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Impressoras 3D podem reduzir desperdício de matéria-prima nos canteiros

Com promessa de revolucionar o setor da construção civil, tecnologia possibilitará, ainda, maior controle da qualidade

Publicado em: 21/03/2016Atualizado em: 31/07/2019

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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As impressoras 3D produzem desde objetos mais simples até alguns bem complexos (Alexander Kirch/shutterstock.com)

As impressoras 3D são capazes de produzir desde objetos mais simples até alguns bem complexos. Com o avanço das soluções pré-moldadas, a tecnologia poderá ser aproveitada também na construção civil.

"Apesar de abrir um leque de possibilidades, ainda é cedo para afirmar que essa alternativa será o futuro da construção", fala o engenheiro Fabiano Rogerio Corrêa, professor no departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Contudo, para o docente, é importante estudar o impacto dessa tecnologia na construção civil, já que muitas indústrias estão sofrendo verdadeiras transformações.

 

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Ainda é necessário muito estudo para a impressão em 3D
do concreto (Chesky/shutterstock.com)

POTENCIAL DO TRIDIMENSIONAL

Por ser uma tecnologia recente, existem dúvidas sobre o seu real potencial e sobre o que ela é ou não capaz de fazer. “Sonho é termos uma impressora para imprimir casas inteiras no canteiro. A realidade atual é que uma edificação pode sim ser montada a partir de elementos que tenham sido pré-fabricados com a tecnologia de manufatura aditiva”, destaca o professor.

Ainda é necessário muito estudo para a impressão em três dimensões do concreto, por exemplo, pois o material é justamente o elemento mais delicado e definitivo para o sucesso da tecnologia. Segundo Corrêa, uma impressora multimaterial – um tipo de impressora 3D que já existe em pesquisas, capaz de produzir objetos constituídos por diferentes materiais – poderia permitir a impressão de uma parede hidráulica montada.

POSSÍVEIS VANTAGENS E DESVANTAGENS

Em um contexto de industrialização da construção e da introdução do BIM (Modelagem de Informação da Construção, do inglês Building Information Modeling), entre as possíveis vantagens proporcionadas pelas impressoras 3D está uma maior liberdade de criação ao arquiteto, com uso de formas geométricas mais arrojadas.

Além disso, o equipamento pode permitir a criação de elementos customizados, por exemplo, ao longo da fachada, já que sua produção depende apenas da modelagem geométrica computacional. Outros benefícios da pré-fabricação de elementos fora do canteiro são maior controle da qualidade e menor desperdício de material.

É preciso ainda estudar os impactos ambientais no consumo e desperdício de materiais, mas a princípio se teria um bom ganho com a adoção da manufatura aditiva
Fabiano Rogerio Corrêa

A grande desvantagem é o tempo necessário para imprimir um elemento, comparado com técnicas alternativas no canteiro. “É preciso enxergar o processo inteiro e toda a cadeia produtiva para que a impressão 3D se torne viável”, fala o engenheiro.

A tecnologia pode causar impactos na qualidade final das edificações, pois, no contexto do BIM, em que se faz praticamente uma construção virtual da edificação, é possível ter melhor controle na execução do planejado. “É preciso ainda estudar os impactos ambientais no consumo e desperdício de materiais, mas a princípio se teria um bom ganho com a adoção da manufatura aditiva”, diz.

O uso das impressoras 3D trará também reflexos nos custos da construção, podendo haver uma redução dos valores em função do maior controle sobre o que se produz e pela diminuição do desperdício de materiais. A implantação da tecnologia, contudo, terá um custo mais alto, em comparação com as alternativas tradicionais, considerando o investimento inicial feito para a compra das máquinas.

Espero que a tecnologia venha a marcar presença, ainda que seja com a produção de elementos decorativos e não funcionais
Fabiano Rogerio Corrêa

Apesar do rápido avanço, ainda é difícil prever qual o período de tempo necessário para que esses equipamentos comecem a ser plenamente utilizados no país. “Um dos maiores divulgadores das impressoras 3D na área está desenvolvendo sua solução há mais de dez anos”, informa.

Mesmo com todas as vantagens que a impressão 3D pode trazer ao setor, o professor acredita que existirá uma grande dificuldade de disputar com as práticas atuais de construção, principalmente por questões de cultura do mercado e pela disponibilidade de mão de obra barata, em contraposição a uma construção de mais qualidade e com maior controle. “De qualquer maneira, espero que a tecnologia venha a marcar presença, ainda que seja com a produção de elementos decorativos e não funcionais”, finaliza Corrêa.

POR MAIS PRÉ-FABRICADOS

Segundo Fabiano Rogerio Corrêa, a construção civil brasileira precisa mudar a sua cultura de produção e partir para o uso de pré-fabricados, deixando o canteiro de obras apenas para a montagem desses elementos. “Em países que adotam essa cultura, a manufatura aditiva terá mais relevância em um menor período de tempo”, conclui.

Colaboração técnica

Fabiano Rogerio Corrêa – docente no departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), desde 2011. Formado pela mesma instituição em Engenharia Mecatrônica, tem conduzido pesquisas dentro do contexto da industrialização da construção, emprego de automação e robótica para a construção de edificações, uso de tecnologia computacional para o BIM e emprego de manufatura aditiva na construção.