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Vidro temperado pode ser usado em fachadas, lojas e halls de edifícios

Embora tenha maior resistência à flexão e a choques, é preciso observar as normas técnicas para seu uso e saber que alguns fenômenos visuais são aceitáveis

Publicado em: 20/05/2014Atualizado em: 02/06/2014

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Vidro temperado

Transparente, colorido ou extraclear, o vidro temperado tem como principal característica técnica a maior resistência à flexão e a choques, além de ser menos espesso do que um laminado equivalente com chapas de floats. É comum ver um temperado em portas de agências bancárias, lojas e hall de edifícios. “Durante o processo de têmpera, a placa de vidro ‘caminha’ sobre um conjunto de roletes metálicos revestidos, primeiro num forno que atinge a temperatura ideal e, em seguida, por uma câmara, onde o ar frio é soprado por cima e por baixo. Com isso, as superfícies do vidro são resfriadas e enrijecem mais rápido do que nas áreas centrais da placa. Essa situação de a parte interna ficar com tensões de expansão e as superfícies em tensão de tração – não deixando o vidro expandir mais –, cria a situação de têmpera. Ou seja, o vidro fica tenso e apresenta maior resistência a quebras e deformações”, explica o arquiteto Paulo Duarte, consultor de vidros e fachadas.

FENÔMENOS VISUAIS

Seja em janela ou em fachada, esse vidro só deve ser instalado acima do peitoril, porque o temperado é passível de quebra espontânea, deixando o vão sem guarnição e levando risco aos ocupantes do imóvel. Nessas áreas, a norma técnica obriga o uso de vidros laminados que, se eventualmente quebrarem, permanecem unidos à película de laminação. Ou seja, o vidro de segurança por excelência é o laminado

Desse processo podem decorrer alguns fenômenos, como a anisotropia ótica, o roller wave e o overall bow. Segundo o consultor, o choque térmico a que o vidro é submetido pode gerar marcas visíveis, principalmente para um bom observador e dependendo do ângulo de observação. “Têm o formato de manchas arredondadas num tom acinzentado. Mas, quando o vidro é atingido por luz polarizada, podem apresentar aspecto colorido, à semelhança de manchas de óleo ou gasolina numa poça d’água”, diz.

O fenômeno roller wave está relacionado com a distância entre os roletes e o seu diâmetro, ou seja, no processo de ‘rolar’ sobre esses elementos, o vidro é deformado por ondulação entre os roletes. “O resultado é o aparecimento de marcas de ondulação, pouco perceptíveis no vidro temperado. Nas boas têmperas da indústria de transformação, a relação diâmetro/distância entre roletes, e a combinação com a velocidade da passagem do vidro é mais adequada, o que reduz o efeito roller wave, que é imperceptível”, destaca Duarte.

Já o overall bow é a tendência de ocorrer o empenamento do vidro como consequência do processo de aquecimento seguido do resfriamento. “Esse arqueamento pode ocorrer de forma homogênea ao longo da maior medida do vidro ou em trecho da placa mais próximo das bordas”, ensina, acrescentando que quanto maior a placa, maiores as possibilidade de ocorrer esse efeito. “É preciso, portanto, usar têmperas de qualidade e inspecionar as placas para identificar esse possível empenamento”, recomenda. Ele lembra que, no caso do overall bow, a peça deve ser descartada, pois não servirá para encaixar no vão, encaixilhar ou laminar. “Isto normalmente só acontece com tempera de má qualidade. O mesmo vale para o fenômeno do roller wave, mas muita gente acaba usando a peça”, afirma.

USO RESTRITO

Como no Brasil não há esse tipo de controle de laboratório, o vidro temperado nunca deve ser usado em coberturas. Exceção feita ao vidro temperado laminado, pois, se quebrar, os fragmentos ficarão presos na película da laminação. Essa é uma solução de segurança e que resulta num vidro laminado de menor espessura, do que aquele que emprega chapas de vidro float

É comum o uso do vidro temperado em fachadas, porém jamais a partir do piso até um metro de altura. “Seja em janela ou em fachada, esse vidro só deve ser instalado acima do peitoril, porque o temperado é passível de quebra espontânea, deixando o vão sem guarnição e levando risco aos ocupantes do imóvel. Nessas áreas, a norma técnica obriga o uso de vidros laminados que, se eventualmente quebrarem, permanecem unidos à película de laminação. Ou seja, o vidro de segurança por excelência é o laminado”, alerta Paulo Duarte.

Na maioria dos países desenvolvidos, após a têmpera, o vidro passa por ensaios, para verificar se há algum defeito como microbolhas ou sujeiras. O teste é realizado em outro forno, que apresenta um desequilíbrio de temperaturas, diferente daquele da têmpera, o que força a quebra caso a peça tenha algum problema. Denominado Heat Soak Test, esse ensaio garante a qualidade do vidro temperado para qualquer uso, inclusive para coberturas. “Como no Brasil não há esse tipo de controle de laboratório, o vidro temperado nunca deve ser usado em coberturas. Exceção feita ao vidro temperado laminado, pois, se quebrar, os fragmentos ficarão presos na película da laminação. Essa é uma solução de segurança e que resulta num vidro laminado de menor espessura, do que aquele que emprega chapas de vidro float”, comenta.

No passado, as indústrias transformadoras de vidro utilizavam têmperas verticais, processo em que o vidro entrava no forno pendurado e, quando saía, sofria um sopro de ar por grandes ventiladores de ar frio. “A qualidade ficava comprometida, as deformações eram mais aparentes, víamos inclusive a marca da pinça que prendia a chapa para o processo. Agora, com a têmpera horizontal, entre um rolete e outro sempre há um mínimo espaço, que traz alguns desses fenômenos visuais, mas a qualidade do temperado é superior”, conclui.

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Paulo Duarte
Paulo Duarte – Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura do Mackenzie. Foi consultor para projetos na área hospitalar e industrial, tendo também coordenado projetos e obras. É membro convidado do comitê 37 da ABNT para o desenvolvimento das Normas de Uso do vidro na Construção, além de participar em outros comitês – Vidros Insulados, Painéis Colados, Esquadrias para Construção. É membro também da Associate Consultant Architect Member da AAMA – American Architectural Manufacturers Association.