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Taipa de pilão é solução ecoeficiente para construção de edificações

Técnica construtiva milenar é capaz, ainda, de regular a temperatura interna da edificação e criar estruturas totalmente sólidas e impermeáveis, sem trincas e rachaduras

Publicado em: 30/05/2018Atualizado em: 05/03/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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A taipa de pilão garante conforto térmico à edificação (fstockfoto/shutterstock)

Técnica construtiva bastante comum no período colonial do Brasil, a taipa de pilão continua presente em edificações modernas. Milenar, a solução mantém seu espaço por oferecer diferentes benefícios. Sua principal vantagem é o aproveitamento da terra retirada do próprio local onde a obra será executada, eliminando a necessidade de transporte de outros materiais.

“É possível aproveitar até 100% da terra existente no canteiro”, destaca o arquiteto Rafael Loschiavo, fundador das empresas Ecoeficientes, ecoBeco, ecomódulo e cofundador da Noocity Brasil. O material permanece ambientalmente interessante durante toda sua vida útil. No momento de descarte, volta ao seu estado inicial de terra, ou seja, não gera resíduo.

O conforto térmico é outra característica positiva da taipa de pilão. Mesmo sem a incorporação de outros elementos, ela é capaz de regular a temperatura interna da edificação. O uso da técnica construtiva cria estruturas totalmente sólidas e impermeáveis, sem trincas e rachaduras, devido à expressiva compactação da terra.

FABRICAÇÃO DA SOLUÇÃO

A taipa de pilão é fabricada com o uso de fôrmas de madeira, denominadas taipais. O barro é adicionado e compactado. “O pilador manual ou batedores pneumáticos podem ser usados nessa etapa”, diz o especialista. Quando utilizada a ferramenta mecânica, é possível produzir diariamente até 15 m² de paredes com 30 cm de espessura.

A terra é disposta em camadas de, aproximadamente, 15 cm de altura e precisa ser pressionada até que atinja a densidade ideal. Quando o barro chega à altura equivalente a 2/3 do taipal, recebe elementos cilíndricos envolvidos por vegetação, geralmente folhas de bananeira. Esses materiais criam aberturas na taipa, chamadas de cabodás, que permitem o ancoramento da estrutura em nova posição. Ao final do procedimento, a fôrma é retirada e não há necessidade de aplicação de revestimentos.

Dependendo do clima da região e do tipo de terra utilizado, é possível acrescentar no processo de fabricação alguns elementos para melhorar o desempenho do material. “O uso de um pouco de cimento permite a execução de parede com maior estabilidade. Para repelir a água, são adicionados hidrofugantes e aditivo que impede o surgimento de fungos”, detalha o arquiteto.

CONSTRUINDO COM TAIPAS DE PILÃO

O uso do material tem que ser estabelecido já na etapa de projeto. No momento inicial, são planejados e calculados o isolamento entre a taipa e o piso; as alternativas para evitar o contato da parede com a chuva; os métodos de amarração entre as peças; e proteção contra umidade, entre outros recursos.

A taipa de pilão é indicada para qualquer tipo de edificação, porém é mais utilizada em ambientes residenciais
Rafael Loschiavo


“A taipa de pilão é indicada para qualquer tipo de edificação, porém é mais utilizada em ambientes residenciais. Pela característica estética, acaba também sendo aproveitada em recepções de empreendimentos comerciais, por exemplo”, fala Loschiavo. Por outro lado, a solução não é recomendada para áreas que sejam bastante molhadas.

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CARGAS E ESFORÇOS

Quando executada com taipa de pilão, a parede não deve ser projetada para permanecer em balanço. O ideal é que sempre esteja “encaixada” em outras estruturas. Na etapa de projeto, também é importante prever o peso que será aplicado sobre a parede, evitando que toda a carga fique concentrada em um único ponto. “É fundamental distribuir esse peso”, ressalta o especialista.

Apesar de permitir a passagem de sistemas elétricos e hidráulicos em seu interior, a parede de taipa de pilão não deve receber essas instalações, se possível. “A partir do momento em que existem outros elementos na equação, as propriedades da estrutura acabam sendo comprometidas. A recomendação é optar por soluções como o uso de cantoneiras ou tubulações aparentes”, comenta Loschiavo.

TAIPA DE PILÃO X PAREDE DE CONCRETO

As paredes elaboradas com taipa de pilão são tão duráveis e resistentes quanto as de concreto. No Brasil, existem exemplos de casas construídas com o material há mais de 300 anos e que permanecem íntegras.

A solução é ainda mais resistente quando não sofre torção, ou seja, se o esforço ocorrer na vertical. “Se a parede sofrer elevado esforço horizontal, pode acabar tombando. Somente através do planejamento prévio é possível tornar os esforços coerentes com as propriedades do material”, destaca o arquiteto.

É bom saber
Diferentemente do que alguns imaginam, a taipa de pilão não atrai insetos, que costumam se esconder nas frestas das paredes. É comum o brasileiro associar a existência do barbeiro, transmissor da doença de Chagas, com construções mais simples. “Esse e outros insetos se disseminam nas chamadas casas de ‘pau a pique’. Elas são feitas de barro e madeira sem obedecer a técnicas construtivas como os da taipa de pilão, onde não há frestas”, conclui.

SUSTENTABILIDADE

A técnica é uma das maneiras mais ecoeficientes de construção e indicada para obras que visam o desenvolvimento sustentável
Rafael Loschiavo

Segundo o especialista, não existe material totalmente sustentável. “A sustentabilidade é deixar para as próximas gerações a mesma disponibilidade de recursos que temos atualmente”, diz. Porém, a taipa de pilão pode ser considerada uma solução ecoeficiente, que são aquelas capazes de reduzir o consumo de recursos e maximizar o aproveitamento de alternativas renováveis. “A técnica é uma das maneiras mais ecoeficientes de construção e indicada para obras que visam o desenvolvimento sustentável”, finaliza Loschiavo.

Colaboração técnica

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Rafael Loschiavo – Arquiteto e Urbanista formado pela FAAP, tem mestrado em Bioclimática pela Universidade Politécnica da Catalunya. Especializado em sustentabilidade, é fundador das empresas Ecoeficientes, ecoBeco, ecomódulo e cofundador da Noocity Brasil.