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Como escolher revestimentos cerâmicos e evitar patologias

Ao escolher placas cerâmicas para fachadas, arquiteto deve prever deformações da estrutura, conhecer condições climáticas do local e definir juntas e reforços

Publicado em: 05/10/2012Atualizado em: 05/07/2019

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket


Revestimento cerâmico exige cuidados
Destacamento de revestimento cerâmico em fachada


O uso de revestimento cerâmico em edifícios residenciais, comerciais e industriais é comum no Brasil, principalmente em cidades litorâneas. Mas de acordo com a professora Fabiana Andrade Ribeiro, mestre em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP), e sócia gerente da FCH Consultoria e Projetos, ao optar por este tipo de fachada o arquiteto deve prever ações que evitem destacamentos, manchamentos e fissuras, principais patologias desse tipo de acabamento.

Fabiana explica que ao especificar o material ainda na fase de projeto o arquiteto deve ter em mãos a avaliação das deformações previstas para a estrutura; conhecer as condições climáticas do local do empreendimento; e, conforme o material escolhido, definir a localização correta de juntas e reforços nos revestimentos de argamassa e demais detalhes construtivos necessários à fachada.


PATOLOGIAS


Destacamentos das placas
cerâmicas - são mais frequentes, mas também podem ocorrer nas camadas internas, no emboço ou chapisco. Fabiana explica que, muitas vezes, numa mesma fachada ocorrem tipos diferentes de destacamento do revestimento.


Revestimento cerâmico exige cuidados
Destacamento das placas cerâmicas e das camadas de chapisco / emboço


Manchamento das placas - muito comum, pode estar relacionado ao escoamento incorreto da lâmina dágua pela fachada e pela infiltração de água e deposição de sais solúveis na superfície – neste caso chamado de eflorescências. A professora explica que essa patologia pode estar relacionada à especificação incorreta ou à degradação dos materiais que compõem o sistema de revestimento.


Revestimento cerâmico exige cuidados
Manchas em fachadas de revestimentos cerâmicos


Fissuras
- são menos frequentes, pois muitas vezes ocorrem abaixo das placas cerâmicas, podendo ocasionar o destacamento. Quando aparecem, sinalizam que o sistema não foi corretamente projetado e executado para absorver as movimentações da base (alvenaria/estrutura).

 



CAUSAS

Os fatores que causam tais patologias em revestimentos cerâmicos de fachadas são inúmeros e, muitas vezes, se associam. Os destacamentos, por exemplo, ocorrem pela perda de aderência entre as camadas que compõem o sistema de revestimento: chapisco, emboço, argamassa colante e a camada de placa cerâmica. Esta perda ou falha de aderência, segundo explica Fabiana, ocorre entre quaisquer camadas e tem as mais diversas causas – que podem variar da limpeza e preparo inadequados da base (estrutura/alvenaria), até a molhagem inadequada da base (falta ou excesso), ausência de chapisco ou chapisco de baixa resistência.

O problema também pode ser provocado devido à especificação e uso incorreto de materiais componentes do sistema, tais como argamassas inadequadas, areia fina demais, tipo de cimento, aditivos incorretos ou argamassa colante imprópria para o tipo de solicitação que o revestimento terá. O que pode provocar um destacamento mais grave são as grandes espessuras do emboço. “Os desaprumos da estrutura e de alvenarias chegam a até 15 cm, constituindo um sistema que terá mais riscos de se destacar”, afirma.

Outro motivo de destacamento ainda comum nas obras é o preparo inadequado da argamassa colante ou o acréscimo de água. “Entretanto, a causa mais importante é a forma indevida de assentamento das placas cerâmicas. A técnica correta, muitas vezes, é desconhecida pelos assentadores ou ignorada por quem está fiscalizando e recebendo o trabalho”, opina.

Os manchamentos, por sua vez, são resultado da falta de um projeto de revestimento. “Fica claro que o escoamento incorreto da lâmina dágua pela fachada e os pontos de infiltração de água que originam eflorescências poderiam ser evitados se a fachada fosse adequadamente estudada”, diz. Outro tipo de mancha dos revestimentos, muito comum no passado, está relacionado aos materiais utilizados no preenchimento das juntas de dilatação. “Alguns materiais não adequados para esse tipo de aplicação atraem partículas da atmosfera, fazendo com que fiquem depositadas na superfície das placas cerâmicas”, explica a especialista.

O surgimento das fissuras, explica, está frequentemente relacionado à falta de capacidade do sistema para acomodar as movimentações diferenciadas entre a estrutura e a alvenaria. Neste caso, a falta de juntas de dilatação ou de reforços corretamente posicionados é uma importante causa. As movimentações diferenciais, por sua vez, ocorrem com mais frequência quando a região do empreendimento tem maior variação térmica e, também, em revestimentos com cores escuras.

Revestimento cerâmico exige cuidados
Eflorescência em fachada revestida por placas cerâmicas


COMO EVITAR


Para evitar as patologias em revestimentos de fachadas devem ser tomados alguns cuidados. Fabiana defende a tese de que o revestimento cerâmico deve ser pensado desde a concepção do empreendimento, nas fases de projeto, até seu uso, com a correta manutenção.

Na fase de projeto, explica, é importante conhecer e fazer uma correta avaliação das deformações previstas para a estrutura. “Uma estrutura muito deformável possibilita maior chance de patologias em revestimentos aderidos”, lembra. Na concepção do projeto, é fundamental obter informações sobre as características climáticas do local do empreendimento, como a insolação, variação térmica e a incidência de chuvas e ventos nas fachadas, fatores que aumentam as movimentações do edifício e das camadas do revestimento. Com o conhecimento destes fatores, é possível estabelecer a localização correta de juntas, reforços nos revestimentos de argamassa e demais detalhes construtivos necessários à fachada.

Ela orienta que buscar o conhecimento sobre as características e resistências dos materiais a serem utilizados também é importante para especificação e aplicação corretas de argamassas, placas cerâmicas e dos materiais de junta. Além disso, é preciso estudar a melhor forma de escoamento de água pelas fachadas.

Na fase de obra, o controle para evitar patologias deve começar durante a execução da estrutura. Quanto menores os desaprumos, mais bem-sucedida é a execução do revestimento. “Todas estas orientações e outras específicas para cada obra fazem parte de um projeto de revestimentos”, afirma, ao lembrar que o treinamento dos profissionais é indispensável. “Principalmente por ser o destacamento de placas cerâmicas a patologia de maior incidência neste tipo de revestimento, o uso da técnica correta de assentamento fará toda diferença”, afirma.


Em relação às soluções Fabiana comenta que tem visto os condomínios fazendo reparos sucessivos em suas fachadas, recolocando as placas cerâmicas que caíram. “Esses reparos muitas vezes não apresentam bons resultados e ficam mesmo com aspecto de remendo. É necessário, primeiro, conhecer as causas que originaram a ‘doença’. Um bom diagnóstico é fundamental antes de tomar as decisões de reparo. Caso contrário, as soluções podem ser paliativas”, conclui.


Redação AECweb / e-Construmarket


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Revestimento cerâmico exige cuidados Fabiana Andrade Ribeiro é Mestre em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP) e sócia gerente da FCH Consultoria e Projetos de Engenharia.