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Impermeabilizantes rígidos ou flexíveis: saiba especificar

Ação da água no local, tendência da área à movimentação, exposição a intempéries, tamanho e interface com os outros sistemas construtivos são alguns dos fatores a considerar

Publicado em: 23/07/2014Atualizado em: 31/03/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Foto: Paulo Barros

A importância da impermeabilização pode ser medida por sua quase onipresença nas diferentes partes da edificação. Da base ao topo, passando pela fachada e os ambientes internos, pela piscina e a caixa de gordura, pelo poço do elevador e o jardim, sua aplicação é ampla e essencial para assegurar a durabilidade de qualquer construção.

A função dos vários sistemas, explica o engenheiro Emilio Takagi, gerente de Produto da MC-Bauchemie, é oferecer proteção à estrutura contra os efeitos nocivos da água, mas também contra a ação de outros agentes agressivos encontrados no meio ambiente e que, na presença de umidade, causam patologias graves no concreto.

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“O gás carbônico, presente no ar e lançado pelos escapamentos dos carros, é extremamente agressivo. Imagine, então, sua emissão concentrada em um estacionamento ou em um túnel. A carbonatação e o ataque de cloreto estão entre as principais ‘doenças’ evitadas pela aplicação dos impermeabilizantes”, aponta Takagi.

CLASSES E ESPECIFICAÇÃO

As impermeabilizações rígidas têm módulo de elasticidade próximo ao da argamassa ou concreto sobre o qual será executada

Em função da elasticidade, os diferentes sistemas de impermeabilização são divididos em rígidos e flexíveis. A especificação do produto mais adequado para cada caso vai depender de diversos fatores, tais como a solicitação imposta pela água na parte que necessita ser impermeabilizada, a tendência dessa área à movimentação, sua exposição a intempéries, tamanho, interface com os outros sistemas construtivos, entre outros.

“Em tudo que estiver abaixo da linha do solo, é recomendado aplicar produtos que enrijecem após a cura. O próprio solo oferece uma condição de isolação térmica; a estrutura não tende a se mover tanto. Por outro lado, acima da linha do solo, já se considera o uso de impermeabilizantes mais elásticos. Há insolação, chuva, e o ciclo úmido e seco causa movimentação, que pode acabar gerando trincas, abrindo espaço para infiltração de água”, resume Eliene Ventura, gerente-técnica da Vedacit. “O raciocínio básico é esse, mas, claro, há uma gama enorme de produtos. Por isso, é importante pensar com cuidado na especificação”, ressalta.

Para acertar na escolha da tecnologia a recomendação é consultar os fabricantes e seus materiais técnicos. “É importante contar com a consultoria de um projetista de impermeabilização”, diz Takagi. O profissional indica, ainda, solicitar ao fabricante testes de elasticidade do produto, de forma a verificar a qualidade e se a solução é adequada à aplicação desejada.

REFERÊNCIA A NBR 9575:2010 estabelece exigências e recomendações relativas à seleção e projeto de impermeabilização, de forma que sejam atendidos os requisitos mínimos de proteção da edificação contra a passagem da água, bem como exigências referentes à salubridade, segurança e conforto dos usuários.

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APLICAÇÃO E EFICIÊNCIA

Hoje as normas de impermeabilização não falam em vida útil. Para isso, teremos de fazer um retrospecto da aplicação dos produtos em obras já executadas

Outro detalhe que não pode ser ignorado é a integridade da superfície na qual será aplicado o impermeabilizante. “O primeiro passo é preparar uma base. Uma laje de concreto, por exemplo, deve ter um caimento, não pode apresentar barras enferrujadas. Caso apresente bicheira, deve ser antes recuperada”, orienta Eliene.

A estanqueidade do sistema também está vinculada à aplicação correta dos produtos. Por isso, deve-se seguir a orientação dos fabricantes quanto a itens como consumo, modo de aplicação, quantidade e intervalo entre demãos, necessidade de proteção com revestimentos. “Existem no mercado mantas asfálticas aluminizadas, mas uma manta comum vai exigir uma proteção sobre ela”, lembra a profissional da Vedacit.

A seguir, conheça os principais sistemas e suas aplicações.

IMPERMEABILIZANTES RÍGIDOS

Características
“As impermeabilizações rígidas têm módulo de elasticidade próximo ao da argamassa ou concreto sobre o qual será executada”, explica a consultora técnica do Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI), Maria Amélia Adissy Silveira. Segundo Eliene, da Vedacit, estes são os tipos mais comuns encontrados no mercado.

- A argamassa impermeável, bastante utilizada como reboco e contrapiso, é preparada na obra, com a adição de um aditivo impermeabilizante à mistura de cimento, areia e água.

- As argamassas poliméricas são produtos industrializados, prontos para uso, bastando que o componente líquido (emulsão de polímeros) e o em pó (cimentos e aditivos minerais) sejam misturados e homogeneizados.

Aplicações
São recomendadas para as partes mais estáveis da edificação e que não recebem sol direto. Exemplos: subsolos e cortinas de contenção, poços de elevador, banheiros e lavabos, reservatórios inferiores, rodapés de paredes, piscinas em concreto sob o solo.

Instalação
“As argamassas com aditivos são aplicadas com desempenadeira em camadas com, no máximo, 1,5 cm de espessura”, orienta Maria Amélia. Sobre as argamassas poliméricas, a recomendação da consultora do IBI é realizar a preparação de acordo com as proporções indicadas pelo fabricante e aplicar com trincha larga. “O número de demãos necessárias ou quantidades em kg/m² varia em função da estrutura objeto da impermeabilização.”

Normas técnicas
NBR 16072:2012 – Argamassa impermeável
NBR 11905:1992 Versão Corrigida:1995 – Sistema de impermeabilização composto por cimento impermeabilizante e polímeros – Especificação

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Cimentos Impermeabilizantes

Argamassa para Impermeabilização

IMPERMEABILIZANTES FLEXÍVEIS

Membranas flexíveis não devem ser aplicadas em áreas da edificação sujeitas à pressão negativa

Características
Esses sistemas possuem valores maiores de alongamento e, por isso, são indicados para áreas sujeitas a movimentações, trepidações e ao intemperismo. Os materiais geralmente utilizados nas impermeabilizações flexíveis, de acordo com a consultora do IBI, são: mantas asfálticas; membranas asfálticas moldadas a quente ou a frio; membranas acrílicas; membranas de poliuretano; membranas de poliuretano com asfalto.

Aplicações
Lajes de cobertura em geral, estacionamentos, piscinas, coberturas verdes, terraços, calhas, banheiros e lavabos, cozinhas, áreas de serviço, jardineiras e floreiras, reservatórios de água elevados. “Membranas flexíveis não devem ser aplicadas em áreas da edificação sujeitas à pressão negativa”, alerta Maria Amélia.

Instalação
A aplicação das mantas asfálticas se dá com o auxílio de maçarico. Já as membranas asfálticas e acrílicas são aplicadas com rolos de pintura ou broxas, ou vassouras especiais, no caso de asfalto a quente. As membranas de poliuretano são assentadas com rolos.

Normas técnicas
NBR 9952:2014 – Manta asfáltica para impermeabilização
NBR 13724:2008 – Membrana asfáltica para impermeabilização com estrutura aplicada a quente
NBR 9685:2005 – Emulsão asfáltica para impermeabilização
NBR 15487:2007 – Membrana de poliuretano para impermeabilização
NBR 15414:2006 – Membrana de poliuretano com asfalto para impermeabilização

SEMIFLEXÍVEL?

A classificação, embora não contemplada pelas normas brasileiras, é utilizada pelo mercado para designar produtos com características intermediárias. “Entretanto, podemos ter materiais mais próximos dos impermeabilizantes rígidos ou dos flexíveis, dependendo da composição”, alerta Maria Amélia, consultora do IBI. Na categoria, entram as argamassas poliméricas formuladas com resinas termoplásticas, que conferem mais elasticidade ao cimento. “Banheiros, lavabos, cozinhas, áreas de serviço, reservatórios, calhas, pisos de casas de máquinas são algumas das partes da estrutura para as quais se recomenda esses produtos”, diz a profissional. A aplicação, entretanto, não é indicada para locais com pressão negativa de água.

 

É BOM SABER 

O impacto da norma de desempenho

Em vigor há pouco mais de um ano, a Norma de Desempenho NBR 15.575:2013 já gera impactos no setor de impermeabilização.

De um lado, as diversas tecnologias de proteção (e o projeto bem elaborado e executado) ganham relevância extra ao contribuírem para a durabilidade da edificação e para o atendimento a requisitos específicos sobre estanqueidade a umidades externas. Por outro lado, traz novas discussões e preocupações para os fabricantes.

“Hoje as normas de impermeabilização não falam em vida útil. Para isso, teremos de fazer um retrospecto da aplicação dos produtos em obras já executadas”, comenta Emílio Takagi, da MC-Bauchemie. De acordo com as exigências da norma, explica o engenheiro, os sistemas de impermeabilização de fácil manutenção devem ter vida útil de, no mínimo, 4 a 8 anos; e os sistemas de difícil manutenção, de 20 anos.

Colaboraram para esta matéria

Emilio Takagi – Gerente-técnico da fabricante MC-Bauchemie Brasil e professor na pós-graduação dos cursos de Patologia das Obras Civis e Tecnologia de Impermeabilização em instituições como a Unisinos, o Instituto Idd, o PECE-USP, a FUNCEP-Petrobras. É engenheiro civil graduado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), com extensão universitária pela Japan International Cooperation Agency (JICA) em Tóquio (Japão) e mestre na área de Materiais Autocicatrizantes pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).
Eliene Ventura – Gerente-técnica da fabricante Vedacit. Tecnóloga civil, pela faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC/SP). Fez cursos complementares em construção civil pela Faculdade de Engenharia São Paulo (FESP) e Administração pela Anhembi Morumbi. Realizou trabalhos junto ao Instituto Brasileiro de Impermeabilização (IBI) e normatização junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Maria Amélia Adissy Silveira – Engenheira pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP). Atua como consultora-técnica do Instituto Brasileiro de Impermeabilização e como consultora de Impermeabilização nas atividades de: assessoria em obras, projetos de impermeabilização e perícia técnica. Foi chefe do Laboratório de Impermeabilização do IPT (1973-1987) e atou também no Departamento Técnico da fabricante Viapol (1993-2000 e 2007-2013).