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Tarjab comenta medidas adotadas para enfrentar a pandemia de Covid-19

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Carlos Borges, presidente da construtora, conta que estão avaliando indicadores como inadimplência, distratos e caixa diariamente. E que contrataram vans para que os funcionários de obras não utilizem transporte público

07/05/2020 | 14:40 - Carlos Borges, presidente da construtora Tarjab, fala em podcast ao Portal AECweb sobre a complexa operação que a empresa foi obrigada a implementar, em pouco tempo e remotamente, para fazer frente à pandemia do novo Coronavírus. Os negócios sentiram o golpe, principalmente nas primeiras semanas, porém, agora estão estabilizados. “Neste momento, como todas as empresas, estamos preocupados com liquidez e sobrevivência”, diz.

A Tarjab – que em 36 anos de atuação já entregou mais de cem empreendimentos – hoje tem oito edifícios residenciais de médio/alto padrão à venda, sendo três em obras. Os funcionários dos canteiros não precisam utilizar transporte público, pois a empresa assumiu a locomoção feita por vans. O empresário destaca que está renegociando contratos e compromissos, e que os clientes que adquiriram imóveis também pedem revisões. “Não tivemos distratos até o momento e a quantidade de renegociações é pequena”, relata.

A construtora criou um sistema emergencial de indicadores, monitorado diariamente, envolvendo inadimplência, distratos, caixa, vendas e questões ligadas a interesse de compras. Conta, também, com o suporte do seu comitê de riscos e compliance para gerenciar a crise pandêmica. Antes voltado para a gestão de compliance e implantação da Lei Geral de Proteção de Dados – que teve sua vigência adiada para agosto de 2021 –, o comitê se ocupa de reduzir a vulnerabilidade e melhorar a segurança das informações da empresa. Além disso, Borges tem reiterado à suas equipes que, mesmo vivendo uma situação de crise, não abre mão do rigor com compliance.

A qualidade da construção civil pode, segundo ele, sofrer prejuízos num primeiro momento, porém no pós Covid-19, haverá mais melhorias do que prejuízos. É o caso dos aspectos inerentes à Norma de Desempenho (NBR 15575) como qualidade do ar, ventilação, iluminação, conforto térmico e acústico dos apartamentos que se destacam no momento em que os profissionais passam a trabalhar em home office. “Tem aprendizado importante”, ressalta.

Transcrição

Hosana: O convidado do Portal AECweb é Carlos Borges, presidente da construtora Tarjab, que nos seus 36 anos de mercado, já entregou mais de cem empreendimentos de médio-alto padrão. Atualmente tem à venda oito edifícios residenciais e, desses, 3 estão em obras. Borges, tudo bem com você?

Carlos Borges: Tudo ótimo, graças a Deus.

Hosana: Com saúde?

Carlos Borges: Muita saúde, isso é muito importante...

Hosana: E quarentenado?

Carlos Borges: É... temos que respeitar o momento, e aguardar com tranquilidade.

Hosana: Bom Borges, por favor, conta para gente como a pandemia está atingindo ou vai atingir os negócios da Tarjab?

Carlos Borges: É, a pandemia já atingiu e continua atingindo de maneira muito forte todos os negócios da Tarjab e das empresas do setor. Nós tivemos, num período muito curto de tempo, de, de ter que colocar em pé uma operação que é bastante complexa de forma totalmente remota. Eu diria que isso já foi atingido, a gente está numa, numa estabilidade melhor agora dentro desse novo quadro. Nós tivemos os nossos estandes fechados e também o nosso espaço institucional, então, a gente passou a atuar apenas no canal digital para vendas, que representava 25% do total das nossas vendas. Então, a gente está também reagindo e fomentando esse canal do ponto de vista técnico e operacional e também de treinamento das pessoas. E, naturalmente, assim como todas as empresas, a gente está muito preocupado nesse momento com liquidez, com sobrevivência, então, nós criamos um sistema emergencial aí de indicadores, que a gente está monitorando diariamente, e estamos renegociando contratos, compromissos, obrigações porque de outro lado também, as pessoas que adquiriram imóveis nossos, também muitas delas estão procurando também renegociar os seus pagamentos, seus compromissos... Então, a gente está num momento aí de muita atenção, de muito cuidado e com uma postura bastante conservadora e pensando realmente no pós-crise. Mas para gente ter pós-crise a gente precisa sobreviver durante a crise. Liquidez é a palavra de ordem e a gente está bastante atento, mas estamos equilibrando, não tivemos distratos até agora, a quantidade de renegociações de uma forma geral é pequena, então, apesar desse momento de turbulências, eu acho que a gente está conseguindo administrar e eu continuo bastante otimista com relação ao futuro.

