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Presidente da MPD revela como a empresa tem enfrentado a Covid-19

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Em podcast do Portal AECweb, Mauro Dottori conta o que a companhia tem feito para driblar desafios. Ele ainda compartilha preocupações e lições que a pandemia deve deixar para o mercado

05/05/2020 | 11:20 - Em entrevista ao Portal AECweb, Mauro Dottori, presidente da MPD Engenharia, fala sobre a ação coordenada entre as construtoras e entidades setoriais como o SindusCon-SP e a Abrainc para fazer frente à pandemia do novo Coronavírus. Ele ressalta que hoje são 10 milhões de trabalhadores, no país, alocados em canteiros de obras – o que explica a continuidade das atividades.

A MPD construiu, nos seus 37 anos de existência, mais de 3 milhões de metros quadrados, num total de 140 projetos. Tem 24 canteiros ativos, sendo quatro de obras imobiliárias próprias e outras 10 de incorporações das quais participa. O restante são obras de terceiros. “O desafio maior é manter os canteiros funcionando”, diz Dottori, relatando que apenas um canteiro foi fechado, em Belo Horizonte, e uma obra de terceiro será paralisada a pedido do cliente. No segmento de incorporação, Dottori destaca a necessidade de continuar vendendo. Para tanto, adiantou parte da comissão da equipe de vendas.

A maior preocupação do empresário é quanto ao tempo que a pandemia vai durar. E entre as lições que a crise já aponta, está o forte papel das ferramentas digitais para o trabalho online, que começa a criar uma cultura de home office. “A tecnologia foi preponderante para que a produtividade do setor fosse mantida”, ressalta.

Transcrição

Hosana: O convidado de nosso podcast, é Mauro Dottori, presidente da MPD Engenharia. Com 37 anos no mercado, a empresa atua no segmento de grandes obras e, também, na incorporação de empreendimentos residenciais e comerciais. A MPD, soma mais de 3 milhões de metros quadrados construídos, em um total de 140 projetos. Dos seus 385 funcionários, 160 estão nos canteiros. Dottori, quais as ações internas, as mais importantes que a MPD adotou diante da pandemia?

Mauro Dottori: Olha Hosana, primeiro eu acho importante destacar que eu usei uma ação coordenada das construtoras, com diversas associações tanto as associações de patronais que é o próprio Secovi, Sinduscon, Câmara Brasileira da Indústria e Construção, a Abrainc e, junto com todos nós. Então as ações seguiram basicamente um padrão. Dentro do escritório a ação principal é o home office. Então, nosso escritório está praticamente 100% de home office, nós não limitamos aqueles que vinham trabalhar, então, tem menos de 10% das pessoas dentro do escritório com ações variáveis. Na obra, as ações são voltadas claro, sempre para a saúde do funcionário, então, as ações começam ali na entrada. Então entrou, mede a temperatura, lava a mão, álcool em gel. Depois, os diálogos diários de segurança, sempre falando sobre como são as ações, explicando o que é esse vírus, maneira de transmissão, e depois separá-los na maior parte possível. Alojamentos em distâncias grandes, refeitórios em áreas mais arejadas, escritórios de obra em área arejada. Em algumas obras o transporte foi mais seletivo para eles quando nós pudemos assim fazê-lo, muita distribuição de máscara, distribuição também de material de limpeza, inclusive para levarem para casa. Então, em linhas gerais, nós estamos todos na mesma toada. Agora, o que é importante acho que falar, nós somos 300, quase 400 funcionários diretos, indiretos nós somos quase 3 mil. A gente trabalha com muitos contratados, desses 3 mil, só 3 foram confirmados com Coronavírus, temos mais 6 em suspeita, que por enquanto não foram confirmados, e nenhum grave. Ou seja, nós aparentemente, pelos números, estamos realmente fazendo da obra um lugar seguro para se trabalhar.

Hosana: Perfeito. Bom, e quantas obras vocês tocam hoje, tanto próprias quanto de terceiros?

Mauro Dottori: Então, no total de canteiros ativos hoje são 24. Aqueles que são obras próprias, são as incorporações que a MPD está à frente, elas são 4. Na realidade nós temos outras incorporações que a gente participa, esse número vai para uma coisa em torno de 10, 12. E o resto são obras realmente de terceiros que a gente não tem participação alguma como incorporadora, nós temos participação como construtora.

