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Obra combina paredes de concreto e lean construction para maximizar eficiência

Com nova filosofia de gestão e busca por industrialização, construtora obteve agilidade e redução de desperdícios em empreendimento de padrão popular

Publicado em: 14/12/2022

Texto: Juliana Nakamura

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima

(Foto: Divulgação HM Engenharia)

O Brisa da Mata é um bairro planejado que está surgindo no município de Paulínia, interior de São Paulo, composto por cinco condomínios que somam 1.368 unidades entre casas e apartamentos. Um desses conjuntos é o Brisa da Mata Araucária, atualmente em execução, com 14 torres de oito pavimentos cada e apartamentos de padrão econômico de 60 e 80 metros quadrados. Para o empreendimento marcado por elevado grau de repetitividade, o sistema construtivo escolhido foi o de paredes de concreto, que tem como principal característica o fato de estrutura e vedação serem formadas por um único elemento moldado in loco.

Essa solução não é novidade para a HM Engenharia. A construtora e incorporadora iniciou sua jornada com as paredes de concreto em 2017 e, desde então, vem avançando, adotando a tecnologia em empreendimentos maiores e em torres mais altas. O que há de novo no Brisa da Mata Araucária é a combinação desse método com os princípios do lean construction (construção enxuta). A metodologia de gerenciamento busca otimizar os processos, reduzindo ou eliminando etapas que não agregam valor ao cliente e ao produto final.

“Tivemos um aumento no volume de obras muito grande no último ano. Isso nos levou a investir em industrialização e no aprimoramento do nosso modelo de gestão”, explica o diretor de obras da HM, Leandro Melo. Ele conta que, para implantação do lean, foi realizado um projeto-piloto em 2021. Na sequência, a construtora mapeou os ganhos do processo e iniciou a expansão da metodologia para outras obras em execução, bem como para o escritório.

Planejamento e logística

Um dos pilares do pensamento enxuto é o planejamento, que contempla o cronograma, a sequência executiva e a duração de cada uma das atividades. O objetivo é que os serviços ocorram de forma encadeada, de modo a garantir máxima eficiência na utilização dos recursos.

Em obras com paredes de concreto, quem dita o ritmo é o ciclo curto de concretagens definido em função dos conjuntos de formas disponíveis. No Brisa da Mata Araucária são utilizados quatro jogos de moldes de alumínio. Com isso, a cada dia, são produzidas as estruturas de oito apartamentos.

Como estrutura e vedação seguem nessa velocidade, o grande desafio das paredes de concreto é o acompanhamento dos demais sistemas, que não têm o mesmo grau de industrialização, a exemplo dos acabamentos. Para isso, planejamento e controle são fundamentais para identificar oportunidades de cadenciar atividades ou de ampliar a equipe da tarefa subsequente. “Há uma série de rotinas e ritos que nos permitem olhar as próximas semanas de execução e mapear, previamente, as restrições que possam impactar a realização das atividades nas datas esperadas”, informa Melo.

Outro elemento determinante para assegurar fluidez aos processos de produção e evitar perdas de tempo e de recursos é o estudo logístico minucioso, que vai além de um planejamento de layout. “No Brisa da Mata, esse trabalho nos ajudou a identificar focos de desperdício que antes não eram percebidos”, afirma Melo, citando como exemplo o gasto da mão de obra com o transporte de material no canteiro.

Industrialização de telas e de hidráulica

O tripé da construção enxuta é completado pela maximização da produtividade. Nesse ponto, a estratégia da HM foi incrementar sua gestão com base em indicadores de performance.

Foi sob orientação de índices que os engenheiros perceberam, antecipadamente, que 45% das concretagens previstas para ocorrer até o final da obra corriam o risco de atrasar se melhorias em processos não fossem implantadas. As equipes não estavam sendo efetivas na produção de dois apartamentos por dia, principalmente porque, no caso de Paulínia, os apartamentos são maiores em comparação aos que a construtora estava habituada a produzir, exigindo um consumo maior de concreto.

A saída encontrada foi obtida em um workshop de ideias, ferramenta lean que consiste em reunir uma equipe multidisciplinar para levantar soluções para resolver um problema. Nessa oportunidade, percebeu-se que um dos gargalos era a montagem da tela de armação das paredes.

Isso levou a construtora a alterar sua sequência de execução, introduzindo uma central para a pré-montagem das telas no térreo do empreendimento. Com isso, em vez de serem cortadas e montadas em cada andar, as telas subiam prontas em guindaste.

“A mudança trouxe uma série de benefícios, a começar pelo ganho de qualidade e redução de fissuras, uma vez que a armadura é posicionada de forma mais precisa e alinhada. Houve, também, ganho de velocidade de execução e de desperdício de material”, revela Leandro Melo.

Em Paulínia, outro exemplo de industrialização está nas instalações de água e esgoto. Mas em vez de adquirir kits prontos de um fornecedor, a HM preferiu ela própria fabricar esses componentes em uma central de hidráulica. Do mesmo modo que realizado com as telas de armação, os kits de chuveiro chegavam montados em cada apartamento, abreviando o tempo de execução e a quantidade de atividades realizadas em campo. Segundo o diretor de obras da HM, apenas com essa solução foi possível reduzir em 20% no tempo gasto na montagem da hidráulica dos apartamentos, em comparação ao método tradicional.

Colaboração técnica

Leandro Melo – Engenheiro civil com especialização em engenharia de produção e MBA em gestão empresarial. Com vinte anos de experiência em empreendimentos residenciais e comerciais, é diretor de obras da HM Engenharia.