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Rochas ornamentais demandam conservação e limpeza

Uso de produtos com formulação neutra, prevenção do contato com substâncias quimicamente agressivas ou pigmentantes e aplicação de impermeabilizantes são alguns cuidados importantes

Publicado em: 13/08/2013Atualizado em: 30/10/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Balcão de mármore

Conhecidas por sua resistência e durabilidade, as pedras naturais usadas como revestimentos, tais como granitos, mármores, limestones, travertinos, não são imunes a agressões químicas e mecânicas. Por isso, demandam cuidados específicos de conservação e limpeza, que além de manter os atributos estéticos, ajudam a prevenir danos que possam ser causados por substâncias manchantes ou abrasivas.

Manuseio no canteiro de obras

Os cuidados com as rochas ornamentais começam antes mesmo da sua aplicação. Na obra, o ideal é acondicioná-las em local seco e limpo, de preferência, sobre cavaletes e envoltas em material impermeável. Deve-se evitar o contato com materiais quimicamente ativos comumente manuseados no canteiro, como pregos, palhas de aço e latas de tinta, recomenda o geólogo Cid Chiodi Filho, consultor da Associação Brasileira de Rochas Ornamentais (Abirochas).

“A madeira, por exemplo, é um material decomponível e pigmentante. Quando molhada, pode manchar a pedra”, alerta o consultor. Danos e alterações também podem ser causados por massa de vidraceiro (e outros produtos com alta oleosidade), soda cáustica, cal, tintas e urina. Uma vez assentados, convém manter os ladrilh os protegidos até a finalização dos trabalhos, de forma a evitar contato com poeira e areia, que podem provocar riscamentos.

Barreiras de proteção

O excesso de água é associado a diversas patologias em rochas ornamentais. Entretanto, na maior parte das vezes, o manchamento do material se dá por umidade ascendente, proveniente do contrapiso ou da sub-base, esclarece o consultor da Abirochas. A prevenção das infiltrações envolve a impermeabilização do tardoz do ladrilho e do piso (especialmente no caso de casas térreas, terrenos muito úmidos ou em locais com passagem de tubulações de água).

De acordo com a geóloga Maria Heloisa Frascá, especialista em caracterização e uso de pedras naturais, é importante que a impermeabilização seja bem planejada e executada para que a rocha ‘respire’, evitando que a água fique aprisionada entre o ladrilho e o solo, o que também pode causar deterioração.

Por sua vez, a proteção da face é recomendada em aplicações nas quais a rocha estará permanentemente exposta à água ou a agentes químicos agressivos e/ou manchantes. São os casos, por exemplo, de tampos de pia e de mesas de refeição, e balcões de restaurantes, bares, padarias, no quais o contato com substâncias como café, vinagre, suco de limão, refrigerante, mostarda e gordura corporal, entre outras, é permanente.

Os produtos geralmente especificados para criar uma barreira contra o ataque de agentes como esses são os selantes (hidro e óleo-repelentes) e os impermeabilizantes. De característica impregnante, os selantes penetram na superfície da rocha e, teoricamente, não alteram seu padrão estético. Já os impermeabilizantes criam uma camada pelicular de proteção. O uso desses produtos, pontua Cid Chiodi, não ajuda a evitar danos por abrasão ou riscamento. Além disso, deve ser muito avaliado, pois o emprego incorreto pode ser ainda mais danoso à rocha.

Para pias e balcões onde há manuseio de alimentos, os selantes mais indicados são os hidro e óleo-repelentes de base água. Outra orientação importante é limpar, o mais rapidamente possível, toda substância potencialmente manchante derramada sobre o revestimento.

Manutenção periódica

A geóloga Maria Heloisa Frascá chama a atenção para a escolha criteriosa dos produtos de limpeza, uma vez que o emprego inadequado pode resultar em danos irreversíveis ao revestimento. Em rochas com acabamento polido, no geral, a recomendação é usar apenas água e detergente neutro, aplicados com pano de chão. “Nunca se deve usar nada diretamente sobre a pedra. O ideal é sempre diluir”, diz.

