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Sistema de ar-condicionado central demanda manutenção programada periódica

Vistoria obrigatória realizada por profissional habilitado permite monitorar a qualidade do ar interior e garantir o funcionamento eficiente do sistema

Publicado em: 03/04/2017Atualizado em: 15/06/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Compostos por compressores, trocadores de calor, ventiladores, equipamentos de filtragem e controles, os sistemas de ar condicionado central necessitam de inspeções constantes. As verificações devem obedecer a critérios técnicos baseados em diferentes fatores, como a avaliação física dos equipamentos e a análise da qualidade do ar. A norma NBR 13971/2014 — Sistemas de Refrigeração, Condicionamento de Ar, Ventilação e Aquecimento — Manutenção Programada, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), é o documento que apresenta os requisitos a serem seguidos durante o procedimento. A realização das inspeções é obrigatória pela Portaria 3.523, do Ministério da Saúde, e a Resolução nº 9, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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Frequência mínima de intervenções é de 30 dias, considerando os intervalos para limpeza ou substituição dos filtros de ar e a higienização das bandejas de condensação (crédito: Lisa F. Young/Shutterstock.com)

“As verificações são executadas por profissionais devidamente capacitados e com a supervisão do responsável técnico. A atividade tem que obedecer aos requisitos das normas de segurança do trabalho”, destaca o engenheiro Arnaldo Lopes Parra, vice-presidente de Marketing da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava). A frequência mínima de intervenções é de 30 dias, considerando os intervalos para limpeza ou substituição dos filtros de ar e a higienização das bandejas de condensação. Também deve ser realizado o asseio da sala de máquinas.

RESPONSABILIDADE TÉCNICA

A partir da Portaria 3.523, publicada pelo Ministério da Saúde em 1998, foi criado o Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC). Segundo o documento, proprietários, locatários e prepostos responsáveis por sistemas de climatização com capacidade acima de 5 TR (15.000 kcal/h = 60.000 BTU/h) devem manter responsável técnico habilitado no empreendimento. O plano precisa apresentar também a identificação da edificação que tem ambientes climatizados; a descrição das atividades de manutenção que são desenvolvidas; a periodicidade das intervenções; além das recomendações para situações de falha do equipamento e de emergência.

O não cumprimento do regulamento técnico configura infração sanitária, sujeitando o proprietário ou locatário do imóvel, bem como o responsável técnico, a arcarem com sanções ou multas que chegam a até R$ 1,5 milhão. O responsável técnico pelo plano de manutenção deve ser profissional devidamente qualificado e que tenha sua habilitação no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea).

“O PMOC é uma atividade dividida em duas partes: a manutenção mecânica do sistema de refrigeração e a avaliação da qualidade do ar. A atividade relativa à manutenção mecânica é privativa aos profissionais da engenharia mecânica (engenheiros, tecnólogos ou técnicos). Já a avaliação da qualidade do ar poderá ser feita por engenheiros químicos, de segurança do trabalho ou sanitários”, explica Parra.

Leia também: O que é PMOC? Como montar um para a sua empresa

As verificações são executadas por profissionais devidamente capacitados e com a supervisão do responsável técnico
Arnaldo Lopes Parra

LIMPEZA DOS EQUIPAMENTOS

A limpeza dos equipamentos está entre as principais atividades das manutenções preventivas, porém há importantes tarefas que não estão diretamente ligadas à qualidade do ar. Visando a garantir a segurança do sistema, é fundamental verificar o aquecimento de cabos, realizar o reaperto de conectores elétricos, analisar as grandezas elétricas (correntes, tensões, entre outras), estudar a origem de possíveis ruídos e vibrações, conferir os sistemas de proteção e averiguar a performance frigorígena (temperaturas e pressões).

Normalmente, os filtros descartáveis de ar (tipo manta) são os componentes do sistema que precisam ser substituídos com maior frequência. “Existe ainda grande demanda pela troca de correias e rolamentos, devido aos desgastes naturais do uso”, comenta o engenheiro, lembrando que materiais elétricos, como contatores, relés, conectores e termostatos, são itens que se deterioram e também precisam ser substituídos com relativa periodicidade.

DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS

“O ar-condicionado central ‘conversa’ conosco. Basta saber entender seu ‘idioma’. Os sinais são evidentes para técnicos capacitados”, ressalta Parra. O principal sinal de que o equipamento necessita de manutenção, segundo o engenheiro, é a falta de rendimento, ou seja, quando começa a apresentar deficiências na refrigeração. “Nesse caso, pode existir falha no sistema frigorígeno. A inspeção com conjunto manifold analisador de gases ajuda no correto diagnóstico”, complementa. A avaliação das grandezas elétricas também é capaz de indicar sobrecargas ou deficiências no ciclo frigorígeno.

O ar-condicionado central ‘conversa’ conosco. Basta saber entender seu ‘idioma’. Os sinais são evidentes para técnicos capacitados
Arnaldo Lopes Parra

Ruídos fortes, geralmente, são indicativos de algum tipo de desgaste que pode levar ao colapso de diferentes componentes, como rolamentos, correias, ventiladores ou até o compressor. Filtros obstruídos também apresentam sons típicos, que lembram chiados. Já a existência de pó saindo pelos difusores é sinal de que, provavelmente, será necessária limpeza mais especializada no sistema de dutos. “A interpretação adequada da análise de qualidade do ar serve como base para eventuais medidas corretivas ou preventivas”, destaca o engenheiro.

Erro muito comum no procedimento de manutenção é concluir, de maneira prematura, que o compressor está avariado. Na verdade, o equipamento pode estar somente superaquecido, devido a alguma deficiência do ciclo frigorígeno. Falha comum é não considerar o estado de limpeza das serpentinas e trocadores de calor para o cálculo da carga de gás refrigerante. “Prática condenável é a remoção da proteção do sistema, o que chamamos de jump. Esse procedimento é um erro grosseiro e prática lesiva ao proprietário do equipamento”, adverte o especialista.

CONSUMO DE ENERGIA

Os efeitos da manutenção realizada de maneira inadequada são evidenciados diretamente no consumo energético. “Quando o equipamento está em condições adequadas, fornece ar de boa qualidade e opera dentro dos parâmetros estabelecidos pelas normas nacionais e internacionais. Já sistemas com manutenção deficiente, geralmente, funcionam com 15% a 20% de gasto adicional de energia elétrica, além de reduzir a troca térmica em cerca 25%”, destaca Parra.

Em casos extremos, quando o equipamento está operando no limite, a elevação no consumo de energia elétrica pode chegar a 40%. “É um gasto considerável nas grandes instalações”, diz o engenheiro. E ainda leva a outras consequências graves, como sobrecargas no sistema elétrico. Manutenções malfeitas podem ser constatadas nos filtros sujos, vencidos ou avariados, que afetam diretamente a qualidade do ar, disseminando pó, fungos e bactérias.

MANUTENÇÃO PLANEJADA

A verificação de sistemas instalados em ambientes onde o ar condicionado não pode permanecer muito tempo desligado, como hospitais, deve seguir cronograma acordado entre as partes. É necessário que tanto a equipe de manutenção quanto os usuários tenham conhecimento de quando o trabalho será realizado, e se ocorrerão eventuais interrupções. “O planejamento faz parte do Plano de Manutenção, Operação e Controle (PMOC) e contém, inclusive, parâmetros legais que devem ser cumpridos”, informa o especialista.

Segundo Parra, é importante sensibilizar os usuários sobre as necessidades e, principalmente, os benefícios proporcionados pelas boas práticas de manutenção. “Equipes capacitadas e bem orientadas conseguem otimizar o tempo em que equipamento ficará parado, com auxílio de ferramentas e produtos de última geração. Com isso, geram o mínimo de interferência nas atividades dos ocupantes da edificação”, completa.

Colaboração técnica

Arnaldo Lopes Parra – Engenheiro mecânico pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), engenheiro de refrigeração e ar-condicionado pela Escola Politécnica da USP e engenheiro do trabalho pela FAAP. Tem MBA em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie. Acumula 31 anos de experiência no setor de ar condicionado e refrigeração. É titular da consultoria Pósitron Engenharia. Ocupa os cargos de vice-presidente de Marketing e Comunicação da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava) e de presidente do Departamento Nacional de Instaladores de Ar-Condicionado. Membro do Comitê de Elaboração da Norma Brasileira de Manutenção - HVACR-ABNT.