Hosana: Certo. Agora, qual o maior desafio para vocês nesse momento de crise, dar continuidade aos empreendimentos imobiliários próprios ou às obras especiais de terceiros?

Mauro Dottori: Bom, o desafio realmente é sobreviver, vamos deixar bem claro isso. Na parte de obras, com 24 canteiros ativos, o desafio é mantê-los funcionando. Para você mantê-los funcionando não depende só de você. Depende do poder público – nós tivemos uma obra paralisada durante 15 dias, quem pode falar isso um pouco melhor, o nosso vice-presidente de operações, o Milton, parece que vocês vão ter uma conversa com ele – em linhas gerais, é uma obra super importante, é uma estrutura que vai abastecer a cidade de Belo horizonte, compensação da Vale pelo negócio de Brumadinho, que Infelizmente teve aquele problema grave que houve lá... Só essa paralisada e as obras, elas começaram a ocasionar algum problema, por conta dos efetivos. Os efetivos diminuíram um pouquinho, não só porque nós afastamos de imediato aquelas pessoas que são consideradas de risco ou porque tem um problema de saúde, pressão alta, diabetes, ou por causa da idade. Enfim, a combinação dos dois, nós afastamos, e digamos que também houve uma insegurança dos nossos colaboradores, nossos e terceiros, então, nós tivemos uma campanha de liderança muito forte no sentido que olha: é o exército, precisa atacar, quem deu a ordem vai na frente, então, o mandante vai na frente e vamos liderar essa história. E confesso a você que nós tivemos um sucesso bem razoável nesse ponto de vista. E, também tem, evidentemente, obras de terceiros, ou o que sobrou da obra, vamos falar assim, ele quer ter uma continuidade ou descontinuidade. Aparentemente, nenhum pediu para parar, talvez um peça para fazer uma parada momentânea agora. Não vou falar o tipo de obra que é, não quero expor nesse caso os nossos contratantes para ver como é que eles tomam uma medida diferente, mas por enquanto eles pediram, a gente acho que agora a partir do começo de maio para paralisar. Então, esse é o primeiro desafio. Um outro desafio da incorporação é realmente manter a parte de vendas ativa, então nós temos que manter os corretores, nós temos o que a gente chama de house, ou seja, nós temos os corretores próprios, e nós temos que manter esse pessoal animado, esse pessoal tem que estar vendendo os nossos empreendimentos principalmente. Hoje nós temos aí, obras ativas são 4, mas nós temos um estoque grande, então nós temos muita coisa ainda para fazer e esse pessoal está sem poder trabalhar direito porque eles estavam muito acostumados a trabalhar nos stands. Nós já temos on-line, nós implementamos on-line, mas falando especificamente dessas pessoas, nós começamos a dar para eles trabalho exclusivamente comissionado, ou seja, se vender ganha, se não vender não ganha, mas chegamos a uma situação que não. Nós vamos adiantar um pouco da comissão para todos eles e, no momento que eles puderem compensar essa comissão, eles compensam, eles vão compensar. Mas nós não podemos deixar esse pessoal desassistido no momento que eles não estão podendo exercer a função deles por motivos alheios a todos nós. Nós fizemos muita questão e foi muito reconhecida.

Hosana: Perfeito. Ótimo. Me diz uma coisa Dottori, qual a tua maior preocupação hoje? Problema com fornecimento de materiais, porque parece que alguma coisa já começa a faltar, atraso na entrega das obras, ou temor que, de que as autoridades obriguem o fechamento dos canteiros aí com o avanço do novo Coronavírus?

