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Projeto de reforma do Terminal 1 do Aeroporto de Confins preservou arquitetura

Assinado por Fernandes Arquitetos Associados (FAA), o trabalho de modernização preparou o terminal para os próximos 20 anos de operação. Veja o que foi realizado!

Publicado em: 15/06/2023Atualizado em: 25/09/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Divulgação Fernandes Arquitetos Associados)

Marco da obra do arquiteto Milton Ramos, o Terminal 1 do Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins (MG), foi objeto de reforma, com projeto assinado pelo escritório Fernandes Arquitetos Associados (FAA).

Entre as várias intervenções, a edificação teve suas áreas comerciais ampliadas e os fluxos e processos atualizados, abrangendo as áreas de meio-fio, raio X, check-ins, restituição de bagagens, salas e portões de embarque. O objetivo foi incorporar melhorias operacionais, de conforto, ambientação e oferta de serviços aos usuários.

Ao longo dos seus quase 40 anos de existência, o terminal passou por uma série de obras de reformas e ampliações. Na maior delas, foi construído e inaugurado em 2016 o Terminal 2, já sob o comando da BH Airport. De acordo com o arquiteto Daniel Hopf Fernandes, sócio-fundador do escritório FAA, essas alterações preservaram o projeto original. “Um projeto modernista em concreto aparente, bem executado e com muitas qualidades”, destaca.

Preservando a cultura

O arquiteto Rodrigo Araújo dos Santos, associado do escritório e coordenador do projeto, explica que o trabalho foi precedido por extensa pesquisa do universo cultural mineiro, suas tradições e história, para torná-la presente no aeroporto. “Em conjunto com a BH Airport definimos alguns aspectos principais que compõem com a arquitetura moderna, muito presente no Estado, como o conjunto da Pampulha”, fala.

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Divulgação Fernandes Arquitetos Associados)

Fernandes complementa, dizendo que a preservação da arquitetura existente, sem omitir, esconder ou revestir, cria uma relação com a arquitetura modernista presente também em vários lugares do Brasil. “Para reforçar esse sense of places buscamos alguns aspectos exclusivos de Minas Gerais, como as cidades históricas, a topografia. Ao mesmo tempo, havia uma preocupação de não usar tudo isso de maneira literal”, observa.

Fachada integrada ao interior

O projeto de reforma manteve as intervenções feitas no passado, por seu caráter estrutural e não de ambientação. “De certa forma foi fácil inserir elementos novos sem muito conflito com o que já estava lá”, comenta Fernandes.

Foram aplicadas novas soluções em forros, pisos, iluminação e elementos especiais próprios de aeroportos, como áreas de raio X, salas de embarque e os gates. “Intervenções não tão abrangentes em quantidade, mas impactantes em resultados, sendo que a maior parte está na sala de embarque, local de maior tempo de permanência dos passageiros”, completa.

Os arquitetos identificaram a oportunidade de resgatar a unicidade do projeto original da grande fachada curva. “Porque ao longo dos anos, a sequência de reformas foi criando diversos elementos e camadas. Nossa intenção foi ‘limpar’ esse visual e trazer clareza e leitura a essa bonita forma radial”, informa Araújo.

Na extensa fachada de cerca de 250 m, o projeto levou para a área externa elementos que já estavam no interior, valorizando e integrando, através dos brises e meio forro. Fernandes lembra que se trata de uma fachada cega, com parede e portas de entrada. Na reforma anterior, foi criada uma cobertura de vidro que ficou sem fechamento. Ela cobria, mas não escondia uma área técnica do terminal.

“Criamos um elemento que arremata essa cobertura e esconde a área de serviços e as novas instalações que foram ou serão criadas. Eliminamos essa sensação de ‘portão dos fundos’ e trouxemos mais identidade para o que é uma entrada de fato”, expõe.

Ele se refere à instalação de uma testeira em ACM cinza metalizado abaixo da cobertura de vidro ao longo de toda a fachada, similar a uma marquise que se projeta. “Esse elemento tem dupla função: marcar a forma curva da fachada e proteger a visibilidade das instalações que estão sob o plano inclinado de vidro”, diz Araújo.

Baffles e forros transparentes

O elemento empregado para conectar a área externa ao saguão foi o forro em baffles metálicos. “O forro aberto é bastante comum nesse tipo de edificação para facilitar a manutenção de instalações e acesso à iluminação”, diz Fernandes.

Em diversas áreas do primeiro pavimento, onde estão as salas de embarque e de raio X, foram aplicados forros metálicos transparentes, que deixam livre a visão das lajes e vigas (em concreto aparente e íntegras). “Esses elementos estruturais estavam ocultos por forros opacos. O novo material é uma chapa metálica expandida, bastante fina e perfurada, que cria um padrão interessante de abertura como se fosse um ‘rendilhado’”, conta Fernandes.

As luminárias instaladas acima do forro trazem resultado visual inesperado, que vai do transparente ao opaco, dependendo do ponto de visão.

Iluminação especial

O projeto luminotécnico foi pensado não somente para as áreas de intervenção, mas mirando o conjunto do terminal. Está vinculado com as soluções de arquitetura, de forro e materiais, além de fatores como economia e desempenho energético. “O conceito da iluminação é de linearidade. São luminárias que acompanham os percursos, os sentidos do forro tanto no saguão quanto na sala de embarque, criam faixas de luz e áreas de sombra. Interagem muito com o forro, criando cenários. Em áreas determinadas, a iluminação é focal”, explica Fernandes.

