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Sistema construtivo de fachada é determinante para o projeto

Projetistas especializados são fundamentais quando o sistema é o envelopamento do edifício. Já nas fachadas convencionais, sua presença não é tão comum, apesar de importante para evitar problemas futuros

Publicado em: 27/04/2021Atualizado em: 25/10/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Fachadas
Os erros mais comuns verificados em fachadas são os de projeto (Foto: IM_photo/Shutterstock)

Em empreendimentos de grande porte, o arquiteto – ouvindo os anseios do incorporador – é o principal definidor do sistema construtivo de fachada, que pode ser o convencional ou o envelopado. O desenvolvimento detalhado do projeto de fachada é mandatório quando a arquitetura opta pelo sistema não aderido, ou seja, o envelopamento do edifício por cortinas de vidro ou outros materiais e, também, por fachadas ventiladas.

As fachadas convencionais, também chamadas de aderidas, podem ser revestidas com ampla gama de materiais. “Nesses casos, é menos usual a atuação de projetista especializado”, diz o doutor em engenharia Jonas Silvestre Medeiros, diretor Técnico da Inovatec Consultores Associados.

Projeto e materiais

Nos projetos de fachadas convencionais, o arquiteto especifica os materiais, que vão desde os revestimentos cerâmicos ao porcelanato, passando por textura ou pintura, entre outros. Deve, ainda, indicar os materiais que constituem as camadas de revestimento: o emboço, camada que regulariza, garante estanqueidade, permite a colocação de telas e a execução de juntas; e, também, a camada de aderência (chapisco).

O projetista atua em conjunto com o arquiteto, para que o projeto possa chegar ao máximo de detalhamento, objetivando a compatibilização entre todos os elementos da fachada e suas interfaces
Jonas Silvestre Medeiros

A partir daí a obra se ocupa da execução ou contrata especialista em revestimentos convencionais. “O projeto de arquitetura define previamente as interfaces dos revestimentos com os demais elementos que vão compor a fachada, o que não é suficiente para a execução”, comenta, alertando que é papel do projetista detalhar as soluções desses encontros de elementos. A falta desse detalhamento é, em geral, a origem de futuros problemas.

Diferentemente das fachadas convencionais, o sistema de envelopamento exige projeto realizado por especialista na área, contemplando caixilharia e fachadas cortinas de vidro, painéis pré-fabricados ou steel frame, entre outros sistemas. “O projetista atua em conjunto com o arquiteto, para que o projeto possa chegar ao máximo de detalhamento, objetivando a compatibilização entre todos os elementos da fachada – em geral, mais de um e combinados entre si –, e suas interfaces”, explica.

Dificuldades de aplicação e patologias

A análise da aplicabilidade, vida útil e manifestações patológicas dos materiais envolvidos deve considerar as particularidades de cada uma das famílias de fachadas. “Quando se trata de revestimento de fachada convencional, o universo é bem diferente tanto em termos de aplicabilidade, como de vida útil e de manifestações patológicas. Todos os materiais são passíveis de defeitos, variando de acordo com a qualidade do projeto, da aplicação e do material”, aponta Medeiros.

Utilizando sistemas mecânicos para a fixação dos elementos, as fachadas não aderidas embarcam intensa engenharia, o que leva a uma redução dos riscos envolvidos e da expectativa de defeitos. “Quanto mais engenharia, detalhamento, análise de desempenho e escolha técnica, o que se espera é que a solução utilizada para a fachada seja mais eficiente”, frisa, acrescentando que a aplicação de alguns materiais pede mais cuidados. Somente com projeto bem detalhado é possível a instalação de elementos que movimentam mais, de maior massa e difíceis de serem manipulados, como vidros e metais.

São, portanto, níveis diferentes de dificuldades. A aplicação de revestimentos em fachadas convencionais, atividade mais artesanal, depende da capacidade e experiência do aplicador. Já nas fachadas envelopadas, o projeto é preponderante e, na execução, predominam os equipamentos e acoplamentos, envolvendo mais engenharia.

Mix de elementos e materiais

Os desafios do projeto de fachadas são, segundo ele, a reunião de todos esses fatores somados aos recursos arquitetônicos e especialidades. “Hoje, é muito comum que os projetos combinem vários elementos, o que os torna, além de belos, desafiadores”, ressalta. Por exemplo, quando se tem numa mesma fachada uma aba de alumínio, uma cortina de vidro, um elemento de fachada ventilada com revestimentos em pedra ou porcelanato e, ainda, painéis pré-fabricados.

Desde a concepção até a instalação e manutenção, quanto mais se misturam elementos, mais o projeto fica interessante e maiores são os desafios para o projetista
Jonas Silvestre Medeiros

Tal nível de complexidade é acompanhado por grande número de interfaces, várias equipes atuando na produção e instalação, o que requer planejamento e controle. Mas, é o projeto que vai permitir a boa execução da fachada. “Desde a concepção até a instalação e manutenção, quanto mais se misturam elementos, mais o projeto fica interessante e maiores são os desafios para o projetista. Particularmente, gosto de fachadas concebidas com essa riqueza de materiais, que foge do padrão de caixote uniforme com apenas um material conforme vimos por muito tempo”, comenta.

Há, atualmente, uma ampla gama de materiais que o arquiteto tem à disposição, com o desafio de combiná-los para que o projeto atenda a todos os requisitos, inclusive estéticos. As possibilidades vão dos painéis laminados de alta pressão, fenólicos ou melamínicos, passando por concreto polímero, placas cimentícias, painéis pré-fabricados, metálicos compostos, até os pétreos, porcelanato, vidro, cortinas unitizadas.

“Tendência internacional, a rigor toda fachada deveria ser pensada dessa forma. Imagine uma fachada oeste totalmente em vidro! Obviamente que ali tem um calor mais intenso sendo gerado pela fachada. Ou outra voltada para a região mais chuvosa, com material poroso onde cresce micro-organismo com facilidade. Portanto, é natural que haja uma combinação de materiais para melhor desempenho. É desafiador, mas é também o caminho que devemos adotar”, afirma.

Erros recorrentes

De acordo com Medeiros, os erros mais comuns verificados em fachadas são os de projeto. Eles já nascem na concepção da arquitetura e na especificação, gerando problemas de desempenho em decorrência de um material escolhido para uma orientação indevida. “As consequências podem ser problemas térmicos, acústicos, de descolamento, de acidentes”, diz. Além disso, no Brasil, não é prática comum projetar detalhadamente as fachadas, deixando muita coisa para ser solucionada na obra, onde não há recursos ou tempo para decisões apropriadas.

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Colaboração técnica


Jonas Silvestre Medeiros – É engenheiro civil, doutor em Engenharia de Construção Civil e ex-professor da Escola Politécnica da USP. Foi coordenador do Manual de Tecnologia de Vedações e Revestimentos para Fachada de Edifícios elaborado para o CBCA - Centro Brasileiro da Construção em Aço, autor do livro “Construção: 101 Perguntas & Respostas” e do Manual Técnico “A Nova Norma de Revestimentos Cerâmicos de Fachadas” pela Weber Quartzolit. É professor convidado do Mestrado Profissional em Habitação do IPT e diretor técnico da Inovatec Consultores Associados, empresa pioneira na introdução e projeto de fachadas ventilada e light steel frame no Brasil. Fundador e CEO da CubiCon, a primeira startup brasileira de construção modular.