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Mercado de reciclagem de alumínio no Brasil é promissor

Alto valor da energia elétrica – cerca de 55% do custo total da produção de alumínio primário – aumenta procura pela reciclagem de sucata de alumínio. O ‘metal verde’ consome 20 vezes menos eletricidade e atende mercados como o das esquadrias

Publicado em: 13/01/2015Atualizado em: 16/11/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

reciclagem

Amplamente empregado na construção civil, o alumínio é material que necessita de grande quantidade energética para ser produzido. No Brasil, cerca de 55% do custo total de produção do metal são decorrentes dos valores de tarifas de energia. “Já em países onde o preço da eletricidade gira em torno de 25 dólares por megawatt, a participação da energia no custo de produção está em torno de 35%”, afirma o engenheiro Ayrton Filleti, diretor Técnico da Associação Brasileira do Alumínio (ABAL).

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RECICLAGEM

Esse cenário foi a causa da recente redução da produção do alumínio primário no país, que tornou o mercado importador, inclusive, com a extinção temporária de impostos. “Em 2009, a indústria brasileira produziu 1,65 milhão de toneladas de alumínio primário, e o consumo doméstico foi de 1 milhão de toneladas – o saldo positivo destinou-se à exportação. Já em 2013, a produção caiu para 1,45 milhão de toneladas do material e o consumo subiu para 1,51 milhão de toneladas, gerando déficit”, detalha Filleti.

Em 2009, a indústria brasileira produziu 1,65 milhão de toneladas de alumínio primário, e o consumo doméstico foi de 1 milhão de toneladas – o saldo positivo destinou-se à exportação. Já em 2013, a produção caiu para 1,45 milhão de toneladas do material e o consumo subiu para 1,51 milhão de toneladas, gerando déficit
Ayrton Filleti

Em meio à crise do metal, o mercado de reciclagem de sucata de alumínio se fortaleceu. O metal ‘verde’ consome 20 vezes menos energia e atende mercados como o das esquadrias. “O déficit foi suprido pela reciclagem do alumínio consumido domesticamente, impactando menos na queda de produção do alumínio primário. Para o Brasil é importante reciclar, pois, o país está importando cada vez mais alumínio. Deixamos de ser tradicionais exportadores para nos tornarmos importadores”, diz o engenheiro. “O Brasil recicla 95% da sucata de alumínio. Hoje, é um negócio promissor. Nos anos recentes de crescimento da produção de esquadrias de alumínio, aumentou a sobra de alumínio para reciclagem em nossas indústrias. A sucata tem menos etapas para a produção dos perfis extrudados, pois elimina a fase de processamento do alumínio primário. Consequentemente, o custo de produção é menor, exige menos energia elétrica e é mais sustentável”, complementa Lucínio Abrantes dos Santos, presidente da AFEAL – Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio.

Para Lucínio, as indústrias de esquadrias têm duas opções de destinação da sucata. “Enviamos o alumínio que sobra da produção para as extrusoras. Estas fazem a transformação e nos devolvem perfis novos, cobrando apenas a mão de obra. Quando não, vendemos para a indústria da reciclagem de alumínio. Até mesmo a limalha é aproveitada e reciclada”, destaca. É possível comprovar que o perfil foi fabricado com uso de material reciclado por meio de controle interno, além disso, a própria extrusora informa ao seu cliente que está vendendo esse tipo de produto. “É um processo perfeitamente auditável”, garante Filleti.

O Brasil recicla 95% da sucata de alumínio. Hoje, é um negócio promissor... A sucata tem menos etapas para a produção dos perfis extrudados, pois elimina a fase de processamento do alumínio primário. Consequentemente, o custo de produção é menor, exige menos energia elétrica e é mais sustentável
Lucínio Abrantes 

PRODUZINDO O ALUMÍNIO PRIMÁRIO

O procedimento de eletrólise é a explicação para o alto consumo energético no processo de produção do alumínio. “O minério do alumínio chama-se bauxita e é valorizado levando em consideração o alto teor de óxido de alumínio que contém. Por isso a bauxita brasileira é uma das melhores do mundo. Entretanto, ela é constituída pela mistura de diferentes óxidos, como ferro, manganês e alumínio que, para ser separado dos demais óxidos, exige o procedimento químico denominado refino e não gasta tanta energia. Após ser extraído, o óxido de alumínio ainda apresenta oxigênio, que, para ser retirado, passa pela eletrólise, fase em que ocorre elevado consumo de energia elétrica”, explica Filleti.

