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Jardins de chuva oferecem mais permeabilidade e verde às cidades

Infraestrutura verde é alternativa para contornar problemas causados pela impermeabilização e reduzir inundações e enchentes. Saiba mais

Publicado em: 19/08/2021Atualizado em: 21/09/2021

Texto: Juliana Nakamura

Jardim de chuva
Jardim de chuva na região central de São Paulo (Foto: Divulgação/Prefeitura de São Paulo)

A infraestrutura verde, em especial na forma de jardins de chuva e de biovaletas, tem adquirido cada vez mais relevância em grandes centros urbanos por ser uma resposta aos problemas de drenagem provocados pela impermeabilização do solo. Cidades como Portland e Nova York, nos Estados Unidos, Singapura, no Sudeste Asiático, e São Paulo, apenas para citar algumas, têm recorrido a essas soluções para reduzir enchentes e diminuir o transbordamento de bueiros.

Capaz de promover a redução das vazões de pico através de sistemas de detenção, retenção ou infiltração da água da chuva, a infraestrutura verde é, também, uma alternativa à infraestrutura cinza tradicional. Essa última se baseia no aumento da capacidade de escoamento das águas e na detenção de volumes em grandes reservatórios (piscinões).

O QUE SÃO OS JARDINS DE CHUVA E AS BIOVALETAS?

Solução simples para reverter a alteração do ciclo hidrológico, os jardins de chuva consistem em áreas com vegetação projetadas para favorecer a retenção e a infiltração da precipitação. Eles são implantados em locais escolhidos estrategicamente, em geral, com um rebaixamento de, pelo menos, 20 cm em relação ao solo do entorno.

Baseada no mesmo conceito, as biovaletas são valas vegetadas ou jardins lineares em cotas mais baixas ao longo de vias e estacionamentos. Esses caminhos recebem a água do escoamento superficial, promovendo a redução das vazões em momentos de pico.

RESGATE DA BIODIVERSIDADE

Tanto os jardins de chuva, quanto as biovaletas são estratégias excelentes para resgatar a permeabilidade perdida com a impermeabilização dos solos gerada pela urbanização
Beatriz Codas

“Tanto os jardins de chuva, quanto as biovaletas são estratégias excelentes para resgatar a permeabilidade perdida com a impermeabilização dos solos gerada pela urbanização”, comenta a engenheira Beatriz Codas, sócia da Geasa Engenharia. Ela lembra que, além de retardar a água da chuva que escoa para rios e córregos e agregar maior permeabilidade às cidades, os jardins de chuva e as biovaletas proporcionam, ainda, outros benefícios.

O primeiro deles é a remoção da poluição difusa. A água da chuva carrega muitas impurezas que são naturalmente conduzidas diretamente para os cursos d’água. A vegetação dos jardins de chuva e das biovaletas podem exercer um papel filtrante e remediador, permitindo que o líquido chegue mais limpo aos rios.

Além disso, essas infraestruturas utilizam essencialmente vegetação nativa, adaptada às condições climáticas da região. Com isso, além de ter uma manutenção facilitada e maior resistência, cria-se a oportunidade de resgatar a biodiversidade original.

CUIDADOS EM PROJETO E EXECUÇÃO

Beatriz Codas explica que os projetos de infraestrutura verde, assim como ocorre com qualquer projeto de infraestrutura, devem ser elaborados por profissionais habilitados com conhecimento profundo sobre aspectos como bacia hidrológica, topografia e solo.

“Os jardins por si só são uma boa opção para qualquer local. Mas quando o foco é na função de drenagem, é importante que ele seja colocado corretamente para que não cause outro problema ou que simplesmente não funcione”, alerta a engenheira. Ela cita como exemplo negativo a construção de jardins com função de permeabilidade em locais de lençol freático é alto.

Além de um projeto bem compatibilizado, jardins de chuva e biovaletas exigem manutenção, da mesma forma que acontece com outros sistemas de drenagem. Um dos cuidados importantes é com a limpeza, visto que o jardim pode receber sedimentos e lixo indevidamente depositados.

Como são usadas espécies nativas, as plantas normalmente toleram bem o período de secas, mas eventualmente pode ser necessário algum complemento
Beatriz Codas

Segundo Codas, o cuidado com as plantas também é necessário, mas de maneira muito mais simples do que acontece nos jardins artificiais. No mais, recomendam-se inspeções sempre que houver precipitações muito fortes para detectar eventuais erosões na terra. “Como são usadas espécies nativas, as plantas normalmente toleram bem o período de secas, mas eventualmente pode ser necessário algum complemento”, conclui Codas.

Só na capital paulista já foram construídos 128 jardins de chuva na região central e em bairros como Pacaembu e Vila Nova Conceição. Em Nova York, já são mais de quatro mil jardins construídos e cinco mil em construção.

Também empreendimentos privados têm recorrido à infraestrutura verde como estratégia de qualificação e sustentabilidade. No Parque Una, em Pelotas, RS, por exemplo, biovaletas foram incorporadas para fazer a fitorremediação da água que escoa para um grande lago que fica no centro do complexo residencial.

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Colaboração técnica

 
Beatriz Codas — Engenheira civil, mestre em hidráulica e saneamento pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). É sócia da Geasa Engenharia, empresa de projetos de infraestrutura especializada em bairros planejados e loteamentos.