

18/05/2020 | 15:53 - A Tegra Incorporadora, empresa de desenvolvimento imobiliário residencial, comercial e urbano da Brookfield Brasil, tem hoje 21 canteiros distribuídos entre a capital paulista, Campinas e Rio de Janeiro. Nessas obras, o fornecimento de serviço é o mais impactado, pelo afastamento de profissionais com sintomas relacionados ou não com a Covid-19, de acordo com o engenheiro Angel Ibanez, diretor de Suprimentos e Sustentabilidade da empresa.

Já o abastecimento de materiais flui normalmente. Ele conta que na primeira semana da quarentena, houve impactos pontuais no mercado interno até que ocorresse a adequação da produção das indústrias à nova realidade. “A indústria que fornece para as construtoras é a mesma que comercializa materiais através do varejo, segmento que registrou grandes quedas nas vendas”, diz, indicando que houve redução da fabricação.

Por outro lado, nas negociações, não houve qualquer alteração de preços de produtos da cadeia nacional. Porém, aqueles atrelados ao dólar, como alumínio e cobre, têm sofrido pressão. Assim como componentes importados – acessórios de fixação e de elevadores, dobradiças, entre outros –, que tiveram impacto nos preços quando a crise sanitária atingia a China.

Se antes da pandemia, com o dólar a R$ 4,40, já era difícil viabilizar importações para as obras, agora que chegando a R$ 6, Ibanez não vê qualquer possibilidade de especificação de produtos de fora. Na pós-pandemia, já com a retomada plena do crescimento da construção civil, se mantido o câmbio atual, será preciso buscar produtos apenas nacionais ou alternativas não atreladas ao dólar.

A gestão de suprimentos nas construtoras, nos últimos anos, evoluía e se profissionalizava cada vez mais. Para Ibanez, a crise sanitária não deverá afetar esse processo. “Ao contrário, hoje trabalhando de forma remota – com exceção das obras –, não tivemos nenhuma perda de eficiência. Em pesquisa interna, concluímos que a eficiência aumentou”, garante.

Transcrição

O convidado de nosso podcast é o engenheiro Angel Ibanez, diretor de suprimentos e sustentabilidade da Tegra incorporadora, empresa de desenvolvimento imobiliário residencial, comercial e urbano da Brookfield Brasil. Trataremos com Ibanez, o atual ritmo do abastecimento das obras neste momento de restrições de mobilidade, em que muitas indústrias de materiais de construção reduziram sua produção.

Hosana: Angel, boa tarde.

Angel: Boa tarde Hosana, tudo bem?

Hosana: Tudo ótimo! Angel, quantos canteiros ativos a Tegra tem hoje?

Angel: Bom, primeiro obrigado pelo convite, é um prazer estar com você. Hoje a gente está com 21 canteiros distribuídos em são Paulo, RJ e Campinas. 70% por cento disso em são Paulo, um pouco em Campinas e uma menor parte hoje no RJ.

Hosana: Está certo. Bom, o fornecimento de materiais e sistemas, está normal ou deu uma reduzida? Como é que está?

Angel: A gente viveu dois momentos, né Hosana. Primeiro, logo que se começou a quarentena, e a hora que a Covid aí de fato chegou no Brasil, aí era o comecinho, meados de março, a gente teve o primeiro impacto no sentido de assim, ninguém saber exatamente o que ia acontecer. Então, algumas fábricas já soltaram comunicados dizendo: “Olha, a produção vai ser paralisada, a produção vai ser diminuída, estamos avaliando”... E os fornecedores de serviço, por outro, lado, algumas empresas eram mais positivas, falaram: “Não, nós temos que fazer, isso não tem problema, vamos seguir”. E outras eram mais conservadoras naquele momento: “Olha, quero proteger meu pessoal, eu vou parar”. Então, essa discussão durou aí umas, a primeira semana, onde a gente teve alguns impactos pontuais nas obras. Não foi nenhum impacto, não foram impactos assim que realmente ocasionaram reprogramações ou replanejamentos de obras, mas a gente teve alguns impactos pontuais no mercado interno, até que essa acomodação acontecesse. E na parte de serviços, acho que isso é o que vem sendo, hoje, é o maior problema, que vem sendo impactado, porque as pessoas têm tido sintomas de gripe ou mesmo de Covid e, quando as pessoas vão hoje procurar um posto médico ou hospital, a conduta hoje, o protocolo padrão é dar os 14 dias de afastamento a qualquer sintoma que seja relacionado à doença. Então, isso realmente tem ocasionado uma falta de pessoas no canteiro maior do que o normal, então, isso tem exigido dos prestadores de serviço uma agilidade maior em conseguir remanejar as pessoas, ter um controle maior das pessoas, quem são os afastados, quem está retornando, para que a gente consiga manter o ritmo de obras. Então, o que eu posso dizer hoje: a gente hoje conseguiu passar ai desses dois meses quase que a gente começou essa situação, a gente tem hoje a cadeia de abastecimento de materiais normalizada, obviamente, todas elas adequaram as suas produções às demandas atuais porque, quando a gente fala em construtoras, incorporadoras, o ritmo se manteve praticamente o mesmo, as obras continuaram. Mas quando você fala do varejo, isso realmente caiu absurdamente, e todos os fornecedores que fornecem materiais para as construtoras, fornecem para o varejo, e o varejo tem um peso até maior que o das construtoras. Então, eles realmente adequaram as suas produções a essa demanda atual. Então hoje nos canteiros não existe falta de abastecimento de materiais, está normalizada. E tem essa questão da mão de obra que, ao menos no nosso caso, já esteve um pouco pior e hoje já estamos dentro quase de uma normalidade assim, sem prejuízos aí de andamento de obra.