Em rochas com acabamento rústico, a escovação aliada ao uso de produtos com pH neutro se faz necessária para evitar a incrustação de sujeira. Áreas de grande circulação de pessoas, como shoppings e supermercados, podem requerer limpeza profissional, que faz uso de equipamentos especializados e produtos geralmente com formulações não agressivas.

É fundamental, salienta Cid Chiodi, que a limpeza seja sistemática. Deve-se evitar o uso excessivo de água, embora se admita o emprego de jato de água na lavagem de rochas com acabamento não-polido aplicadas em ambientes externos. Sapólios, soda cáustica, álcool, removedores, solventes e produtos com ácido em sua composição devem ser evitados.3

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Tratamentos e restauração

“Os procedimentos mais comuns para a remoção de manchas e outras alterações superficiais incluem o repolimento, aplicação de ácido oxálico (solução de 10% em volume), aplicação de água oxigenada, aplicação de pasta de gesso, jateamento de areia (para superfícies não reflectantes e aplicação de água quente e/ou vapor d’água sob pressão).” As informações constam no Guia de Aplicação de Rochas em Revestimento da Abirochas.

A eficiência dos tratamentos para eliminar manchamentos, pondera Maria Heloisa, depende do estágio de alteração da rocha. “Se os minerais estiverem se alterando, esse processo irá continuar mesmo após a realização do tratamento.” De qualquer forma, é sempre indicado testar uma amostra do produto em uma área específica para avaliar sua reação e eficácia. O uso do peróxido de hidrogênio (água oxigenada), por exemplo, pode trazer resultados satisfatórios, mas também prejudicar o brilho do material. “As pedras são produtos naturais, não temos como saber exatamente a composição. Há sutilezas”, afirma a especialista.

Principalmente em áreas de alto tráfego, o repolimento se faz necessário para recuperar o brilho da pedra, resultado do desgaste por abrasão e por uso dos materiais de limpeza. O processo, que imita o polimento aplicado industrialmente à rocha, é feito por máquinas com escovas rotativas e agentes polidores. Para maior proteção, pode-se optar pelo polimento com resina. "Sempre checar junto ao fornecedor da rocha o tipo do polimento. A informação ajuda a definir a necessidade ou não de impermeabilização da face superior", orienta o geólogo.

A frequência de realização do repolimento varia conforme o grau de abrasão da rocha, do polimento executado e do nível de tráfego a que ela é submetida.

Qualidade

Ainda não foram editadas normas sobre procedimentos de conservação e limpeza de rochas ornamentais. Entretanto, em função do efeito agressivo de alguns agentes sobre as pedras, já existem testes normalizados que permitem prever o desempenho destas quando submetidas a certas condições. Entre esses ensaios, estão: Resistência ao Manchamento (ABNT NBR 13.819/87, Anexo G) o de Resistência ao Ataque Químico (ABNT NBR 13.819/87, Anexo H), exposição à névoa salina (ABNT NBR-8.094/83) e exposição ao dióxido de enxofre (ABNT NBR-8.096/83).

Colaboraram para esta matéria

Cid Chiodi Filho – EGraduado em Geologia pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). Trabalhou no CPRM (Serviço Geológico do Brasil) e Docegeo, em projetos de geologia e prospecção mineral. Especializou-se em rochas ornamentais e de revestimento e há quase 25 anos vem se dedicando ao tema. É sócio-gerente da Kistemann & Chiodi Assessoria e Projetos e consultor da Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais (Abirochas).
Maria Heloísa Frascá – Geóloga, doutora pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP). É sócia da MHB Serviços Geológicos e consultora em tecnologia de rochas para a construção civil, principalmente rochas ornamentais e para aplicação industrial. Foi pesquisadora no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) entre 1981-2012, presidente Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental (2006-2008) e secretária da Comissão de Revestimentos com Pedra da ABNT (2002-2010).