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Rebaixamento temporário do lençol freático exige equipamentos especializados

Se planejado ou executado de maneira inadequada, procedimento pode causar problemas para edificações vizinhas, como o surgimento de trincas, fissuras e até mesmo falhas estruturais

Publicado em: 25/11/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Rebaixamento temporário do lençol freático
Rebaixamentos realizados de maneira inadequada podem prejudicar as edificações vizinhas (Foto: Maksim Safaniuk/Shutterstock)

A execução de pavimentos subterrâneos ou fundações envolve a realização de escavações que podem atingir níveis abaixo da água presente no subsolo. Quando isso acontece, geralmente, há necessidade do rebaixamento temporário do lençol freático — procedimento efetuado por meio de sistemas de bombeamento e que demanda o envolvimento de profissionais e equipamentos especializados.

A denominação ‘provisório’ se deve ao fato de que a solução fica ligada e rebaixando o nível da água por um período. Depois disso é desativada, fazendo com que o lençol freático retorne ao normal
Ilan Gotlieb

“A denominação ‘provisório’ se deve ao fato de que a solução fica ligada e rebaixando o nível da água por um período. Depois disso é desativada, fazendo com que o lençol freático retorne ao normal”, explica o engenheiro Ilan Gotlieb, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica (ABEG).

Há diferentes maneiras de executar a intervenção, por exemplo, através de bombeamento interno em valas ou poços. “Também pode ser com uso de ponteiras a vácuo”, informa o engenheiro Habib Georges Jarrouge Neto, membro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS). “Outro método são os poços profundos com bombas submersas ou injetores”, completa o engenheiro Roberto Kochen, também associado à ABMS.

Consequências

Quando o rebaixamento temporário é dimensionado de maneira inadequada, os problemas não ficam restritos à própria obra. Erros no procedimento têm potencial de causar recalques em camadas compressíveis do solo, que podem gerar recalques e graves patologias em edificações vizinhas, especialmente quando elas têm estruturas precárias e fundações apoiadas diretamente no terreno.

“Apesar de os recalques das camadas compressíveis não afetarem o desempenho de edifícios com fundações profundas, podem atingir as tubulações de água e esgoto dos terrenos do entorno”, alerta Gotlieb. Outra situação causada pela intervenção equivocada é o surgimento de trincas, fissuras e falhas estruturais nos empreendimentos localizados nos arredores.

Responsabilidade

Quando vai realizar o rebaixamento temporário do lençol freático, a construtora tem a responsabilidade de evitar danos nas edificações existentes no entorno do canteiro. Para isso, o planejamento da intervenção deve ser baseado em cálculos precisos, bem como na análise dos recalques associados. “Caso sejam suficientes para causar problemas, precisam ser consideradas soluções de rebaixamento parcial e impermeabilização”, diz Neto.

Recomendação bastante importante é a elaboração de laudo de vistoria prévia dos imóveis vizinhos, a fim de identificar as construções e suas estruturas e fundações. “Normalmente, esses documentos são preparados por engenheiros peritos”, comenta Gotlieb. O seguro de responsabilidade também figura entre os cuidados que a construtora pode adotar, pois permite que eventuais danos ou patologias que surjam nas unidades próximas, desde que causadas pela obra, possam ser corrigidas.

Planejamento

O planejamento começa com a realização de sondagens na região, em número suficiente para montagem do perfil geológico e hidrogeológico do terreno afetado pela escavação. Os estudos geotécnicos permitem a identificação de camadas de solos compressíveis que, a partir do rebaixamento, possam apresentar recalques.

De acordo com Gotlieb, outra avaliação importante realizada a partir das sondagens é a verificação da existência de camadas permeáveis (geralmente arenosas), que fazem com que o sistema funcione de maneira eficiente. “Isso minimiza o tempo necessário para efetivamente se observar o rebaixamento do nível do lençol freático”, afirma.

Equipamentos

Além do adequado planejamento, o uso de equipamentos de qualidade é fundamental para o sucesso do procedimento. Sua especificação tem relação direta com o tipo de rebaixamento adotado. Em obras convencionais, por exemplo, a solução mais comum é a que utiliza ponteiras filtrantes — sistema formado por rede de ponteiras (tubos de PVC instalados em perfurações verticais no terreno), normalmente dispostas no perímetro da área em que se quer rebaixar o lençol, com espaçamento devidamente dimensionado.

Outros equipamentos que podem ser utilizados são as bombas submersas para rebaixamento interno em valas e escavações, bombas submersas e os injetores para poços profundos
Roberto Kochen

A rede de ponteiras é ligada a um sistema de bombeamento constituído por uma ou mais bombas, dependendo do tamanho do conjunto. “Já nos casos em que as escavações precisam atingir níveis ainda mais baixos no subsolo, como em obras do Metrô, podem ser empregados os poços profundos com bombeamento a vácuo”, comenta Gotlieb. A alternativa tem capacidade maior do que a opção com ponteiras.

“Outros equipamentos que podem ser utilizados são as bombas submersas para rebaixamento interno em valas e escavações, bombas submersas e os injetores para poços profundos”, complementa Kochen.

Mão de obra

É preciso contar com profissional experiente para o correto dimensionamento, execução adequada e manutenção do funcionamento
Habib Georges Jarrouge Neto

Por se tratar de intervenção complexa e que envolve elevada responsabilidade, a mão de obra que instala e opera o sistema deve sempre ser especializada. “É preciso contar com profissional experiente para o correto dimensionamento, execução adequada e manutenção do funcionamento”, recomenda Neto. “Durante a operação, é necessário monitorar as vazões bombeadas, pressões de vácuo, recalques e deslocamentos provocados no maciço adjacente, entre outros fatores e consequências”, informa Kochen.

“Também é importante a participação de um engenheiro geotécnico na determinação da necessidade ou não do rebaixamento e no dimensionamento da rede”, finaliza Gotlieb.

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Colaboração técnica

Habib Georges Jarrouge Neto
Habib Georges Jarrouge Neto — Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), tem pós-graduação em Engenharia de Túneis. É sócio da GeoCompany Engenharia Tecnologia e Meio Ambiente e membro da Diretoria Executiva do Instituto de Engenharia de São Paulo. Membro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS).
Roberto Kochen
Roberto Kochen — Engenheiro Civil formado pela Universidade de São Paulo (USP), é doutor em Mecânica das Rochas, professor da USP e sócio da GeoCompany Engenharia Tecnologia e Meio Ambiente. É Diretor de Infraestrutura do Instituto de Engenharia de São Paulo e membro da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS).
Ilan Gotlieb
Ilan Gotlieb – Engenheiro civil formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em Engenharia pela Cornell University, Nova Iorque (EUA). É sócio da MG&A Consultores de Solos e presidente da Associação Brasileira das Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica (ABEG).