Hosana: As negociações com os fornecedores também permanecem normais, imagino, também feitas online. É isso?

Angel: Sim, primeiro assim, falando um pouquinho de preços, a gente não teve nenhuma alteração de preços, nem para cima nem para baixo do mercado interno. Então, tudo aquilo que depende exclusivamente do abastecimento aqui da cadeia nacional, a gente não teve nenhuma alteração de preço, nem renegociação para aumentar preço ou para diminuir preço em função da crise toda, então, a gente se manteve normal. Agora, alguns materiais que são atrelados a dólar, alumínio, cobre, isso tem sofrido uma pressão e, obviamente, a gente tem tentado evitar de comprar esses materiais agora com toda essa volatilidade que tem da moeda e então, é a forma que a gente tem conseguido evitar esses aumentos. Mas tudo aquilo que é atrelado a dólar, isso tem sofrido uma pressão, mas o que é cadeia nacional a gente está em linha. Acho que uma coisa só pra complementar da pergunta anterior, logo no começo da crise aqui, quando essa crise já era grande na China, alguns componentes importados como por exemplo, alguns metais, acessórios de fixação, dobradiças de porta, alguns componentes e elevadores, tiveram um pequeno impacto na nossa cadeia de fornecimento.

Hosana: Bom, além dessa questão do dólar já perto dos R$ 6, parece que existe hoje uma forte ameaça pela Covid à economia globalizada, não é Angel? Qual a viabilidade de compras de matérias e sistemas vindos de fora, amarrando até com o que você acabou de falar?

Angel: Olha, atualmente, o mercado hoje, a gente tem muito pouca iniciativa de trazer material de fora, até nas nossas composições de custo, com o dólar a R$ 4, R$ 4,40 ou R$ 4,50, já era muito difícil da gente conseguir viabilizar compras importadas, importações... Eu me lembro quando a gente teve o boom imobiliário, próximo a 2010, 2011, onde a nossa cadeia de suprimentos se mostrou insuficiente para atender toda a demanda, e aí nesse cenário sim, a gente conseguiu viabilizar algumas importações. No cenário de hoje, com o dólar a R$ 6, eu acho que isso está ainda mais difícil, eu não vejo que ao menos, no nosso cenário, lá na Tegra, aqui na Tegra, da gente conseguir, nós não estamos nem vendo importação em uma hora dessas.

Hosana: Mas no futuro, também amarrando com algo que você já disse, que é a importação de componentes para formação de um sistema ou de um produto... No futuro, quando o setor já retomar o crescimento aqui no Brasil, a fabricação de produtos nacionais com esses componentes, não ficará mais complexa ou comprometida?

Angel: Olha, é difícil a gente falar alguma coisa do que vai acontecer para frente... Hoje o nosso nosso médio prazo é um mês, o nosso curto prazo é o dia seguinte... Mas, obviamente, se a gente imaginar que a gente vai ter um câmbio nesse patamar de quase R$ 6, nós vamos ter que pensar muita coisa diferente, porque a gente não tem espaço pra tudo o que a gente compra que é atrelado a dólar sofrer esse impacto todo... Então, aí certamente a gente vai ter que buscar alternativas diferentes, seja na indústria nacional, seja no mercado estrangeiro.

Hosana: Angel, nos últimos anos, inclusive em entrevistas que você me deu para o Portal AECweb, você contava e seus pares também me comentavam muito, dos avanços na gestão de suprimentos. Essa crise poderá atingir esses avanços, quer dizer, pode retroagir de alguma maneira essa gestão?

