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Recuperação da Vila Itororó requer reforço estrutural

Primeira etapa do restauro contemplou a requalificação de três casas e um pequeno edifício

Publicado em: 09/03/2021

Texto: Juliana Nakamura

Recuperação da Vila Itororó
A Vila Itororó teve o seu processo de restauração iniciado em 2013 (Foto: Leo Giantomasi)

Fragmento da história paulistana, a Vila Itororó foi construída no início do século XX no bairro do Bixiga. Tombado pelo patrimônio histórico estadual e municipal, o conjunto ocupa uma área de aproximadamente 6 mil m², composto por um palacete e trinta casas.

Durante muitos anos, o local foi ocupado como cortiço. Em 2013 teve início um processo de restauração da Vila, resultado de uma parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo e o Instituto Pedra.

A primeira etapa desse projeto de restauração foi concluída no final de 2019 com a requalificação de três casas e de um prédio com nove apartamentos. A ideia é a de que as edificações se transformem em restaurante comunitário, espaço de residência artística, laboratório de fabricação digital e marcenaria, além da sede da Casa da Memória Paulistana.

PLANO DE RECUPERAÇÃO

A intervenção incluiu a restauração de fachadas, piso, cobertura, forro, esquadrias, instalações elétrica e hidráulica. Também contemplou a instalação de passarelas metálicas e de um elevador para facilitar a integração entre as residências.

O início dos trabalhos se deu com a limpeza da área e remoção cuidadosa de entulhos para garimpagem de materiais de interesse histórico ou de pesquisa. Também previu demolições de parte de edificações em estado crítico, bem como a montagem de escoramentos e proteções.

Recuperação da Vila Itororó
O maior desafio inicial foi com a limpeza da área e a
identificação do estado de conservação das edificações
e de suas diversidades (Foto: Leo Giantomasi)

“O maior desafio inicial foi com a limpeza da área e a identificação do estado de conservação das edificações e de suas diversidades. Foi o primeiro encontro com a história das edificações construídas”, conta a diretora de obras da Concrejato, Maria Aparecida Soukef Nasser.

O estágio de degradação, de modo geral, era bem elevado e variado. A casa 11, que consiste em um prédio com nove apartamentos, é o que estava em melhor estado de conservação, embora com muitos problemas de infiltrações, afloramento de água e trincas. As demais edificações - casas 5,6 e 7 - tinham seu estado de degradação mais avançado. “O mais interessante e instigante foi o entendimento do processo executivo de cada edificação. A falta de um partido executivo único transformou o processo de restauração em uma descoberta diária”, recorda a engenheira da Concrejato.

O partido proposto pelo Instituto Pedra buscou respeitar a solução original projetada. Isso significa que onde estruturalmente existia madeira, o reforço foi feito com madeira. Os casos que exigiram uma intervenção mais radical, como por exemplo na estrutura de cobertura da casa 6, permitiu-se a substituição da madeira por uma estrutura metálica. “Os achados curiosos estruturais e revestimentos encontrados foram sempre respeitados e, à medida do possível, mantidos para entendimento da Vila Itororó, não só como conceito de moradia social, mas para guarda do conhecimento da execução”, comenta Nasser.

REFORÇO ESTRUTURAL

Por isso, em cada edifício restaurado foram usados reforços específicos em concreto, aço e madeira com a preocupação de não descaracterizar as edificações, mantendo a volumetria original.

Em alguns casos foram instalados perfis de aço nas áreas de varandas e executadas cintas de concreto junto às alvenarias, em substituição a peças de madeira deterioradas. Em outros, como na casa 11, foi preciso inserir novas vigas e pilares de aço, de acordo com o projeto estrutural realizado pelos profissionais do escritório Favale e Associados.

Toda a execução foi dividida em duas grandes etapas. A primeira, com duração de seis meses, envolveu a implantação do canteiro administrativo, além da limpeza e início das prospecções para complementação dos levantamentos em campo. A segunda fase, com duração de 24 meses, contemplou restauração, reforço e adaptação das quatro edificações.

Um apoio importante para a intervenção foi o escaneamento a laser 3D. A tecnologia foi utilizada para a catalogação de uma série de elementos artísticos que compõem o palacete, bem como para o diagnóstico de uma série de problemas de conservação e estabilidade do edifício.

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Colaboração técnica

 
Maria Aparecida Soukef Nasser - Engenheira civil com especialização em restauro do patrimônio histórico. É diretora de obras da Concrejato.