Segundo ele, 40% da necessidade energética para produzir alumínio no Brasil são supridas pela autogeração. Inclusive, algumas hidrelétricas, como a de Tucuruí, foram projetadas com o intuito de abastecer a sociedade e também atender a demanda de indústrias do metal. “Há cerca de um ano e meio o governo federal reduziu em 28% as tarifas de energia para o setor industrial, mas o impacto positivo foi de somente 10% na indústria do alumínio. Isso porque os contratos de longo prazo em vigor entre o mercado do alumínio e os fornecedores de energia elétrica, não previam essa redução”, ressalta.

RECICLAGEM

Os ferros-velhos compram o quilo do aço por R$ 0,40, enquanto isso, o alumínio chega a R$ 3, o quilo. “Essa diferença de preços acabou criando a ‘profissão’ de catador de lata, no Brasil. O alto valor do alumínio atraiu a atividade da coleta seletiva, evidenciada pelos números expressivos: das 540 mil toneladas do alumínio reciclado no país, no ano passado, 40% correspondem às latas e 60% aos demais materiais. A prática fez do Brasil um dos primeiros países do mundo em reciclagem de latas, atingindo cerca de 98% de produtos reciclados. Quando começamos esse processo, em 1992, seguíamos o modelo norte-americano que, na época, reciclava 65% das latas. Esse projeto foi copiado e implantado no Brasil e hoje atinge 98%, enquanto os EUA retrocederam: das 100 bilhões de latas produzidas por ano, apenas 60% são recicladas. Os 40 bilhões restantes vão para o lixo”, detalha Filleti.

O alto valor do alumínio atraiu a atividade da coleta seletiva, evidenciada pelos números expressivos: das 540 mil toneladas do alumínio reciclado no país, no ano passado, 40% correspondem às latas e 60%, aos demais materiais. A prática fez do Brasil um dos primeiros países do mundo em reciclagem de latas, atingindo cerca de 98% de produtos reciclados
Ayrton Filleti

O processo de reciclagem, em geral, começa com o envio do alumínio coletado para grandes depósitos, de onde é transportado para indústrias recicladoras, que fundem a sucata e produzem lingotes de alumínio secundário. Há uma cadeia de reciclagem mais específica, envolvendo o fabricante de perfis para esquadrias e o fornecedor do tarugo utilizado na produção do perfil. Como o processo de extrusão tem uma eficiência que varia entre 70% e 80%, a cada 100 kg de tarugo utilizados são produzidos até 80 kg de perfil, sobrando 20 kg de sucata. “Esse material é comprado de volta por empresas que refundem a sucata e devolvem para as extrusoras um novo tarugo”, destaca.

Também é comum algumas empresas comprarem material oriundo de reformas ou demolições, como janelas ou portas, e encaminharem essa sucata para fundição e produção de outro tarugo. Esse tipo de retalho é chamado de pós-uso. “Existem empresas extrusoras que mantêm em suas dependências equipamentos para fundição, ficando independentes dos fornecedores de tarugo, já que as sucatas internas podem ser refundidas para criação de novos tarugos. Esse é um tipo de extrusão chamada de integrada”, exemplifica o engenheiro.

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Ayrton Filleti – Engenheiro Metalurgista, graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, é consultor sênior da Intelectus Aluminum Consultant. Com 45 anos de experiência na indústria do alumínio, ocupou o cargo de gerente Corporativo de Tecnologia da Alcan Alumínio do Brasil. É gestor do Comitê Brasileiro de Normas Técnicas de Alumínio, coordenador da Comissão Técnica e do Comitê de Mercado de Transportes da ABAL; conselheiro da ABM; membro do Conselho Técnico do CETEA; membro do Conselho Técnico da ABNT e, em 2010, foi homenageado com o título de presidente Emérito da ABAL.
 
Lucínio Abrantes dos Santos – Presidente-executivo da AFEAL – Associação Nacional de Fabricantes de Esquadrias de Alumínio –, tem formação técnica em Desenho Mecânico (Liceu de Artes e Ofícios); em Técnico Industrial e Técnico em Edificações (Escola Técnica Federal), além de técnico de Marketing, Propaganda, Pesquisa e Publicidade e Gerenciamento, Administração e Planejamento. É sócio-diretor da Luxalum Esquadrias de Alumínio – uma das pioneiras do setor – da Alumetal Montagens Industriais e Civis, e da Santos Interparti Empreendimentos Imobiliários.