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Métodos de enchimento de piso vão do concreto celular aos blocos em EPS

Materiais com características e pesos próprios distintos são amplamente utilizados para preencher os vãos dos pisos elevados, quando o edifício corporativo ganha novo tipo de uso. Conheça os mais utilizados hoje em dia

Publicado em: 02/08/2022Atualizado em: 05/08/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de fundação de concreto
(Foto: Shutterstock)

O preenchimento de piso de edifício existente é obra corriqueira quando há conversão de uso de empreendimento corporativo para residencial ou hospitalar, por exemplo. Seja com concreto leve, concreto celular ou blocos em poliestireno expandido (EPS), o enchimento terá que vencer a altura do vão originalmente destinado ao piso elevado, comum nos escritórios. A escolha do método adequado dependerá do projeto e do cálculo estrutural, considerando inclusive as novas cargas.

“No passado, a única opção para o enchimento de piso era o concreto, que somava uma carga muito grande sobre a laje. Era preciso proceder ao reforço estrutural do prédio, gerando custos e transtornos. Muitas vezes, tornava a obra inviável”, afirma o engenheiro Leonardo Leite, gerente de Obras da It’s Engenharia.

Nessa trajetória evolutiva, a engenharia passou pelo uso de técnicas menos eficientes, como das cinasitas, pedras de escórias. “Esse procedimento cria uma estrutura mais irregular e o concreto acaba se misturando às pedras, impedindo a configuração de caixa ou de alvéolo”, comenta.

Relatando sua experiência em obras do tipo para hospitais, como Rede D’Or e Prevent Senior, o engenheiro Ricardo Pinto, sócio-fundador da Concrefix, indica que normalmente é necessário preencher um gap entre 14 e 17 cm, altura comum dos pisos elevados. “Em se tratando de instituição de saúde, é fundamental a criação de um piso sólido para evitar contaminações”, lembra.

No passado, a única opção para o enchimento de piso era o concreto, que somava uma carga muito grande sobre a laje. Era preciso proceder ao reforço estrutural do prédio, gerando custos e transtornos
Leonardo Leite

Já os projetos que pedem o enchimento de até 10 cm de espessura são atendidos com o uso de argamassa autonivelante. “A partir daí, empregamos concreto celular, que é leve o suficiente para não sobrecarregar a estrutura do prédio”, indica Ricardo Pinto.

Concreto leve x blocos em EPS

Os novos concretos, entre eles o celular, e os blocos de poliestireno expandido (EPS) permitem a criação de uma estrutura mais leve, garantindo a resistência e as exigências de carregamento da laje. Segundo Leonardo Leite, os concretos leves podem ser efetivos, dependendo do tipo de obra, enquanto os blocos em EPS se encaixam em qualquer estrutura.

“Quando falamos do EPS granular – concreto leve formulado com pérolas de poliestireno –, há alguma perda de resistência. O concreto celular, por sua vez, tem a desvantagem de apresentar peso maior do que os blocos em EPS”, comenta.

Leonardo Leite defende que os blocos em EPS são a melhor solução em velocidade de execução e homogeneidade da estrutura e possibilitam um nível estrutural muito aderente, em função da altura do preenchimento. Atendendo às necessidades executivas do projeto, a estrutura constituída pelos blocos, concreto e malha de aço trabalha em conjunto e atinge ótima resistência. Soma-se, ainda, a capacidade de isolamento térmico, característica do poliestireno expandido, e a fácil reconversão para piso elevado, no futuro, caso o edifício volte a ter uso corporativo.

Ricardo Pinto argumenta que o celular é um concreto que incorpora a partir de 20% de ar em substituição a brita e areia grossa, resultando em massa específica abaixo de 1800 kg/m³. “Para hospitais, é normal utilizarmos com cerca de 1200 kg/m³, lembrando que o concreto convencional pesa, em média, 2300 kg/m³”, diz e acrescenta: “O concreto celular se destina exatamente ao enchimento de piso e se caracteriza, ainda, por ser antichama e isolante térmico e acústico”.

Conhecedor do material, com nove obras realizadas, Leite considera que parte do mercado ainda acredita no mito de que o EPS pega fogo. Na construção civil, 100% do material é da classe ‘F’, aditivado com retardante a chama que evita a propagação de incêndios.

