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Membrana ETFE é material translúcido revolucionário

Flexível e 90% mais leve do que o vidro, o material já é amplamente utilizado pela arquitetura mundial. No Brasil, um bom exemplo é o da fachada da Arena Pernambuco

Publicado em: 12/01/2022Atualizado em: 25/10/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Arena Pernambuco
A Arena Pernambuco tem o fechamento lateral das fachadas executado com sistema de almofadas pneumáticas em filmes de ETFE (Foto: Alexandre Siqueira/Shutterstock)
O ETFE é 99% mais leve que o vidro e possui elementos que o tornam mais flexível como material de construção e como meio de iluminação dinâmica
Daniel Hopf Fernandes

Transparentes e flexíveis, as membranas ETFE ganham cada vez mais espaço na arquitetura, em projetos de coberturas e fachadas. O material conhecido no mercado como “vidro flexível” é um filme termoplástico ultraforte, fabricado a partir de resina de tetrafluoretileno etileno (ETFE).

“O ETFE é 99% mais leve que o vidro e possui elementos que o tornam mais flexível como material de construção e como meio de iluminação dinâmica. Ou seja, é possível mudar de cor e, geralmente, é instalado em estrutura metálica, onde cada unidade pode ser iluminada e manipulada de forma independente”, explica o arquiteto Daniel Hopf Fernandes, titular do escritório Fernandes Arquitetos Associados.

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Características gerais

As espessuras das membranas ETFE vão de 100 a 500 micra e asseguram transmissão de luz acima dos 90%, segundo Sérgio Yai, gerente de Vendas e Marketing da AGC Chemicals para América Latina. Considerando que não haja vandalismo, o produto tem longa vida útil, pois suporta temperaturas acima de 200 °C; é resistente a produtos químicos e solo, ao rasgamento e às intempéries de longo prazo; é antiaderente; não alimenta e não propaga chama.

“Alguns testes que simulam a membrana exposta por aproximadamente 30 anos ao sol não mostram sinal algum de deterioração”, comenta. Aspecto que tem atraído os arquitetos é a elevada flexibilidade do material, que se molda facilmente para adquirir as mais diferentes formas de fachadas. Alguns exemplos são superfícies curvas ou com formato de “bolhas”. Fernandes lembra que são diversas possibilidades de personalização, com diferentes tipos de estruturas disponíveis em vários tamanhos, formas e cores. “Sua estrutura elástica é ideal e funciona para diferentes projetos”, observa.

Estruturação e manutenção

Devido à baixa tensão superficial da membrana, a sujeira praticamente não gruda em sua superfície. Isso faz com que ela se mantenha limpa por muito tempo, reduzindo custo com manutenção
Sérgio Yai

As membranas podem ser estruturadas com apenas um filme, ou em multicamadas com dois ou três filmes. “Geralmente as estruturas monocamada são tensionadas por suas bordas e presas nas extremidades da estrutura a ser coberta ou fechada. Já as multicamadas geralmente são soldadas em suas bordas, formando estruturas que aparentam ‘bolhas’”, expões Yai. Essas ‘bolhas’ são presas em estruturas com o formato pré-definido que se deseja representar. As estruturas, por sua vez, são fixadas na superfície a ser coberta, resultando na aparência final projetada. “O resultado é um design inovador e futurístico”, diz Yai.

Ao longo do tempo, se for identificado algum furo ou rasgo na membrana instalada, dependendo do tamanho do dano, é possível fazer a recuperação in loco. “Devido à baixa tensão superficial da membrana, a sujeira praticamente não gruda em sua superfície. Isso faz com que ela se mantenha limpa por muito tempo, reduzindo custo com manutenção”, informa Yai, indicando que, se houver necessidade, um simples jato de água é capaz de fazer a limpeza.

Ganhos para o projeto

“Devido à natureza flexível da membrana de ETFE ela pode ser utilizada para criar fachadas curvas transparentes, que são surpreendentes de se verem pelo lado de fora e de dentro, replicando quase que perfeitamente a amplitude do espaço e a luminosidade do ambiente externo”, descreve Sérgio Yai, acrescentando que grama e plantas tropicais podem florescer em um clima criado sob a membrana.

Daniel Fernandes comenta que o ETFE é um material extremamente versátil, que atende basicamente qualquer formato. “Diferencial importante está nas peças em tamanhos maiores, quase sem limite de dimensão, vantagem que acaba abrindo infinitas possibilidades para o desenvolvimento de um projeto”, ressalta.