Hosana: Você disse que vocês diariamente estão monitorando alguns indicadores. Quais seriam eles?

Carlos Borges: Olha, inadimplência, distratos, caixa, vendas e questões de temperatura de interesse de compra. Então, a gente está acompanhando muito a jornada dos leads, das pessoas que nos procuram interessadas em apartamentos porque é uma temperatura importante. Esses são os principais indicadores. A gente tem ainda satisfação de clientes, o nosso promoter score, que a gente está procurando se aproximar e ter algum tipo de contato mais específico com eles, mas os indicadores basicamente de curtíssimo prazo, emergenciais, estão ligados a liquidez, mesmo, ao caixa.

Hosana: Está certo. Agora, a Tarjab, tem um comitê de compliance e governança. Manter esse tipo de comitê ajuda em um momento crítico como o atual?

Carlos Borges: Ajuda, sem dúvida... Eu acho que o comitê de riscos e compliance, ele tem uma particularidade, porque ele já estava voltado tanto para gestão do sistema nosso de compliance quanto para implantação dos procedimentos relacionados à lei geral de proteção de dados. Então, a gente teve uma mudança de prioridade, o comitê agora está voltado à proteção de dados da empresa. A gente estava com o foco muito grande na proteção de dados dos clientes porque em agosto a gente teria o início da vigência dessa lei, que agora foi prorrogada para agosto de 2021 (teve um ano), e em função da operação remota, a gente está naturalmente com um nível maior de vulnerabilidade, então, a gente está trabalhando nesse momento para melhorar a segurança, as informações da empresa e ter um ambiente de menos risco. A gente tem informações aí de várias empresas que tiveram dados extraviados, já houve invasão, então, a gente tem um ambiente mais fértil agora para fraudes, para desvios, então, a gente precisa tomar bastante cuidado com isso. Então, o comitê de riscos ele redirecionou o seu trabalho voltado para a lei geral de proteção de dados para a segurança das informações da empresa. E, além disso, acho que tem uma questão também muito importante. Quando a gente tem uma crise como essa, é normal que a gente abra mão de algumas condutas e algumas regras, tudo vira desculpa para você não seguir regras... Então, é a mesma coisa está acontecendo no Brasil. A gente tem regras fiscais, lei de responsabilidade fiscal, teto de gastos, e agora esquece tudo porque a gente está vivendo a emergência e tem que resolver o problema. Então, a gente precisa tomar cuidado também em relação ao tema compliance e eu tenho reiterado bastante com a nossa equipe que nós, mesmo vivendo uma situação de crise, nós de maneira alguma abriríamos mão de nossos princípios e continuaremos a trabalhar de maneira muito rigorosa com compliance. Então, isso é uma coisa também que, que eu acho importante reafirmar e a gente tem tratado nessa linha no nosso comitê de riscos e compliance.

Hosana: Certo. Bom, na sua história você tem uma forte ligação com a evolução da qualidade da construção civil, inclusive, você foi um dos líderes aí da feitura da norma de desempenho 15.575. Você acredita que essa crise da saúde vai trazer prejuízos à qualidade e também à sustentabilidade da construção civil?

