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Nova versão do LEED aumenta exigências

Certificação se tornou mais rigorosa tecnicamente ao requerer, entre outras coisas, a Declaração Ambiental de Produtos

Publicado em: 08/03/2017Atualizado em: 05/08/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) se reinventou e entra em nova versão. Desde novembro de 2016, as edificações que desejam obter o selo devem, obrigatoriamente, disponibilizar a Declaração Ambiental dos Produtos (DAP) que integram a construção. “O objetivo é encorajar o uso de soluções que apresentem as informações sobre seu ciclo de vida, tornando claros seus impactos ambientais, sociais e econômicos”, explica Felipe Faria, diretor Executivo do Green Building Council Brasil (GBC Brasil) e presidente do comitê dos GBCs das Américas pelo World Green Building Council.

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Os selos devem se atualizar de tempos em tempos, para manter o caráter de induzir continuamente a melhora técnica do setor (Stock-Asso/ Shutterstock.com)

A certificação premiará projetos que priorizam e selecionam materiais que oferecem essa transparência, pautada em diversas normas técnicas, como a ISO 14025, ISO 14040, EN 15804. Cinco projetos de diferentes Estados brasileiros já se inscreveram para a obtenção da certificação dentro da nova versão.

Além da DAP, há outras novidades. “Cabe destacar o conceito de Avaliação de Ciclo de Vida, que rege toda a categoria de Materiais e Recursos do LEED v4. O foco é minimizar a energia embutida e outros impactos, como emissões de CO2, associada à extração, processamento, transporte, manutenção e descarte dos materiais da construção”, comenta o executivo. Os créditos dessa categoria foram desenvolvidos de modo a incentivar a Avaliação de Ciclo de Vida, melhorar o desempenho das soluções e promover a eficiência na exploração dos recursos.

A prática de conceituação integrada de projeto, antes implícita, agora passa a ser quesito. Anteriormente, era necessário respeitá-la frente às diversas exigências e a necessidade de correlacionar ações nos inúmeros sistemas de uma edificação. “No LEED v4, o mercado entendeu ser prudente enfatizar a necessidade de maximizar as oportunidades de integração de sistemas, além da análise de custo-benefício na definição das opções de design e estratégias construtivas”, afirma Faria.

O objetivo é encorajar o uso de soluções que apresentem as informações sobre seu ciclo de vida, tornando claros seus impactos ambientais, sociais e econômicos
Felipe Faria

A questão da eficiência energética também ficou mais rígida, utilizando como referência a ASHRAE 90.1/2010. “Os profissionais do setor entendem que essa norma, quando comparada à versão de 2007, está 30% mais eficiente”, comenta. No passado, o LEED exigia desempenho, no mínimo, 10% mais eficiente do que aquele indicado pela ASHRAE 90.1/2007. Por outro lado, a versão 4 tornou necessário desempenho de 5% sob a versão de 2010 (30% mais eficiente do que os números anteriores). Tanto na categoria de energia e atmosfera, quanto na de água, o LEED v4 induz o uso e a instalação de equipamentos de medição e verificação do consumo. “A prática visa a auxiliar o gerenciamento e a identificação de oportunidades de melhorias durante a operação”, informa o profissional.

POR QUE MUDAR?

As certificações têm conseguido elevar o nível técnico do mercado, desenvolvendo modelos de negócios dentro de uma visão sistêmica e criando um ambiente receptivo a inovações tecnológicas, metodológicas ou de processos. O objetivo é valorizar as melhores iniciativas, empreendimentos e empresas. Com isso, os selos devem se atualizar de tempos em tempos, para manter o caráter de induzir continuamente a melhora técnica do setor. Consequentemente, oferecendo retornos ambientais, sociais e econômicos de alta relevância.

IMPACTOS

Segundo Faria, os impactos principais das atualizações para a indústria da construção serão a valorização dos profissionais com expertise e maestria na elaboração de projetos integrativos; maior assertividade na indução de investimentos em eficiência energética; elevação do suporte à produção de energia renovável; priorização de tecnologias e serviços que garantam excelência na gestão da edificação durante a operação com foco em eficiência; maior preocupação com a saúde e bem-estar dos ocupantes; e elevação do nível técnico da indústria de materiais com base na avaliação de ciclo de vida e declaração ambiental de produto.

Órgãos como a Abramat, o Secovi e a AsBEA também estão trabalhando em ferramentas para auxiliar na indução do conceito no Brasil. Acreditamos que avançaremos rapidamente
Felipe Faria

Em termos de materiais, o mercado passará a avaliar sistematicamente os aspectos ambientais de um sistema, solução ou serviço, durante todas as fases de seu ciclo de vida. Algumas entidades já estão atuando nesse sentido, como a Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), que está finalizando a avaliação do ciclo de vida setorial, o que facilitará para os fabricantes o desenvolvimento da DAP de seus produtos. “Órgãos como a Associação Brasileira da Indústria Materiais de Construção (Abramat), o Sindicato da Habitação (Secovi) e a Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura (AsBEA) também estão trabalhando em ferramentas para auxiliar na indução do conceito no Brasil. Acreditamos que avançaremos rapidamente”, analisa o profissional.

Paralelo à nova versão da certificação LEED, também foi criada uma ferramenta de benchmark que analisa o desempenho de uma edificação em tempo real, em relação à energia, água, resíduos, satisfação dos ocupantes e transporte. Todos os empreendimentos que já possuem o selo podem compartilhar suas informações de consumo, comparando com aquilo que foi medido no passado, no momento da certificação. Também será possível cotejar esses números com os dados de edificações semelhantes.

“Essa ação contribuirá para que as equipes responsáveis pela administração predial e seu proprietário possam exaurir esforços para que, constantemente, mantenham a eficiência do prédio em todos os critérios”, fala Faria. A análise e aferição de desempenho serão bases para o processo de recertificação de uma edificação LEED, podendo inclusive, ocorrer o update no nível do selo.

ACESSO À DAP

Os produtos com DAP serão devidamente divulgados por seus fabricantes. Outro modo de verificar as informações é através de organizações que atuam como operadoras de programas em conformidade com as normas específicas e devidamente acreditadas pelos órgãos de controle. Por exemplo, Environdec, UL e INMETRO. “Há, ainda, iniciativas de inserção de dados acerca de produtos com DAP, além de uma calculadora para computar a pontuação na certificação LEED v4, em softwares para desenvolvimento de projetos arquitetônicos”, complementa o executivo.

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Colaboração técnica

Felipe Faria – Diretor do Green Building Council Brasil, é advogado com especialização em Direito da Economia e da Empresa pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Responsável pela operação nacional do GBC Brasil que compreende as áreas de Educação, Informação, Relação Governamental e promoção da certificação internacional LEED. Desde junho de 2012 faz parte do LEED Steering Committee do USGBC, grupo de voluntariados e staff que trabalham na manutenção e constante desenvolvimento da certificação LEED como a ferramenta de certificação líder no mundo, preservando sua integridade e garantindo o sistema de consenso que envolve a certificação.