Custo-benefício

Trata-se de material arquitetônico revolucionário, muito seguro e mais leve que outros também translúcidos, demandando menos suporte estrutural, reduzindo o tempo e o custo de construção.

“De maneira geral, podemos considerar que o EFTE possui um ótimo custo-benefício. Ele transmite mais luz, sem que o projeto sofra degradação por raios UV, isola melhor, custa de 24 a 70% menos para instalar, é autolimpante, reciclável, de fácil manutenção e com excelente durabilidade”, argumenta Daniel Hopf Fernandes, ressalvando que é preciso avaliar o custo de todo o conjunto e não apenas da matéria-prima.

O arquiteto lembra que tanto o vidro quanto o policarbonato necessitam de uma estrutura metálica de sustentação e de sistemas de fixação específicos. No caso da Arena Pernambuco, projeto que assina e que utilizou o ETFE, ao avaliar o tipo de policarbonato e vidro que seriam necessários para o projeto, o escritório levou em consideração que ambos necessitariam de uma estrutura metálica mais robusta para receber os respectivos sistemas e, com isso, os valores ficaram bem próximos.

Arena Pernambuco

A Arena Pernambuco possui 136 mil m² de área construída. O fechamento lateral das suas fachadas é composto por um sistema de almofadas pneumáticas em filmes de ETFE, cujas bordas são presas a uma estrutura metálica por meio de perfis de alumínio. “Esse sistema de fechamento lateral cumpre funções distintas. Ao unir forma e função semitransparente, há um diálogo constante entre as áreas internas e externas, que possibilita um controle diversificado de iluminação e ventilação natural, de acordo com os diferentes usos sob a membrana”, relata Fernandes.

A combinação entre os tipos de filme transparente e opaco aplicados na Arena, assim como nos diversos padrões de serigrafia, permite amenizar os efeitos de ganho de calor pela superfície do fechamento. Associada às aberturas, proporciona a ventilação natural e ajuda no controle da temperatura interna, contribuindo para o conforto de todos os usuários. “Outro detalhe sustentável é que as membranas feitas com esse polímero são 100% recicláveis, com baixo coeficiente de atrito e propriedades antiaderentes, impedindo que partículas de sujeira e poeira fiquem depositadas em sua superfície”, fala o arquiteto.

Yai complementa dizendo que o alto nível de retenção do calor do ETFE, aliado à sua habilidade em permitir a entrada de muita luz natural, pode reduzir significativamente os custos de energia em até 30%, quando comparado a outros materiais translúcidos.

O arquiteto conta que, nos últimos anos, teve algumas oportunidades de especificar as membras. “Sempre que possível ou adequado ao projeto indicamos o uso do material. No entanto, nenhum deles se concretizou como obra construída”, diz. O fato é que o cliente precisa ter visão para entender todas as vantagens e possibilidades, mas como todo material novo ou inovador o ETFE passa por um processo de maturação. “Apesar disso, sem dúvidas, enxergamos infinitas possibilidades para o mercado brasileiro, onde o ETFE já poderia estar sendo usado”, completa Fernandes.

No caso da AGC, a membrana é produzida no Japão, mas há estoque no Brasil. “O manuseio, que implica corte e solda do material, é feito pelo que chamamos de fabricators, que podem ajudar o arquiteto com o projeto e a instalação na obra. Há, também, empresas de engenharia especializadas que oferecem suporte para o desenvolvimento do projeto”, finaliza Sérgio Yai.

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Colaboração técnica


Daniel Hopf Fernandes – É Arquiteto e Urbanista formado pela Universidade de São Paulo – FAU/USP. Há mais de 23 anos fundou a Fernandes Arquitetos Associados, escritório reconhecido pelos diferentes programas e escalas de projetos atendidos e por sua atuação em diversas áreas da arquitetura, como transporte, saúde, indústrias, projetos urbanísticos, institucionais, edifícios de uso comercial e misto para o mercado imobiliário. Além disso, realiza estudos de viabilidade para grandes empreendimentos, como complexos esportivos e de entretenimento.

Sérgio Yai – É Engenheiro de Materiais pela Universidade Federal de São Carlos – UFSCar (1997); tem pós-graduação em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas –(2002); cursou o Programa de Desenvolvimento de Supervisores na Fundação Dom Cabral (2006); e tem MBA Executivo Internacional na University of Pittsburgh’s Joseph M. Katz Graduate School of Business (2011). Atua há mais de 20 anos no mercado químico e de plásticos em nível global. É gerente de Vendas e Marketing da AGC Chemicals para América Latina.