Carlos Borges: Olha, eu acho que no curto prazo, talvez, mas no médio prazo, no pós-crise eu vejo mais oportunidade de melhoria do que prejuízos.

Hosana: Por que?

Carlos Borges: Porque eu acho que tem alguns aspectos que a própria norma de desempenho traz, por exemplo, como qualidade do ar, questões de ventilação, de iluminação nos apartamentos, que agora com as pessoas ficando muito tempo em casa, ficam mais exacerbadas. Então, eu acho que as pessoas vão começar a tomar um pouco mais de cuidado com isso. Então, eu acho que tem aspectos de acústica, aspectos térmicos, nada melhor do que você estar vivendo e ficando em um ambiente com duração prolongada, para você sentir tanto o aspecto positivo quanto o aspecto negativo. É claro que qualquer crise econômica retrai o desenvolvimento tecnológico, mas eu vejo que tem um aprendizado muito bacana que está acontecendo e que vai permear a mudança no desempenho dos projetos de alguns itens que até agora eram de alguma forma negligenciados. Então, curto prazo, talvez algum prejuízo, mas médio prazo, eu acho que novo conhecimento, novos aprendizados e oportunidades aí para as empresas que saírem na frente.

Hosana: Borges, me parece que um dos aprendizados que já vinha acontecendo, é em relação ao home office. Muita gente hoje está de home office e nem todos os apartamentos ou uma boa maioria aí, pelo menos de médio padrão, não tem um espaço dentro do apartamento específico para uma pessoa trabalhar em casa.

Carlos Borges: Sem dúvida... Nós já estamos, por exemplo, revendo alguns projetos que estão em gestação e já pensando nessa possibilidade, procurando melhorar o layout, as instalações elétricas, hidráulicas, as conexões, de tal maneira, já pensando nessa possibilidade de que parte das pessoas no pós-crise, continuará no sistema de home office. Eu não vejo uma, um radicalismo, não acho que a gente terá uma mudança tão brusca, até porque empresas no passado que tentaram fazer essa experiência de 100% do home office deram um passo para trás, como a própria Microsoft, porque perceberam a importância também, nem que periodicamente, de interações sociais e conversas presenciais. Mas sem dúvida, a gente terá uma mudança de comportamento e, dentro dessa linha do desempenho dos apartamentos, a gente precisará realmente criar condições para que as pessoas possam trabalhar de maneira bastante confortável dentro de seus apartamentos e com as condições técnicas para que isso ocorra de uma maneira legal. Então, mais um desafio aí no desenvolvimento de produtos para todos nós.

Hosana: Ok, Borges, finalmente me diz uma coisa, voltando para o momento atual: canteiro. A Covid agora, ela está atingindo em cheio a população de baixa renda, que pega aí esse pessoal de obra. Você acha seguro manter os canteiros em atividade?

Carlos Borges: Eu acho mais seguro manter os canteiros em atividade do que os canteiros parados. Nós como todos os setores estamos com protocolos de medidas muito rigorosas do ponto de vista sanitário, estamos tomando todos os cuidados possíveis para proteger os nossos colaboradores, até agora, graças a Deus, não tivemos nenhum caso nas nossas obras. Todo transporte que está sendo feito é por vans particulares pagas pela empresa, as pessoas não estão utilizando transporte público. E a gente tem uma situação de muitas dessas pessoas terem uma certa vulnerabilidade social e, às vezes, ficar em casa pode ser até pior eventualmente do que essa situação do trabalho, sem contar a sustentação financeira. Então, eu acho que de maneira responsável, estou muito tranquilo e seguro de que estou fazendo a coisa certa ao dar continuidade para as obras, e naturalmente, lastreado aí pelas medidas do governo.

Hosana: Muito bem, Carlos Borges, desejo a você muita saúde, muito boa sorte a você, a seu pessoal, e voltaremos a falar mais à frente sobre a evolução dessa crise.

Carlos Borges: Ok, agradeço a oportunidade, obrigada pelo convite. Um abraço.

Hosana: Obrigada, um abraço.

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