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Divulgação Fernandes Arquitetos Associados)

Preparando o terminal para os próximos 20 anos de operação, o granito do piso foi substituído por novo em todas as áreas de circulação de público, tanto no lado ‘ar’ quanto no ‘terra’. “Havia uma ruptura abrupta de linguagens nos pontos em que os terminais 1 e 2 se encontram. No 2, construído do zero, o granito é mais claro e com dimensão de paginação bem maior do que no 1, onde o material estava desgastado e em tom amarelado”, fala Araújo.

As áreas de permanência existentes em dois lados do saguão têm piso em porcelanato madeirado. Ele foi aplicado na reforma de 2014-2016, momento em que as obras eliminaram a rua que passava por ali. “Esse revestimento foi mantido, delimitando as ilhas de restaurantes e quiosques em relação às áreas de circulação e de filas junto dos check-ins, revestidas em granito”, diz o arquiteto.

Portais e memória

O escritório Fernandes Arquitetos Associados já havia projetado outros aeroportos, sem, no entanto, dar atenção especial aos portões de embarque, elemento de caráter operacional. No Terminal 1 de Confins a solução foi diferente, “menos ‘telegráfica’ em termos de conceito”. Os nove gates receberam portais em ACM branco, contrastando com os tons mais neutros do restante. Foram “impressas” no material imagens estilizadas de portas de igrejas históricas mineiras através de perfurações.

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Divulgação Fernandes Arquitetos Associados)

“Funcionou como uma marcação dos gates que são vistos e identificados a uma certa distância. Usar portas de igrejas históricas nas portas do embarque é, também, criar um elemento mais lúdico do que o usual e de surpresa”, diz Fernandes.

Os arquitetos só puderam ter certeza do resultado depois dos portões prontos e instalados, ainda que tenham sido precedidos do desenvolvimento de alguns mockups.

Fluxos otimizados

O principal impacto para quem conheceu a sala de embarque antes e depois da reforma é a sensação de que seu tamanho foi ampliado em 50 vezes. “Porque havia uma série de usos misturados, com as áreas comerciais, de longarinas onde as pessoas se sentam, e de sanitários todas apinhadas de um lado. De outro, a circulação de público ficava espremida entre a fachada e a linha de pilares”, aponta Araújo.

Com a intenção de otimizar os fluxos, o projeto deixou livre a fachada de vidro para a área de formação de fila e de seat que, inclusive, ‘conversa’ com o porcelanato madeirado do térreo, trazendo um certo aconchego. Ao mesmo tempo, liberou todo o lado oposto de circulação ampla.

“Organizamos as áreas de concessão de frente para a circulação, facilitando o acesso aos usuários. Agora, tem uma fachada de lojas, antes inexistente, pois cada uma delas ficava isolada, entre um banheiro e outro. Essa parte comercial foi bastante privilegiada pelo projeto. Em resumo, o Terminal 1 reformado tem agora uma fachada com um mix de varejo de um lado, do outro a área de seat e uma grande circulação no meio”, conclui Fernandes.

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Colaboração técnica

Daniel Hopf Fernandes – Arquiteto graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU/USP (1997), com curso de Extensão Universitária Critica y Proyeto – Tailler de Projetos com Henrique Miralles Universidade Politécnica da Catalunia – Barcelona / Espanha – 1997. Fundou a Fernandes Arquitetos Associados em 1998. Seus projetos na área da saúde hoje somam mais de 130 mil m² de área construída. Projetou estações para os sistemas metroviários de várias capitais e, desde 2005, arenas esportivas para o Brasil, Bolívia, Qatar e Chile. Na área aeroportuária, desenvolveu o projeto do Aeroporto Internacional de Nacala, em Moçambique, o projeto executivo do retrofit do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), os estudos para as concessões dos Aeroportos de Salvador e Fortaleza, e o projeto do retrofit para o Aeroporto de BH – BH Airport. Precursor no uso do BIM no Brasil, o escritório assumiu o projeto executivo e a coordenação de todos os projetos complementares para o Museu do Amanhã (RJ), projetado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava.
Rodrigo Araújo dos Santos – Graduado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie – FAU-MACK (2009). Arquiteto na Fernandes Arquitetos Associados desde 2011, participou de projetos principalmente na área de infraestrutura e transportes, como as estações das Linhas 2, 4, 6 e 17 do Metrô de São Paulo e coordenou os projetos da Linha 7-Rubi da CPTM – Companhia Paulista de Trens Metropolitanos. Faz parte da equipe de Estudos de Viabilidade de projetos para novos empreendimentos públicos e privados, incluindo equipamentos esportivos, culturais e de entretenimento, bem como de desenvolvimento imobiliário de complexos multifuncionais, tendo participado do projeto do Estádio do Maracanã; dos estudos desenvolvidos para o chamamento público de interesse na Reforma e Modernização do Complexo Esportivo Pacaembu; e para o projeto da arena indoor Parque Anhembi, realizados pela Prefeitura de São Paulo. Atualmente é líder do projeto de retrofit para o Aeroporto de BH – BH Airport.