“Hoje, entendemos que o EPS é um elemento técnico para várias situações de obras. Lembrando que, no preenchimento de piso, ele está apartado de qualquer tipo de infraestrutura de necessidades que possa ser propagadora de incêndio, como fiação elétrica. Fico muito tranquilo com as execuções que fazemos com o EPS”, argumenta.

O concreto celular se destina exatamente ao enchimento de piso e se caracteriza, ainda, por ser antichama e isolante térmico e acústico
Ricardo Pinto 

Execução com concreto celular

O primeiro passo para a execução com concreto celular consiste na verificação das condições do canteiro de obras, pois a massa é preparada em usina in loco e bombeada até os pavimentos. “Na obra do hospital da Prevent Senior, no Morumbi (SP), foi preciso nivelar o piso dos 28 andares do edifício”, diz Ricardo Pinto. O substrato também é avaliado e, se estiver muito liso, será preciso fresar.

Eventuais furos na laje são vedados ou feitas novas furações, de acordo com o que foi projetado para as instalações prediais de cada pavimento. Os dutos devem ser previamente fixados na laje com arame ou chumbados, pois quando o concreto celular é bombeado, eles vão flutuar. No futuro, qualquer obra de manutenção nessas instalações exigirá a quebra do contrapiso e do concreto leve. “Sua baixa resistência permite essa ação sem dificuldade”, diz.

O concreto celular abaixo de 1400 kg/m³ não tem resistência superficial suficiente para se tornar o piso final, portanto, é preciso executar o contrapiso com, pelo menos, 3 cm de espessura. “Quanto mais leve for o enchimento com o material, maior será a tendência de ocorrerem fissuras e perda de volume final. Essas não são condições críticas, pois sequer são transferidas para o contrapiso, elemento que faz todas as correções”, destaca.

Execução com blocos em EPS

A execução do preenchimento de piso com EPS é muito fácil, de acordo com Leonardo Leite. A partir do projeto estrutural, a altura dos blocos é dimensionada considerando o cálculo necessário de cobrimento. “Alguns calculistas exigem uma proteção do EPS feita com uma malha de aço, finalizando com o concreto”, expõe.

Além disso, a resistência do EPS permite que a equipe possa caminhar sobre ele para o lançamento do concreto, o que representa uma boa condição para seguir na execução.

Entre as obras de preenchimento de piso já realizadas pela It’s Engenharia com blocos em EPS, a mais recente é a do maior laboratório de análises clínicas e de imagem do país. Prédio concebido para uso corporativo, o piso elevado tinha altura incomum de 30 cm em cada um de seus seis pavimentos, num total de 8,5 mil m².

“O enchimento foi feito com 24 cm de blocos em EPS de baixa densidade, tipo 1F – o equivalente a 10 kg/m³ – e uma capa de concreto de 6 cm. O conjunto resultou num carregamento da laje de apenas 200 kg/m³”, relata.

Cargas pontuais

Para cada um dos métodos, os procedimentos diferem em relação às áreas destinadas aos equipamentos pesados, como os de ressonância magnética que chega a pesar até 6 toneladas. No preenchimento de piso com blocos, Leite adota o EPS de alta densidade – tipo 8F, equivalente a 48 kg/m³ – para esses locais. “Com isso, evitamos que o peso do equipamento e da laje de capeamento esmague os blocos”, diz.

Pinto afirma que a solução cabe à construtora, que reforça a laje pontualmente. “Apesar da resistência do concreto leve, essas máquinas não se apoiam sobre ele, mas diretamente na laje reforçada do pavimento e com enchimento feito com concreto convencional”, informa.

Leia também:
Pisos elevados: a solução certa para escritórios corporativos
Por que escolher o concreto celular?

Colaboração técnica

 
Leonardo Botelho Gomes Leite  – É Engenheiro Civil pela Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Fundação Mineira de Educação e Cultura – FUMEC BH (2004), com pós-graduação em Engenharia Clínica com foco em gestão de negócios hospitalares e equipamentos médicos pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp (2014). Ocupa o cargo de gerente de Obras da It’s Engenharia.
LinkedIn: Leonardo Botelho Gomes Leite


Ricardo Pinto  – Especialista em nivelamento de pisos com concreto celular ou contrapiso autonivelante. É sócio-fundador da Concrefix (2011), sediada em São Paulo. Entre as obras realizadas, estão as do Aeroporto do Galeão; Vila dos Atletas Olímpicos, Ilha Pura; Aeroporto de Confins (BH); e Hospital Prevent Senior Morumbi.
LinkedIn: Ricardo Pinto