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Vazios de concretagem põem em risco desempenho de estruturas de concreto armado

Patologia pode levar a deformações e, em casos mais extremos, ao colapso estrutural

Publicado em: 28/10/2016Atualizado em: 04/08/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Popularmente conhecidos como bicheiras, os vazios de concretagem são defeitos em pilares, vigas, lajes ou paredes que se manifestam por espaços não preenchidos no concreto. As consequências dessa patologia de estruturas de concreto armado, também chamada de ninhos de concretagem, variam de problemas estéticos que demandam o uso extra de materiais para revestimento, ao comprometimento da capacidade de suporte e da durabilidade da estrutura. Em casos mais severos, essas falhas de concretagem podem levar à segregação do concreto e expor as armaduras, provocando sua corrosão e, em último grau, o colapso da estrutura. Daí a importância de evitar os vazios a qualquer custo.

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Concreto sobre a armadura com vazios (Aisyaqilumar2/ Shutterstock.com)

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CAUSAS DOS VAZIOS DE CONCRETAGEM

Mais comuns em obras que utilizam concreto virado no canteiro com pouco controle tecnológico, as bicheiras em concreto armado são comumente causadas por erros no processo de concretagem, especialmente nas etapas de lançamento e adensamento. “Uma das principais características do concreto é sua trabalhabilidade que deve ser apropriada às dimensões das peças a serem concretadas e a forma de vibração a ser aplicada. Quando a trabalhabilidade não está adequada, o concreto não consegue preencher todos os espaços das peças e aí surgem vazios”, explica o engenheiro Arcindo Vaquero y Mayor, consultor na área de tecnologia do concreto ligado à Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem).

Via de regra, são indutores de bicheiras o uso de concreto pouco coeso e com excesso de agregado graúdo. Por isso, a dosagem adequada dos componentes da mistura é decisiva para evitar os vazios de concretagem.

Uma das principais características do concreto é sua trabalhabilidade, que deve ser apropriada às dimensões das peças a serem concretadas e à forma de vibração a ser aplicada. Quando a trabalhabilidade não está adequada, o concreto não consegue preencher todos os espaços das peças e aí surgem vazios
Arcindo Vaquero y Mayor

Há casos em que a falha é resultado de problemas no detalhamento da armadura ou na montagem das fôrmas. Um ninho de concretagem costuma aparecer, por exemplo, em locais onde o espaçamento da armadura é insuficiente e utilizam-se agregados graúdos. “Da mesma forma, quando as fôrmas não são estanques, a nata de cimento tende a escorrer pelas frestas, gerando acúmulo de brita na parte superior, ocasionando falhas no concreto”, comenta o engenheiro Egydio Hervé Neto, consultor em tecnologia de concreto.

Vibrar o concreto de mais ou de menos também pode provocar vazios de concretagem. Isso porque a vibração excessiva da mistura pode levar à segregação de componentes. Já a falta de vibração em uma mistura que requer esse tipo de ação mecânica irá comprometer a homogeneidade do concreto e sua distribuição sobre as fôrmas. Hervé lembra que o tipo de vibrador, a intensidade e o tempo de vibração dependem fundamentalmente da dimensão dos agregados e da densidade da armação. Quando utilizada vibração mecânica, a recomendação é evitar a vibração da armadura para que não se formem vazios no seu entorno.

Algumas situações de concretagem são mais suscetíveis ao aparecimento de bicheiras e, por isso mesmo, devem receber atenção redobrada. É o caso de locais que precisam que o lançamento do concreto aconteça a alturas superiores a 3 m ou em áreas com juntas frias (encontro de janelas, por exemplo) e pontos de descontinuidade das fôrmas.

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COMO EVITAR VAZIOS DE CONCRETAGEM

Um controle de dosagem rigoroso, associado a um plano de concretagem adequado e a boas práticas na hora do lançamento e do adensamento são chaves para evitar as bicheiras em concreto armado, assegura o engenheiro Rubens Curti, especialista em concreto da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). Mas a adição de aditivos plásticos para tornar o concreto mais fluído e a preferência pelo concreto autoadensável também podem colaborar para evitar falhas de concretagem. “Esses materiais são mais equilibrados reologicamente e têm uma viscosidade ideal que facilita o preenchimento das formas, inclusive em concretagens mais difíceis”, compara Mayor, ressaltando que o concreto autoadensável dispensa o uso de vibradores, que também podem ser causadores de vazios e defeitos em elementos concretados quando mal utilizados.

TRATAMENTO DOS VAZIOS DE CONCRETAGEM

Diagnosticar um ninho de concretagem em um pilar, viga ou parede não é difícil. Muitas vezes uma simples análise visual após a retirada das fôrmas é suficiente para detectar o problema. Um erro comum no tratamento do vazio de concretagem é simplesmente preenchê-lo com argamassa, sem sua completa remoção prévia.

Quando as fôrmas não são estanques, a nata de cimento tende a escorrer pelas frestas, gerando acúmulo de brita na parte superior, ocasionando falhas no concreto
Egydio Hervé Neto

Diante de patologias simples, quando a falha é pontual e não há exposição das ferragens, basta fazer o reparo com aplicação de argamassa de cimento e areia fina e com aditivo adesivo sintético. Nesses casos, é fundamental garantir que a parte refeita do concreto tenha características semelhantes às do concreto original e a aderência entre o material novo e o existente seja adequada. São consideradas bicheiras pequenas aquelas que apresentam algumas cavidades dispersas de até 3 cm de profundidade ou largura.

Já quando a falha de concretagem é de grande extensão – mais de 3 cm – e há o aparecimento da armadura e/ou segregação do concreto, o tratamento será mais trabalhoso. Para essas situações, a recomendação é verificar todos os detalhes do defeito, sua localização e extensão. Só então deve-se escolher a melhor estratégia de intervenção.

Na maioria das vezes é possível solucionar o problema com o uso de adesivos à base de epóxi para solidificar um novo concreto ou graute depois da remoção de todo o concreto segregado e da limpeza da área. Mas há casos em que a bicheira compromete o elemento de tal forma que a única saída viável é partir para sua demolição e reconstrução.

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Colaboração técnica

 
Arcindo Vaquero y Mayor – consultor na área de tecnologia do concreto ligado à Abesc (Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Concretagem)
 
Egydio Hervé Neto – engenheiro e consultor em tecnologia de concreto.
 
Rubens Curti – engenheiro especialista em concreto da ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)