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Patologias em telhas de aço galvanizado: recuperar ou substituir?

Apesar de resistentes e duráveis, essas telhas podem sofrer efeitos de intempéries e apresentar ferrugem ou outros problemas. Veja quando o tratamento vale a pena

Publicado em: 12/03/2018Atualizado em: 26/09/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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De modo geral, a reparação é usualmente a mais vantajosa. Porém, nem sempre é a melhor escolha (shutterstock.com / Maciej Bledowski)

Solução leve e de fácil instalação, as telhas de aço galvanizado são indicadas para qualquer tipo de empreendimento. Seja em obras novas ou reformas, o produto se destaca pela elevada durabilidade e custo competitivo. Versatilidade é outra propriedade do material, afinal, o mercado disponibiliza desde sistemas simples até aqueles aprimorados com isolantes termoacústicos.

“A indústria também oferece variadas possibilidades de revestimento para o aço base da telha, que deve ser especificado em função da durabilidade, estética e agressividade do ambiente”, comenta a arquiteta Silvia Scalzo, membro da Comissão Executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA). Entre as opções mais populares estão os produtos galvanizados por imersão a quente e os galvalumes (revestimento alumínio-zinco).

No entanto, mesmo com vida útil elevada e recebendo diferentes proteções, as telhas de aço galvanizado não estão completamente imunes ao surgimento de problemas. Quando alguma manifestação patológica é encontrada, a análise inicial vai determinar se a melhor alternativa é substituir totalmente a peça comprometida ou investir em sua recuperação.

SUBSTITUIR OU RECUPERAR?

Radiação ultravioleta, variações bruscas de temperatura, granizo e chuva ácida são exemplos de fenômenos que afetam o material e vão desgastando sua proteção. “As siderúrgicas desenvolvem gráficos que mostram a perda de revestimento de zinco que uma chapa experimenta ao longo do tempo. Os valores são diferentes para ambientes litorâneos, urbanos e industriais”, explica o engenheiro Edson de Miranda, profissional da Perfilor e colaborador do CBCA.

Depois de muito tempo expostas às intempéries, as telhas precisam ser trocadas ou recuperadas. A primeira alternativa envolve o investimento em um produto novo, transporte até o empreendimento, contratação de mão de obra e o inconveniente de deixar o telhado descoberto por algum tempo. A segunda opção, geralmente, tem custos menores e é executada mais rapidamente.

Em uma análise superficial, a recuperação sempre leva vantagem sobre a substituição. No entanto, existem situações em que a troca é mais indicada. Por exemplo, quando a maior parte da telha está afetada pela corrosão, se a oxidação acontece na sobreposição das peças ou se a superfície apresenta perfurações.

Caso nenhuma das situações críticas se apresente, o procedimento de recuperação pode ser realizado – lembrando que, para cada tipo de problema, existe o procedimento adequado de manutenção.

A indústria também oferece variadas possibilidades de revestimento para o aço base da telha, que deve ser especificado em função da durabilidade, estética e agressividade do ambiente
Silvia Scalzo

REMOÇÃO DE FERRUGEM

A ferrugem é uma das situações mais comuns em telhas de aço galvanizado, podendo ser induzida por determinadas ações, como instalação incorreta de para-raios ou outros objetos na cobertura. Esses materiais podem entrar em atrito com a telha, raspando seu revestimento ou provocando a corrosão eletrolítica. “Outro exemplo são as superfícies amassadas que criam depressões que acumulam água”, afirma Miranda.

Para determinar se vale a pena recuperar uma telha oxidada, uma das análises necessárias é a verificação da cor da ferrugem. Caso esteja vermelha, é sinal de que a pintura e a zincagem estão desgastadas e já é o aço que está sendo consumido. A extensão da oxidação também precisa ser levada em consideração, pois, se for grande demais, a recuperação não será economicamente atraente.

Para remoção da ferrugem vermelha, a peça é tratada com escova de aço. Na sequência, a superfície tem que ser completamente lavada com pano úmido e lixada, removendo todos os resquícios de oxidação que possam existir — desdenhar de qualquer ponto de ferrugem, por menor que seja, pode fazer com que o problema reapareça futuramente. Por fim, a telha tem que ter sua galvanização recuperada e pintura refeita.

O tratamento de ferrugem branca, situação menos grave, é feito com uso de soluções químicas com base de ácidos ou hidróxido de amônia. Com a peça totalmente seca, a substância é aplicada com pincel e precisa agir por 10 ou 15 minutos. Depois desse período, a telha é enxaguada com bastante água e depois precisa ser seca.

RECONSTITUIÇÃO DA ZINCAGEM

Depois do tratamento da ferrugem, é fundamental realizar o restauro do revestimento de zinco através da aplicação de tinta adequada. O procedimento, nomeado de zincagem a frio, deve ser executado com as telhas limpas e secas. “A aplicação do produto tem que atender às instruções de seus fabricantes”, ressalta o engenheiro. O procedimento pode ser feito com o uso de pincel, rolo ou pistola, sendo que cada material exige diluições diferentes.

