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Por que é tão importante fazer o levantamento topográfico de um terreno?

As consequências podem ser muitas e os impactos no custo, significativos. Saiba que tipo de problema pode ser evitado e conheça os erros mais comuns

Publicado em: 31/10/2019Atualizado em: 16/11/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

demolição de estruturas
O trabalho de topografia pode ser realizado por empresa terceirizada contratada pela construtora, e a escolha ideal deve seguir os mesmos passos da seleção de qualquer outro prestador de serviço (foto: Roman023_photography/shutterstock)

Atividade que precede o início das obras, o levantamento topográfico afere as dimensões do terreno, possíveis desníveis e a existência de obstáculos, como grandes árvores ou rochas. Além de atestar as características da área, o trabalho pode ser realizado para garantir que as informações presentes na escritura do lote estão em conformidade com a realidade. A ausência desse estudo tem potencial de causar prejuízos financeiros e até mesmo acidentes.

As situações negativas decorrentes de um levantamento topográfico mal elaborado podem ser muitas e os impactos no custo, significativos
Flávio Guilherme Vaz de Almeida Filho

“As situações negativas decorrentes de um levantamento topográfico mal elaborado podem ser muitas e os impactos no custo, significativos. Pensando de forma mais ampla, o trabalho com falhas causa equívocos no dimensionamento da área da obra e traz problemas no cálculo de movimentação de terra, entre outras consequências”, adverte o engenheiro Flávio Guilherme Vaz de Almeida Filho, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (EPUSP).

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De acordo com o docente, a atividade bem realizada, de acordo com a precisão e a acurácia especificadas no projeto, é o primeiro passo para o sucesso de uma obra. A afirmação é corroborada pelo engenheiro Edvaldo Simões da Fonseca Junior, professor no Departamento de Engenharia de Transportes da EPUSP. “É fundamental ter o levantamento topográfico do terreno e que ele seja feito com qualidade”, complementa.

É fundamental ter o levantamento topográfico do terreno e que ele seja feito com qualidade
Edvaldo Simões da Fonseca Junior

Mão de obra

Mesmo com toda a relevância do levantamento topográfico, há carência de mão de obra qualificada nessa área. “Faltam profissionais no mercado”, afirma Simões, explicando que, atualmente, existem escolas de ensino médio que formam alunos para abastecer o setor, porém, eles não querem ir para campo e preferem as atividades realizadas remotamente, com os computadores dentro dos escritórios.

Com a diminuição no número de especialistas que fazem o trabalho nos canteiros, as empresas acabam sempre optando pelos mesmos profissionais gabaritados que já atuam há 30 ou 40 anos nesse mercado. “Para resolver a situação, vejo duas alternativas. A primeira é tornar as escolas mais atrativas. Quem quer atuar nessa área, precisa conhecer um pouco de informática, devido a toda a tecnologia dos equipamentos usados hoje em dia”, diz Simões.

A outra opção indicada pelo professor é um melhor reconhecimento financeiro para os topógrafos. “Se o profissional que está em campo recebe o mesmo salário daquele que atua somente dentro do escritório, é evidente que a grande maioria prefere ficar no conforto do ar-condicionado”, avalia. Ofertar treinamentos técnicos para atualizar os trabalhadores também entra na lista de iniciativas para melhorar a oferta de mão de obra.

Na opinião de Almeida, o mercado de topógrafos no Brasil sofre constantes oscilações e está fortemente relacionado à dinâmica da indústria da construção civil. “Assim, o número de profissionais estar ou não adequado à demanda fica interligado a outros fatores independentes da área, por exemplo, o aquecimento da economia do país de uma maneira geral”, expressa.

Terceirizando o serviço

O trabalho de topografia pode ser realizado por empresa terceirizada contratada pela construtora, e a escolha ideal deve seguir os mesmos passos da seleção de qualquer outro prestador de serviço. “Deve-se optar por boas referências no mercado, profissionais certificados e com boa formação. E não necessariamente priorizar custo baixo, pois, neste caso, corrigir eventuais falhas pode sair bem mais caro”, recomenda Almeida.

Mesmo quando traz alguém de fora para executar a atividade, a construtora tem que acompanhar a realização do trabalho. “A fiscalização pode ser feita internamente, se a empresa tiver profissionais certificados, ou externamente, contratando uma segunda prestadora de serviço para auditar o levantamento”, explica Almeida.

