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Radier de concreto é solução de fundação rasa para vários tipos de solo

Embora simples, o método não pode prescindir de cuidados tanto em seu dimensionamento, quanto nas etapas de execução. Conheça os tipos e onde usá-los

Publicado em: 23/04/2018Atualizado em: 10/08/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Se exposto a intempéries durante a fase de endurecimento, o concreto pode ter sua durabilidade comprometida (foto: shutterstock/Siarhei Dzmitryienka)

Os radiers de concreto consistem em um tipo de fundação rasa que funciona como uma laje contínua projetada para suportar as cargas de todos os pilares e paredes, bem como de eventuais pressões do lençol freático. Este elemento costuma ser utilizado em substituição às sapatas diretas, quando, por imposição do projeto, elas precisam se aproximar muito umas das outras ou se sobrepor.

Aplicável à maioria dos tipos de solo, exceto naqueles com baixa resistência superficial, o radier distribui – de modo uniforme – a carga da edificação e é utilizado, normalmente, em edifícios térreos ou com poucos pavimentos. Mas é possível encontrar exemplos de edifícios altos que se aproveitaram dessas fundações. Nesses casos, a laje de concreto armado é estaqueada com alturas consideráveis.

“O Burj Khalifa, por exemplo, arranha-céu localizado em Dubai, Emirados Árabes Unidos, foi erguido sobre um radier de 3,70 m de altura e estacas com diâmetro de 1.50 m”, conta o engenheiro Fábio Albino de Souza, autor do livro Radier simples, armado e protendido: teoria e prática. Segundo ele, o uso do radier poderia ser mais amplo se houvesse, no Brasil, uma norma técnica específica para tratar esse sistema de fundação.

A simplicidade de execução e o fato de dispensar intensas movimentações de terra fazem com que os radiers sejam bastante competitivos tanto em obras com sistemas estruturais tradicionais, quanto com projetos que envolvem soluções construtivas industrializadas, como light steel framing (aço) e o wood frame (madeira).

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Com o radier protendido, consegue-se uma velocidade de execução incrível. Afinal, todas as cordoalhas podem ser cortadas e pré-blocadas fora da obra, permitindo à construtora realizar atividades em paralelo
Fábio Albino de Souza

TIPOS DE RADIERS

O radier pode ser classificado como flexível (quando não possui vigas de concreto) ou rígido (quando tem vigas de concreto para aumentar sua rigidez). A opção por um ou outro modelo depende da resistência do solo, das cargas atuantes sobre o elemento de fundação e da intensidade e aplicação das ações da estrutura.

Dependendo das características do solo e da escala do projeto, o radier pode ser armado, protendido ou produzido com concreto reforçado com fibras. O primeiro, mais usual, é indicado para a construção de casas e de edifícios com, no máximo, quatro ou cinco pavimentos.

Em edificações mais altas, ou quando o radier precisa ser maior – com mais de 6 m – pode ser mais vantajoso recorrer ao radier protendido, que permite diminuir o consumo de concreto e de aço. Para se ter uma ideia, a cordoalha utilizada para protensão é em torno de 3,5 vezes mais resistente na tensão de ruptura do que as barras utilizadas no concreto armado.

Os radiers protendidos são em sua maioria em pós-tração não aderente, ou seja, utilizam cordoalhas engraxadas e plastificadas. “Com o radier protendido, consegue-se uma velocidade de execução incrível. Afinal, todas as cordoalhas podem ser cortadas e pré-blocadas fora da obra, permitindo à construtora realizar atividades em paralelo”, diz Souza.

O radier com concreto reforçado por fibras costuma ser utilizado nas mesmas aplicações que o concreto armado, com a diferença que as fibras substituem total ou parcialmente as armaduras e permitem controlar fissuras.

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ETAPAS EXECUTIVAS

A carga a que será submetida a estrutura e as características do solo são os principais fatores que influenciam a geometria do radier. A espessura do elemento de fundação, por exemplo, é definida em função da maior carga incidente.

Vale lembrar que manta retardadora de vapor é diferente da lona plástica. Ela tem resistência à tração muito maior e durabilidade de 100 anos
Fábio Albino de Souza

A execução começa com o nivelamento e a compactação do solo. Independentemente do tipo de radier, a correta preparação da base é um ponto crítico. Nessa etapa, uma das técnicas mais usadas consiste em nivelar e agregar uma leve compactação no solo natural. Em seguida, deposita-se brita, manta retardadora de vapor e uma camada de areia fina. “Vale lembrar que manta retardadora de vapor é diferente da lona plástica. Ela tem resistência à tração muito maior e durabilidade de 100 anos”, compara Fábio Albino de Souza.

Outras etapas que demandam atenção são a colocação dos kits de hidráulica e elétrica antes da concretagem, a montagem das fôrmas, e a colocação das armaduras passivas e ativas de acordo com o projetado.

Após a concretagem, o acabamento superficial pode se dar com sarrafeamento, desempenamento e acabadora mecânica de superfície. A cura, por sua vez, pode ser feita com lâmina d’água ou manta geotêxtil umedecida. Os trabalhos são concluídos com a impermeabilização da laje de fundação.

No caso de radiers protendidos, além desses itens, é preciso verificar a idade na qual deve ser aplicada a protensão e o alongamento dos cabos. “Esse é um fator preponderante para garantir que a força de protensão estimada no projeto seja, de fato, aplicada na obra”, destaca Souza.

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Colaboração técnica

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Fábio Albino de Souza – Engenheiro-civil, pós-graduado em Planejamento em Docência do Ensino Superior e mestre em Engenharia de Estruturas. Membro do American Concrete Institute (ACI) e do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), é coordenador do curso de pós-graduação em Elementos Protendidos no Grupo IDD e autor do livro Radier simples, armado e protendido: teoria e prática.