É importante ter em mente que a recuperação realizada em campo jamais apresentará a mesma qualidade e acabamento da galvanização original
Edson de Miranda

Durante a aplicação da tinta, é recomendável atenção especial nas áreas sob os recobrimentos das chapas, pois, muitas vezes, são locais com grau de oxidação ainda mais intenso do que aqueles expostos à ventilação e incidência direta do sol. “É importante ter em mente que a recuperação realizada em campo jamais apresentará a mesma qualidade e acabamento da galvanização original”, explica o profissional.

PINTURA

A tinta rica em zinco pode ser aproveitada como revestimento final. No entanto, geralmente, a telha recebe uma segunda camada de pintura. A melhor opção para esse tipo de acabamento é o poliuretano alifático bicomponente, que apresenta elevada durabilidade e está disponível em diferentes cores. O produto deve ser misturado ao solvente, em proporção indicada pelo fabricante, e é aplicado com uso de pincel, rolo ou pistola.

A indústria oferece, ainda, as telhas pré-pintadas, produzidas a partir de bobinas de aço pintadas pelo processo de coil-coating — as tintas especializadas são aplicadas ao coil de aço ou alumínio antes da fabricação dos produtos finais.

“O procedimento trouxe avanço na qualidade das resinas empregadas, dando opções de alta resistência à radiação solar. Além disso, oferece aumento da durabilidade da telha”, comenta Scalzo. É possível especificar diferentes gramaturas para as camadas de tinta, característica definida em função da agressividade do ambiente.

TRATANDO PERFURAÇÕES

“De maneira geral, pode-se dizer que sempre que houver perfuração, a telha deve ser obrigatoriamente substituída”, fala Miranda. O mercado até oferece elementos vedantes para resolver o problema. Porém, a recuperação não é eficiente porque o reparo acaba se transformando em obstáculo para o livre escoamento da água, criando o cenário ideal para surgimento de pontos de oxidação.

Entretanto, o aparecimento de perfurações não significa que a peça toda esteja comprometida. “A área afetada pelos buracos pode ser recortada e o restante da telha pode ser tranquilamente reaproveitado em outro local”, destaca o colaborador do CBCA.

RECORTE

Quando as telhas de aço galvanizado precisam ser recortadas, é importante o uso de uma fita crepe larga para proteger o revestimento pré-pintado. A película tem que ser fixada na área onde será feita a separação, e a linha que guiará o corte deve ser feita sobre a fita. A ferramenta mais indicada para o trabalho é a roedora elétrica, mas também podem ser utilizadas serras tico-tico ou manual, sempre equipadas com lâminas específicas para metais.

“O disco de corte deve ser evitado, pois provoca a calcinação da pré-pintura em função do atrito elevado”, diz o engenheiro. Na sequência, uma lima fina é usada para retirada de eventuais rebarbas. Todos os resíduos resultantes precisam ser retirados com escova ou vassoura de pelos macios, visto que podem oxidar, manchando a superfície da telha ou provocando o aparecimento de pontos de ferrugem.

De maneira geral, pode-se dizer que sempre que houver perfuração, a telha deve ser obrigatoriamente substituída
Edson de Miranda

ESTANQUEIDADE E VEDAÇÃO

A estanqueidade do sistema é garantida pela correta especificação e instalação dos acessórios e arremates. Diferentes cumeeiras, rufos e calhas são utilizados conforme o tipo de telha e sistema de evacuação de águas. Já os arremates especiais evitam infiltrações, além de bloquearem a entrada de aves e insetos no interior da edificação. “Com isso, não há necessidade de utilizar sistemas de impermeabilização sobre telhas em aço”, explica Scalzo.

LIMPEZA

Além de garantir a boa aparência da cobertura, o procedimento de limpeza das telhas também é oportunidade para realizar vistorias sobre as condições do sistema. O procedimento deve começar com a remoção de objetos estranhos e demais materiais particulados, com uso de vassoura de cerdas macias. “Nessa fase, deve-se tomar cuidado para que resíduos não caiam nas calhas ou condutores de águas pluviais, entupindo-os”, adverte Miranda.

Já a lavagem pode ser feita com máquina de pressão ou com simples esguicho, além de um detergente neutro. Por outro lado, solventes, produtos ácidos ou abrasivos devem ser evitados. “Caso vestígios de tinta sejam arrancados durante a limpeza, não é necessário pânico. Isso é normal, pois é a tinta calcinada pelo sol. O procedimento é semelhante à pintura que sai do automóvel quando se faz um polimento”, detalha o especialista.

É importante destacar que a cobertura molhada e com sabão não é área de trabalho das mais seguras, portanto usar equipamentos de segurança é imprescindível. “Ao caminhar sobre as telhas, o profissional responsável tem que pisar no canal e tentar sempre andar sobre as linhas de apoio. Nunca deve pisar nas pontas das peças que estejam em balanço ou em materiais translúcidos, como telhas ou domos em PVC”, finaliza Miranda.

Colaboração técnica


Silvia Scalzo – Arquiteta pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), estudou história da Arquitetura na Universidade de Roma e trabalhou em projetos habitacionais e industriais na França. É mestre em Inovação na Construção Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP). Atua na ArcelorMittal com o desenvolvimento de mercado da construção civil e também na gerência de Vendas e Infraestrutura. É membro da Comissão Executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA).
Edson de Miranda – Engenheiro da Perfilor e colaborador do Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA).