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Manifestações patológicas associadas à argamassa de revestimento

Fissuras, deslocamentos e desplacamentos em revestimentos externos são os problemas que surgem com maior frequência nas edificações. Entenda como evitar e resolver

Publicado em: 19/10/2017Atualizado em: 27/03/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

A argamassa de revestimento tem a função de regularizar superfícies. Usado como acabamento final ou como base para receber outras soluções, o material – que pode ser industrializado ou preparado no canteiro –, é composto por água, areia, cal, cimento e aditivos.

Assim como praticamente todos os elementos empregados na construção civil, a mistura está sujeita às manifestações patológicas que surgem por diferentes motivos. “As principais são as fissuras, os descolamentos e os desplacamentos, que ocorrem, especialmente, em revestimentos externos”, explica a engenheira Angela Borges Masuero, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também é comum esse tipo de argamassa sofrer com manchas causadas pela umidade ou, ainda, com a presença de colônias de microrganismos.

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É essencial descobrir o motivo que desencadeou a patologia (AVN Photo Lab / Shutterstock.com)

FISSURAS

O aparecimento de fissuras no revestimento não tem causa única. Pode estar atrelado a diferentes situações. O problema resulta, por exemplo, da movimentação e/ou deformação da base sobre a qual está aplicada a mistura. A situação geralmente acontece na interface entre o concreto e a alvenaria; na região de fixação superior da alvenaria; ou em pontos de concentração de tensões, como cantos de aberturas.

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“A patologia surge, ainda, devido à perda de água da argamassa”, informa a docente. O fenômeno é causado pela dosagem inadequada ou qualidade inferior dos materiais presentes na mistura. Contribuem para a perda de água falhas na determinação do tipo e teor de aglomerantes, erros na porcentagem de finos e a má distribuição granulométrica da areia. “Condições climáticas na execução e características da base também influenciam”, completa.

As fissuras podem indicar procedimentos equivocados na etapa de aplicação da solução. “É possível citar excesso de água na mistura, não realização do processo de cura, espessuras elevadas dos revestimentos, entre outras”, enumera a engenheira.

DESLOCAMENTO E DESPLACAMENTO

Como causas mais frequentes do aparecimento de descolamentos pontuais, chamados de vesículas, estão a hidratação retardada da cal e a presença de impurezas nos agregados, como matéria orgânica, torrões de argila e concreções ferruginosas
Angela Borges Masuero 

Descolamentos e desplacamentos estão diretamente ligados à falta de aderência do revestimento à base. Influenciam para ocorrência da situação as características da superfície, o tipo de argamassa empregado, o processo de execução e as condições climáticas.

“O substrato a ser revestido deve apresentar absorção que propicie a microancoragem, decorrente da penetração da pasta ou argamassa nos seus poros, e a macrorrugosidade, que proporcione maior área de contato da mistura nas irregularidades da base”, afirma Masuero.

Para evitar que a patologia aconteça, é indicada a realização de procedimentos de preparo da base, como tratamentos das superfícies de concreto e uso da camada de preparação (chapisco). Além disso, é importante garantir que não existe nenhum tipo de contaminação na área a ser revestida.

A argamassa e seus constituintes também exercem papel fundamental na questão da aderência. “A mistura, quando fresca, deve apresentar reologia que a permita preencher as irregularidades da base, buscando-se o máximo de contato possível. Nesse estado, a argamassa precisa ter características compatíveis com a superfície, como retenção de água e adesão inicial”, fala a especialista.

Já quando endurecida, a mistura deve ter resistência à tração e ao cisalhamento e apresentar módulo de elasticidade compatível com o da base. Assim, contará com a capacidade de resistir às deformações da superfície e permanecer aderida sem fissurar excessivamente ou descolar.

“Como causas mais frequentes do aparecimento de descolamentos pontuais, chamados de vesículas, estão a hidratação retardada da cal e a presença de impurezas nos agregados, como matéria orgânica, torrões de argila e concreções ferruginosas”, comenta a docente.

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MANCHAS E COLÔNIAS DE MICROORGANISMOS

Normalmente, as manchas de umidade resultam de uma soma de fatores. Entre as razões mais comuns dessa patologia estão infiltrações, problemas com a impermeabilização, qualidade baixa de esquadrias que permitem a entrada da chuva, além de vazamentos no sistema hidráulico. A presença frequente de umidade, somada à pouca incidência de sol, resulta no surgimento de colônias de microrganismos (mofo e bolor). Essa forma de vida indesejada, além de desconforto visual, pode ainda resultar em danos à saúde.

Atualmente, com a norma ABNT NBR 15575, o revestimento de argamassa assume papel cada vez mais importante
Angela Borges Masuero 

CORRIGINDO AS MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS

Cada patologia conta com seu correto procedimento de recuperação. Porém, tão importante quanto resolver o problema, é investigar os motivos que o desencadearam. “No caso das fissuras terem causa na movimentação da estrutura, por exemplo, deve ser realizada análise das deformações existentes. A correção envolverá o uso de juntas ou telas no revestimento, solução especificada com base nas características de cada projeto”, diz a engenheira.

Quando se trata de descolamento, o revestimento precisa ser removido e executado novamente. O procedimento deve ser refeito desde o início, começando pelo preparo de base e seguindo até o processo de execução, passando pela correta especificação da argamassa.

PREVENÇÃO

A melhor maneira de evitar o surgimento de manifestações patológicas é através da realização do adequado projeto de revestimento, que apresentará todas as especificações técnicas dos materiais a serem utilizados. Deve prever, também, os processos corretos de execução e controle, visando a obtenção do satisfatório desempenho do revestimento.

NORMAS TÉCNICAS

As principais normas técnicas que precisam ser respeitadas em relação às argamassas de revestimento são:

• ABNT NBR 13528 – Revestimento de paredes de argamassas inorgânicas – Determinação da resistência de aderência à tração
• ABNT NBR 7200 – Execução de revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Procedimento
• ABNT NBR 13749 – Revestimento de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação
• ABNT NBR 13281 – Argamassa para assentamento e revestimento de paredes e tetos – Requisitos

“Atualmente, com a norma ABNT NBR 15575, o revestimento de argamassa assume papel cada vez mais importante. É essencial que seja projetado e executado para cumprir suas funções e assegurar o desempenho adequado da edificação, no que tange aos sistemas de vedações verticais externas e internas”, finaliza Masuero.

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Colaboração técnica

Angela Borges Masuero – Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestrado em Engenharia Civil pela UFRGS e doutorado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela mesma instituição. Atualmente é professora associada da UFRGS. Tem experiência na área de Engenharia Civil, com ênfase em Construção Civil. Desenvolve, principalmente, os seguintes temas: tecnologia de concretos e argamassas, tecnologia de revestimentos, aproveitamento de resíduos em materiais de construção, desenvolvimento de novos materiais, avaliação de desempenho de materiais e componentes da construção, patologia das edificações e processos construtivos. Atua em ensino de graduação e pós-graduação. É pesquisadora do CNPq. Orientou 46 dissertações de mestrado, oito teses de doutorado e 52 trabalhos de conclusão de curso.