Angel: Não, eu acho que essa é uma excelente pergunta, Hosana, porque a gente tem debatido muito isso. E eu acho que essa situação hoje nossa de home office, de você ter que fazer reuniões remotas, todo mundo trabalhando de forma remota, naquilo que é possível... A gente hoje na Tegra, por exemplo, só não é remoto, nas obras, o resto, a gente está operando 100% de forma remota, e a gente não teve nenhuma perda de eficiência, pelo contrário... A gente rodou uma pesquisa interna e a percepção geral é de que a eficiência aumentou internamente. Então, eu acho que sim, o momento nosso certamente vai deixar legados aí onde, isso que nós estamos vivendo hoje, vai trazer muita coisa boa, principalmente em termos de eficiência. Todos os projetos que a gente tinha ou rodando internamente de eficiência ou de inovação, num primeiro momento a gente não sabia exatamente como continuar. Passadas algumas semanas da crise a gente viu que era totalmente possível de fazer isso andar e isso está andando, e mais rápido do que numa situação normal, do que antes da crise. E eu acho que a Covid, ela acabou acelerando essa transformação meio que parcial digital das empresas, porque ou você conseguia operar de forma remota ou você simplesmente não ia conseguir operar, então, as empresas foram empurradas aí pra esse novo formato, e as empresas conseguiram. Nenhuma empresa parou por conta de home office. Então, as empresas de um jeito ou de outro conseguiram. E com relação a tudo o que a gente vinha fazendo em suprimentos para melhoria de eficiência, a implantação de um portal de compras, estudo de RPAs, que são automações aí de processo, tudo isso nós estamos seguindo e, vamos continuar, e vamos fazer com certeza.

Hosana: E a sustentabilidade? Você também é diretor de sustentabilidade. Você acha que essa é uma ideia, um conceito, uma prática que será de alguma forma prejudicada?

Angel: Não, pelo contrário Hosana. A gente discutiu isso bastante também, só assim, de cara, quando você fala das pessoas em home office, as pessoas se deslocando menos para trabalhar, pessoas se deslocando menos para reuniões, isso de cara você já causa um impacto positivo aí no meio ambiente com relação a emissões de CO2. Então, o tema sustentabilidade continuou vivo, a gente, até por uma questão nossa, a gente está emitindo agora o nosso primeiro report aí no formato GRI, que isso é um programa que começou na Tegra em 2017, a gente, o primeiro ano, 2018, foi ano de estruturação do programa. 2017, perdão, ano de estruturação do programa, em 2018 a gente fez o primeiro relatório das nossas ações todas, nós implementamos mais de 35 práticas em projetos e em canteiros, práticas socioambientais, e agora, em 2020, a gente está terminando, inclusive já estamos nas revisões finais, do nosso primeiro relatório no padrão GRI, de tudo aquilo que a gente fez em 2019. E em 2020 a gente continua com todas as ações, obviamente algumas ações foram prejudicadas, como por exemplo, a gente tem uma ação forte de voluntariado, onde a gente dá aula em colégios públicos próximos a empreendimentos nossos, obviamente isso está prejudicado porque as escolas estão paradas, está tudo com escola online, então, a gente ainda não encontrou uma forma de atuar nisso de forma online, mas o programa nosso continua a todo vapor. A gente continua com todas as práticas que a gente tem em canteiro de obra, de reduções de consumo de energia, consumo de água, logística reversa com os fornecedores daquilo que a gente consegue fazer, então, não tivemos – salvo nos programas de voluntariado e algumas ações que a gente acaba fazendo de forma pessoal, encontrando, reunindo pessoas –, a gente não teve nenhum prejuízo com relação ao programa.

Hosana: Angel, agradeço essa entrevista, foi ótimo, desejo a você sorte, saúde e também a todo seu pessoal.

Angel: Obrigado, Hosana. A gente segue exatamente com esse mesmo otimismo, a gente tem tido um apoio incondicional aí de todos os nossos fornecedores que estão com a gente sem deixar essa peteca cair, o próprio sindicato da construção também, através do Ramalho, tem nos apoiado bastante em todas as ações para manter as obras andando, não só a gente como o setor todo, e estamos firmes, torcendo para que tudo isso acabe e a vida volte ao normal. Obrigado de novo Hosana por lembrar da gente, pela conversa, foi ótima e desejo a você também muita saúde aí e sucesso pela frente.

Hosana: Obrigada, tchau, tchau.

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