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Cidades mais acolhedoras dependem de políticas públicas

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Urbanista lembra que apenas 20% da população da capital paulista vivem nos bairros nobres e centrais, onde se concentram 70% dos empregos

25/08/2020 | 15:48 - A Covid-19 atinge duramente as populações mais pobres das periferias das grandes cidades brasileiras, inclusive com letalidade muito superior quando comparada aos bairros nobres e centrais. Habitações precárias e modais de transporte lotados, entre outras deficiências estruturais, colaboram diretamente para essa tragédia. As reflexões, que já ocorrem por aqueles que pensam e constroem as cidades, serão lembradas no futuro, depois da pandemia? Quem fala ao podcast do Portal AECweb sobre o tema é o arquiteto e urbanista Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, que foi relator do atual Plano Diretor paulistano.

Reconhecendo que tem se falado bastante a respeito, ele entende que não é a pandemia que vai gerar essa consciência. “Cidades mais acolhedoras e sustentáveis só vão surgir se houver participação da sociedade e vontade política do poder público”, diz, acrescentando que problemas como o das moradias ficaram evidenciados nestes meses de crise e que as eleições municipais deste ano devem trazer o debate à tona.

Para Bonduki, apesar de o mercado imobiliário e poder público concordarem sobre a estratégia de construção em escala de moradias populares em bairros mais centrais, isto não ocorreu ainda, em São Paulo, por exemplo. Um dos caminhos, segundo ele, seria a articulação entre as políticas urbana e habitacional para fazer valer legislação que permite a cobrança de imposto progressivo e, posteriormente, a desapropriação de imóveis vazios e não utilizados. “Dessa forma, os proprietários sob pressão disponibilizariam, a preços justos, esses terrenos e prédios para habitações de interesse social”, aponta.

Há, ainda, a dificuldade de se fazer uma produção massiva de moradias em áreas consolidadas da cidade. Bonduki lembra que há recursos disponíveis e terrenos para a construção de habitações na Operação Urbana Água Branca. Mas, nenhuma obra foi sequer iniciada. “O setor privado só vai produzir, se tiver subsídio, decisão que depende da prefeitura”, destaca, lembrando que o mercado vem produzindo, de maneira tímida, empreendimentos de microapartamentos para as faixas de renda 2 e 3 do Minha Casa, Minha Vida.

O urbanista afirma que a segregação dos mais pobres em bairros periféricos não é prerrogativa de cidades cosmopolitas. Mesmo nas pequenas o fenômeno ocorre, porém, sem as dimensões próprias dos municípios de maior extensão territorial. Basta ver que, na capital paulista, apenas 20% da população mora nos bairros nobres e centrais, onde estão 70% dos empregos e excelente qualidade de infraestrutura e serviços.

O urbanista defende que viver em apartamentos compactos, mesmo para quem está em home office, é um estilo de vida. Portanto, a tendência de novos empreendimentos nesse segmento deve permanecer.

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