Mauro Dottori: Na realidade nenhuma dessas 3. Vou ser bem sincero com você. Nenhuma dessas 3. O nosso temor maior é o quanto tempo essa pandemia vai durar, porque dependendo do tempo, qualquer uma dessas ações que você está aí colocando, elas podem realmente acontecer. Hoje nenhuma delas está acontecendo de fato, nós não estamos tendo problema de entrega de material, pontualmente um ou outro, mas nenhum que causou um grande efeito em qualquer obra nossa. As obras continuam, portanto, elas estão reconhecidas hoje como essenciais. Vamos entender esse essencial, do ponto de vista social, não vamos esquecer que obras, como uma estatística que chegou para mim da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), eu tenho mais ou menos 10 milhões de trabalhadores em obra, dez milhões, é muita gente. Se param as obras, a parte social, a comoção social que isso dá é fantástica. Como eu te falei no começo da nossa entrevista, eu acho que nós estamos conseguindo manter as obras como ambientes saudáveis. Nós temos muito poucos casos. É uma percentagem extremamente baixa daqueles que foram efetivamente contaminados. Eu não tenho o número de óbitos, mas que eu saiba, não tenho esse número para te falar com certeza. Então realmente nós estamos em um momento, o pior dessa crise é a imprevisibilidade dela. Veja no nosso próprio estado de são Paulo, quantas vezes o governador Doria já estendeu essa, essa nossa quarentena? Então, esse é o medo.

Hosana: Agora, quais as lições que essa pandemia vai deixar para o setor da construção civil, já é possível vislumbrar?

Mauro Dottori: Algumas tendências você já tem sim. A primeira tendência que é possível perfeitamente bem você ter o home office, tudo bem que a obra não pode ser home office, vamos deixar claro, a obra é um canteiro físico, então, exige atividade física, mas que pode sim você usar vários instrumentos hoje disponíveis de tecnologia, inclusive melhorar na produtividade, na parte de escritório com certeza isso aconteceu. Na parte de obra, muita coisa, reuniões com fornecedores, reuniões estratégicas aí de planejamento de obra, isso está acontecendo e, graças a Deus, é uma grata surpresa. Houve também essa parte, da parte de comercialização, acho que a grande maioria das grandes construtoras já tem isso... Então, mas agora a parte digital ficou muito mais importante porque é uma questão de cultura. E cultura é uma coisa de duas voltas, você tem que ter necessidades específicas. No caso das vendas, você tem que ter alguém abordando e alguém querendo ser abordado. Então, nós temos que ter uma plataforma digital parruda e a pessoa que está do outro lado, ela tem que querer... Então, isso é uma tendência do mesmo jeito que aconteceu já um Uber, aconteceu ai com os ifoods da vida, nas entregas, nos deliverys, vai acontecer também na parte digital com certeza, na parte de comercialização, marketing já existe bastante, vai aumentar, essa parte vai aumentar. Eu diria o seguinte, a parte tecnológica, ela realmente teve uma preponderância impressionante nesse momento para que não se caísse produtividade, não se caísse muito, numa linguagem vulgar, não caísse a peteca do nosso setor. Então, essa é uma grande tendência que nós vamos ter. O digital em todas as suas formas. E, também, o relacionamento, acho que a parte de saúde também, porque lavar as mãos quando você sai ou chega de casa, não é, devia fazer todas as vezes, ensinaram desde criança as questões de higiene, essas questões são um pouquinho marcadas na nossa vida.

Hosana: E me diz uma coisa Dottori, você acredita que a construção industrializada poderia minimizar os impactos da atividade de canteiros em um momento como o atual?

Mauro Dottori: Olha, a construção industrializada ela diminui a turma de obra. Mas eu acredito que tem uma construção sendo feita numa outra indústria. Então, o que se diminui na obra normalmente usa menos porque ela é mais automatizada, ela é mais maquinizada, então, aceita um pouco menos de pessoas. Agora, essa questão, essa tendência, ela vai cada vez mais acontecer. Porque o que ela basicamente faz, é aumentar a produtividade. É obvio que aumentando a produtividade, te dando mais segurança sanitária com menos pessoas no processo, tem tendência sim, mas é uma tendência que nós temos aqui no Brasil um caminho longo porque tem que padronizar mais coisas, tem que mudar um pouquinho a cultura. Até hoje nós ainda temos um pouco de problema, quando você faz parede drywall. Ela é aceita? É. Totalmente aceita? Não. Então, tem que mudar essa cultura. Mas é aquilo que eu te falei, cultura é uma coisa multifacetada. Você tem que ver o lado que nós, da indústria da construção, estamos propondo e o lado que o nosso comprador está aceitando. Então, vai mudar sim, mas, óbvio, que acelera em um momento desse.

Hosana: Perfeito. Bom Dottori, eu agradeço a entrevista e todos nós desejamos saúde e boa sorte para todos vocês.

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