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Lajes nervuradas em caixão perdido: saiba quando e como usar

Fôrmas enclausuradas entre os capeamentos de concreto explicam a denominação caixão perdido, sistema interessante para grandes vãos e visual limpo

Publicado em: 10/11/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Lajes do tipo nervuradas em caixão perdido
As lajes nervuradas com caixão perdido são uma excelente alternativa para grandes vãos (Imagem: Divulgação/Rafael Alves de Souza)

As lajes do tipo nervuradas em caixão perdido foram a escolha do engenheiro estrutural Joaquim Cardoso para boa parte dos edifícios de Brasília projetados por Oscar Niemeyer. Outro ícone da arquitetura brasileira, Vilanova Artigas lançou mão do sistema no prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAU USP.

“Para prédios altos, esse tipo de laje perdeu espaço para as lisas protendidas. No entanto, o sistema ainda encontra espaço em obras públicas e eventualmente residenciais, com poucos pavimentos e grandes vãos. Um bom exemplo é o da Cidade das Artes (RJ), inaugurada em 2013”, comenta o engenheiro e doutor em engenharia de estruturas Rafael Alves de Souza, sócio-diretor da Engracon Engenharia de Estruturas.

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Diferenciais do sistema

A laje em caixão perdido apresenta uma mesa colaborante tanto na parte superior quanto na inferior, o que garante maior inércia
Rafael Alves de Souza

O sistema se diferencia da laje nervurada convencional por possuir, também, um capeamento inferior. “A laje em caixão perdido apresenta uma mesa colaborante tanto na parte superior quanto na inferior, o que garante maior inércia”, define Souza, explicando que, para se obter essa solução estrutural, primeiro é feita a concretagem do capeamento inferior.

Na sequência, são colocados caixões/fôrmas, que podem ser feitos com materiais como caixotes de madeira, papelão ou EPS (poliestireno expandido), que servem de base para a obtenção do capeamento superior. “Após concretadas as nervuras e o capeamento superior, os elementos que serviram de fôrma ficam aprisionados internamente à laje, dando sentido ao nome de caixão perdido”, comenta.

O engenheiro acaba de projetar laje nervurada em caixão perdido, com 190 m², para uma residência em Maringá (PR). “Optei pelo sistema utilizando fôrmas de EPS, para formar grelhas de vigas protendidas com grande inércia, em função das lajes maciças presentes no seu topo e na base. É um sistema diferente do nervurado clássico, mas que apresenta características construtivas semelhantes”, explica.

Vantagens e desvantagens

As lajes nervuradas com caixão perdido são uma excelente alternativa para grandes vãos, principalmente quando o arquiteto tem a intenção de dar a sensação de laje lisa para quem a vê pela sua face inferior. “O arquiteto pode dar a falsa sensação de que a laje está apoiada diretamente sobre pilares, quando na verdade há vigas cumprindo tal função”, fala Souza.

As vantagens da laje em caixão perdido estão relacionadas aos grandes vãos, economia de armaduras e à possibilidade de se esconder todo sistema hidráulico e elétrico no interior da laje. Por outro lado, o processo construtivo demanda concretagem por etapas, o que acaba sendo mais moroso do que o sistema convencional de lajes nervuradas com cubetas plásticas.

A solução mais rápida e econômica são as lajes lisas protendidas, popularizadas pelo uso das cordoalhas engraxadas e sua fácil aplicação
Rafael Alves de Souza

O caixão perdido pode ou não ser mais econômico do que outras soluções, tudo vai depender da arquitetura e da respectiva concepção estrutural da edificação. “A solução mais rápida e econômica são as lajes lisas protendidas, popularizadas pelo uso das cordoalhas engraxadas e sua fácil aplicação”, diz, referindo-se às armaduras utilizadas no concreto protendido com pós-tensão não-aderente. As cordoalhas são protegidas por graxa e uma camada de polietileno de alta densidade (PEAD), popularizadas no Brasil na década de 90, pela facilidade de aplicação ao eliminar a injeção de nata de cimento, necessária no sistema com protensão aderente.

Alguns cuidados

O preenchimento dos caixões perdidos com entulho, principalmente madeira e papel, foi bastante utilizado no passado, nas regiões de rebaixos de banheiro. “Hoje, esse recurso está praticamente em desuso, uma vez que o EPS se tornou mais barato e, também, elimina o peso desnecessário sobre as lajes”, conta Souza.

Vale o alerta de que sempre deve existir um projeto de impermeabilização e a respectiva execução por pessoal especializado, de maneira a evitar problemas de infiltração. “Em lajes do tipo caixão perdido, podem aparecer infiltrações em pontos que não são necessariamente a origem do problema. A água pega carona nos canos e pode chegar em lugares improváveis do ponto de vista lógico”, aponta, lembrando que em caixão perdido, as dificuldades de acesso às tubulações são normalmente maiores. Os melhores procedimentos de impermeabilização estão contidos nas normas ABNT NBR 9574 e ABNT NBR 9575.

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Colaboração técnica

Rafael Alves de Souza
Rafael Alves de Souza – Engenheiro Civil formado pela Universidade Estadual de Maringá - UEM (1999). Mestre em Engenharia de Estruturas pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP (2001). Doutor em Engenharia de Estruturas pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - POLI-USP (2004) e pós-doutor pela University of Illinois at Urbana-Champaign, Estados Unidos (2006) e University of Amherst Massachusetts, Estados Unidos (2015). É professor titular da Universidade Estadual de Maringá nas disciplinas de Estruturas em Concreto Armado, protendido e Pré-Moldadas, atuando como docente desde 2002. É membro do Instituto Brasileiro do Concreto desde 2002 e membro do American Concrete Institute desde 2006, participando dos comitês 445 - Shear and Torsion e 447 - Finite Element Analysis of Reinforced Concrete Structures. É sócio-diretor da Engracon Engenharia de Estruturas.