Equipe própria

Alternativa à terceirização é a construtora investir em equipe e equipamentos próprios. Segundo Almeida, a decisão depende do tamanho da empresa e da área de atuação. “Este é um balanço de custos em que deve pesar a quantidade de atividades topográficas previstas ao longo do tempo em relação ao número total de funcionários, departamentos e outras especificidades”, avalia.

Já para Simões, o ideal é que as construtoras tenham suas próprias equipes. “Na execução de um prédio, é preciso garantir a verticalidade da construção — algo assegurado pela presença e monitoramento permanentes do time de topografia”, afirma. Caso os profissionais apareçam no canteiro uma vez por semana ou a cada 15 dias, o edifício corre o risco de apresentar alguma inclinação, que aumentará o custo final da obra.

Equipamentos

Os equipamentos utilizados no levantamento topográfico passam por uma grande evolução conforme a tecnologia vem avançando. “Com a modernização que tivemos nessa área nos últimos anos, o leque de soluções se abriu de forma impressionante”, ressalta Almeida. Auxiliando na obtenção de informações e dados mais precisos, os equipamentos modernos exigem melhor preparo técnico dos profissionais.

“Podemos pensar na topografia clássica com o uso das estações totais, níveis ópticos e digitais, trenas a laser e outros materiais já consagrados ao longo dos anos para o trabalho de campo. Por outro lado, para o uso das ferramentas de gerações mais recentes, podemos incluir os GPS ou Global Navigation Satellite System (GNSS), equipamentos laser escâner de longo alcance e drones para levantamentos ópticos e laser embarcado”, comenta Almeida.

Esses equipamentos demandam uma etapa posterior no trabalho, denominada pós-processamento, em que os dados serão transformados em informações topográficas com uso de ferramentas computacionais. A compra das soluções deve ser feita de maneira criteriosa, pois não há fabricantes nacionais. “Há empresas que representam no país as indústrias estrangeiras, oferecendo serviços de manutenção quando necessário”, informa Simões.

Recomendação válida para adquirir equipamentos de qualidade no mercado é procurar por aqueles certificados no Brasil. “A certificação assegura a procedência dos produtos e, de forma indireta, pode assegurar sua qualidade. Procurar um representante local e os termos de assistência técnica e garantia pode evitar dores de cabeça no futuro e gastos desnecessários com manutenção e substituição dos mesmos”, destaca Almeida.

Erros comuns

Entre os erros mais frequentes nesse mercado estão a não valorização do trabalho e a falta de investimento na qualificação e atualização dos profissionais. “São recorrentes cortes de custos nessas atividades. O problema é que, com esse tipo de comportamento, os erros poderão se transformar em custos altíssimos no desenrolar da obra, como uma bola de neve. A locação errada de uma edificação, por exemplo, pode trazer consequências enormes, com impactos em custos e prazos de conclusão”, adverte Almeida.

Simões concorda que o preparo inadequado da mão de obra figura entre as situações negativas mais frequentes. “Há profissionais que aprenderam a fazer a medição topográfica no campo, sendo auxiliares do topógrafo. Eles sabem medir, porém, não entendem por que estão fazendo aquilo, ou seja, não têm o conhecimento técnico”, explica.

Decisão que também pode trazer problemas é atrelar a equipe de topografia ao pessoal de produção e não ao time de engenharia. “A produção não pode atrasar o cronograma e, quando percebe que o prazo está ficando apertado, começar a acelerar”, afirma Simões.

O ideal é o topógrafo parar o trabalho em um ponto e, quando voltar no dia seguinte, verificar se esse ponto não foi deslocado antes de continuar a atividade. “No entanto, quando ele é apressado, não faz essa verificação e continua tocando as medições. Se houver algum erro, ele será levado para frente e trará problemas futuros”, finaliza Simões.

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Colaboração técnica

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Flávio Guilherme Vaz de Almeida Filho — É professor doutor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e ministra as disciplinas de Projeções Cartográficas, Geomática e Topografia para os alunos dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura. Obteve o título de doutor em Engenharia de Transportes pela mesma escola e também se titulou doutor em Informações Espaciais pela Universidade Paul Sabatier-Toulouse, na França.
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Edvaldo Simões da Fonseca Junior — Possui graduação em Engenharia Cartográfica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestrado em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da USP, com estágio na Universidade de Nottingham – Inglaterra, e doutorado em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da USP, com estágio na Universidade de Calgary - Canadá. Atualmente, é professor associado no Departamento de Engenharia de Transportes da Escola Politécnica da USP.