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Madeira engenheirada é opção estrutural para edificações

Seja em sistemas híbridos, seja compondo integralmente a estrutura, solução industrializada começa a ser explorada no Brasil, em edifícios e lojas

Publicado em: 20/01/2021

Texto: Juliana Nakamura

madeira engenheirada
Uso de madeira engenheirada no Brock Commons Tallwood House, no Canadá (Crédito: Divulgação/Acton Ostry Architects)

A madeira engenheirada é uma solução estrutural que vem se consolidando em países do hemisfério norte em função de características como racionalidade, alta precisão e sustentabilidade. Diferente de outros materiais, como o concreto e o aço, a madeira de reflorestamento pode capturar carbono e contribuir para a redução do efeito estufa. “Um metro cúbico dessa tecnologia retira uma tonelada de gás carbônico da atmosfera”, revela a arquiteta Ana Belizário, gerente de projetos e novos negócios da Amata.

O QUE É A MADEIRA ENGENHEIRADA?

Um metro cúbico dessa tecnologia retira uma tonelada de gás carbônico da atmosfera
Ana Belizário

O termo refere-se a uma série de produtos fabricados a partir de pinus ou eucalipto que, após a extração, são submetidos a tratamentos e processos que agregam qualidade e homogeneidade. Entre eles, destacam-se a madeira laminada colada (MLC), utilizada para vigas e pilares, e a madeira laminada cruzada (CLT, do termo em inglês Cross Laminated Timber), aproveitada na confecção de lajes e paredes estruturais.

O que explica o interesse por esse sistema estrutural, além da capacidade de suportar cargas e da sustentabilidade, são fatores como baixo peso, facilidade para gerar sistemas industrializados, além da estética naturalmente nobre.

SEGURANÇA AO FOGO E DURABILIDADE

Resistência às intempéries e comportamento perante ao fogo são aspectos que comumente despertam dúvidas com relação aos sistemas construtivos inovadores.

No caso das estruturas de madeira, a obtenção do TRRF (Tempo Requerido de Resistência a Fogo) exigido pelo Corpo de Bombeiros está relacionado ao desempenho mecânico do material. A obtenção desse índice depende de um dimensionamento que considere a seção extra de madeira que pode, eventualmente, carbonizar, e a seção estrutural que precisa ser mantida para o suporte das cargas.

“Em paralelo, há a questão da propagação de chamas. Para atender às exigências, basta que a estrutura de madeira receba uma aplicação superficial de verniz retardante de chamas”, comenta Ana Belizário.

Com relação à durabilidade, a normatização brasileira orienta que toda madeira macia para uso estrutural passe por tratamento em autoclave com conservantes. “Associado a esse tratamento, é recomendável que a estrutura de pinus seja projetada com algum sistema de proteção, como beirais, rufos e revestimentos”, diz Belizário. Segundo ela, quando inserida em um projeto que contemple alguma proteção, como um chapéu ou uma pele, a estrutura de madeira engenheirada atinge durabilidade de 50, 60 anos. “Mas em várias regiões do mundo há exemplos de construções de madeira centenárias em operação”, destaca a arquiteta.

NORMAS TÉCNICAS

Para impulsionar o uso da madeira engenheirada no Brasil, a indústria, em conjunto com institutos de pesquisas e com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), vem desenvolvendo um processo de atualização e ampliação do arsenal de normas técnicas nacionais.

O trabalho em curso começou com a revisão dos textos de projeto de estruturas de madeira (NBR 7190) e de preservação de madeira (NBR 16.143). O plano é, na sequência, elaborar normas específicas de construção, proteção em caso de incêndio e produção industrial de madeira engenheirada, em um processo similar ao que aconteceu com a estrutura metálica há alguns anos.

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Projeto da loja conceito da marca de chocolates Dengo
(Crédito: Pedro Kok)

Ana Belizário lembra, porém, que a ausência desses textos técnicos não inviabiliza os projetos e as obras com CLT e MLC no país. Isso porque o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo, cujo trabalho é referência para outros estados, aprova a construção com esses produtos, desde que atendidos os requisitos da normatização europeia (Eurocode).

CASES NACIONAIS

Embora a madeira engenheirada ainda carregue uma aura de novidade, gradativamente começam a surgir aplicações dessa tecnologia no Brasil. A HTB, por exemplo, vem desenvolvendo junto com os arquitetos do escritório Kröner e Zanutto, um sistema construtivo híbrido para edifícios de escritórios, com núcleo de elevadores em concreto e o restante da estrutura em madeira engenheirada. Outro exemplo é a loja conceito da marca de chocolates Dengo. Projetada pelos arquitetos Matheus Farah e Manoel Maia, a edificação de quatro pavimentos em operação em São Paulo, tem lajes de CLT e vigas e pilares de MLC.

Colaboração técnica

Ana Belizário — Gerente de projetos e novos negócios da Amata, é arquiteta formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo em 2006. Atuou por 10 anos no mercado imobiliário, especializando-se em incorporação. Desde 2016, é gestora de projetos, liderando o novo negócio da Amata, a Urbem, com foco em construção civil. A empresa está construindo uma unidade fabril para a produção de mais de 60 mil m³ de madeira engenheirada a partir de 2022, no Paraná.