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Sistema de esgoto exige projeto e execução conforme a norma

Para evitar gambiarras durante a obra e problemas futuros, é fundamental que o sistema seja projetado e executado de acordo com a norma técnica

Publicado em: 27/04/2021Atualizado em: 16/11/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Esgoto predial
O sistema deve possibilitar que seus componentes sejam facilmente inspecionáveis e evitar o acesso de esgoto ao subsistema de ventilação (Foto: Maksim Safaniuk/Shutterstock)

O sistema de instalações prediais de esgotos sanitários é composto por inúmeros componentes. De acordo com o engenheiro e professor Roberto de Carvalho Junior, consultor independente em instalações prediais, os principais são os aparelhos sanitários, desconectores ou sifões, ralos, caixas sifonadas, ramal de descarga, ramal de esgoto, tubo de queda, coluna de ventilação, subcoletor, dispositivos de inspeção (caixa de inspeção e caixa de gordura), coletor predial e válvula de retenção. Ele detalha a função de cada um deles:

• O aparelho sanitário é destinado ao uso da água ou ao recebimento de dejetos líquidos e sólidos (na maioria das vezes, pertencentes à instalação de esgoto sanitário);
• Desconector é o dispositivo dotado de fecho hídrico, com a função de vedar a passagem de gases no sentido oposto ao deslocamento do esgoto;
• Normalmente, os ralos secos (sem proteção hídrica) são utilizados para receber águas provenientes de chuveiro (box), pisos laváveis, áreas externas, terraços, varandas etc. Não devem, entretanto, receber efluentes de ramais de descarga;
• A caixa sifonada tem forma cilíndrica e provida de desconector. Ela recebe efluentes de conjuntos de aparelhos como lavatórios, bidês, banheiras e chuveiros de uma mesma unidade autônoma, assim como as águas provenientes de lavagem de pisos – nesse caso, deve ser provida de grelha;
• Ramal de descarga é a tubulação que recebe diretamente os efluentes de aparelhos sanitários (lavatório, bacia etc.). O ramal da bacia sanitária deve ser ligado diretamente à caixa de inspeção (edificação térrea) ou no tubo de queda de esgoto (instalações em pavimento superior). Os ramais do lavatório, da banheira, do ralo e do tanque devem ser ligados à caixa sifonada;
• O ramal de esgoto recebe os efluentes dos ramais de descarga. Suas ligações ao subcoletor ou coletor predial devem ser efetuadas por caixa de inspeção, em pavimentos térreos, ou tubos de queda, em pavimentos sobrepostos;
• Tubo de queda é a tubulação vertical existente nas edificações de dois ou mais pavimentos, que recebe os efluentes dos ramais de esgoto e dos ramais de descarga;
• Coluna de ventilação é a tubulação vertical que possibilita o escoamento do ar da atmosfera para o interior das instalações de esgoto, e vice-versa, com a finalidade de protegê-las contra possíveis rupturas do fecho hídrico dos desconectores;
• Subcoletor é a tubulação horizontal que recebe os efluentes de um ou mais tubos de queda ou de ramais de esgoto. Devem ser construídos, sempre que possível, na parte não edificada do terreno. No caso de edifícios com vários pavimentos, normalmente, são fixados sob a laje de cobertura do subsolo, por meio de braçadeiras. Nesses casos, devem ser protegidos e de fácil inspeção;
• A caixa de inspeção permite a inspeção, limpeza e desobstrução das tubulações de esgoto;
• A caixa de gordura tem a função de reter, em sua parte superior, as gorduras, graxas e óleos contidos no esgoto, formando camadas que devem ser removidas periodicamente, evitando, dessa maneira, que esses componentes escoem livremente pela rede de esgoto e gerem obstrução;
• Coletor predial é o trecho de tubulação compreendido entre a última inserção de subcoletor, ramal de esgoto ou de descarga ou caixa de inspeção, e o coletor público.

A vedação hídrica evita que odores e insetos provenientes dos ramais de esgoto penetrem pelas aberturas dos ralos
Roberto de Carvalho Junior

O engenheiro explica que o fecho hídrico do sistema de esgoto é uma camada líquida, com altura mínima de 5 cm, que serve para vedar a passagem dos gases contidos nos esgotos. “A vedação hídrica evita que odores e insetos provenientes dos ramais de esgoto penetrem pelas aberturas dos ralos”, ensina.

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Projeto de acordo com a norma

As condições técnicas para projeto e execução das instalações prediais de esgotos sanitários são estabelecidas pela NBR 8160:1999, atendendo às exigências mínimas quanto à higiene, segurança, economia e conforto dos usuários. Carvalho esclarece que a norma estabelece uma série de critérios para o projeto, de modo a evitar a contaminação da água e garantir sua qualidade de consumo, tanto no interior dos sistemas de suprimento e de equipamentos sanitários, como nos ambientes receptores.

“É requisito que o sistema permita o rápido escoamento da água utilizada e dos despejos introduzidos, evitando a ocorrência de vazamentos e a formação de depósitos no interior das tubulações. Deve impedir que os gases provenientes do interior do sistema predial de esgoto sanitário atinjam áreas de utilização e, também, o acesso de corpos estranhos ao interior do sistema”, explica. O sistema deve ser projetado de maneira a possibilitar que seus componentes sejam facilmente inspecionáveis e evitar o acesso de esgoto ao subsistema de ventilação. Além disso, é preciso que admita a fixação dos aparelhos sanitários somente por dispositivos que facilitem sua remoção para eventuais manutenções. “É fundamental não interligar o sistema de esgoto sanitário com outros sistemas”, diz.

O bom projeto de esgoto predial se diferencia dos demais pela compatibilização das instalações com os projetos arquitetônico e estrutural
Roberto de Carvalho Junior

“O bom projeto de esgoto predial se diferencia dos demais pela compatibilização das instalações com os projetos arquitetônico e estrutural”, ressalta o engenheiro, lembrando que as instalações prediais são subsistemas que devem ser integrados ao sistema construtivo proposto pela arquitetura, de forma harmônica, racional e tecnicamente correta. Quando não há coordenação e (ou) entrosamento entre o arquiteto e os profissionais contratados para a elaboração dos projetos complementares, pode ocorrer uma incompatibilização entre os projetos. “Condição que, certamente, aparecerá depois, durante a execução da obra, gerando inúmeras improvisações para solucionar os problemas surgidos e finalizar a execução das instalações”, alerta.

Erros comuns

Segundo o engenheiro, são vários os erros observados em sistemas de esgoto. Ele destaca a ligação do ramal de ventilação a uma coluna de ventilação sem a “alça de ventilação”, de modo a impedir o acesso de esgoto sanitário ao interior do tubo ventilador. “Esse é o maior problema. Poucos instaladores colocam o ramal de ventilação do esgoto em seu ponto correto e fazem a ‘alça de ventilação’ com uma altura adequada. Mesmo que se projete corretamente, alguns encanadores, na hora da execução das obras, tratam de suprimir esta alça acreditando em uma economia, por total desconhecimento de sua serventia”, conta.

Outro erro é quando a ligação do ramal do primeiro pavimento é realizada próxima ao pé da coluna. “Esta ligação do primeiro pavimento, na área de maior pressão de impacto (zonas de sobrepressão), pode causar um possível retorno da espuma para os andares localizados em cotas mais baixas”, expõe.

Os entupimentos também são muito comuns. O entupimento do ramal da bacia sanitária, por exemplo, normalmente acontece por falta de educação de quem usa o aparelho, pois é muito comum o usuário achar que lixo e esgoto são a mesma coisa. Outra causa importante de entupimento é o uso inadequado de conexões. “É possível observar, em alguns projetos sanitários, a aplicação de joelhos e curvas em 90° nas mudanças de direção na horizontal, sendo que esta aplicação não está correta. No lugar dessas peças, deve-se aplicar conexões com ângulos de 45°, melhorando o escoamento e proporcionando maior facilidade na manutenção da rede em casos de entupimento”, orienta Carvalho, acrescentando que a NBR 8160:1999 prevê que as mudanças de direção nos trechos horizontais devem ser feitas com peças com ângulo central igual ou inferior a 45°. “Em instalações de esgoto, por exemplo, o TE nunca pode ser instalado na posição horizontal, pois não é uma peça direcional. Ao invés do TE, usa-se 2 junções em Y (45°), que são peças direcionais”, conclui.

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Colaboração técnica

Roberto de Carvalho Junior
Roberto de Carvalho Junior – Engenheiro civil, licenciado em Matemática, com habilitação em Física e Desenho Geométrico. Pós-graduado em Didática do Ensino Superior e mestre em Arquitetura e Urbanismo. Projetista de Instalações Prediais desde 1982, já elaborou inúmeros projetos de edificações de médio e de grande porte, executados em várias cidades do Brasil. Desde 1994, leciona disciplinas de instalações prediais em faculdades de Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia Civil. É palestrante e autor dos livros “Instalações Hidráulicas e o Projeto de Arquitetura”; “Instalações Elétricas e o Projeto de Arquitetura”; “Patologias em Sistemas Hidráulico-Sanitários”; “Instalações Prediais Hidráulico-Sanitárias – Princípios básicos para elaboração de projetos” e “Interfaces Prediais”, publicados pela editora Blucher. Atualmente, trabalha na área acadêmica e como consultor independente.