menu-iconPortal AECweb

Governo federal compra energias eólica e solar

Pela primeira vez no Brasil, a energia solar participa de leilão de reserva de fontes alternativas. Somada à energia eólica, serão 62 usinas de energia limpa e renovável, para reforçar o sistema elétrico brasileiro a partir de 2017

Publicado em: 26/01/2015

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

Leilão - Energia solarParque Eólico Aracati

A partir de outubro de 2017, 1.048 MSW (megawatts) de energia solar e outros 769 MW de energia eólica vão reforçar o sistema elétrico brasileiro. O suprimento foi adquirido pelo governo federal em concorrido leilão de energia de reserva de fontes alternativas, realizado em 31 de outubro de 2014. Foi, também, a estreia da fonte solar em leilões. Serão 62 usinas geradoras de energia limpa e renovável, somadas as duas fontes.

O professor Ricardo Rüther, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), destaca o sucesso do leilão e o deságio alcançado: no caso da energia solar, o megawatt/hora foi contratado por R$ 215,12 – deságio de 17,8% em relação ao preço-teto estabelecido pelo governo de R$ 262 por MWh, enquanto a energia eólica ficou em R$ 142 o MWh, contra o preço inicial de R$ 144 o MWh.

Para Maurício Tolmasquim, presidente da EPE – Empresa de Pesquisa Energética –, o leilão foi um marco histórico para o setor elétrico brasileiro, por seu alto nível e pela entrada da fonte solar na matriz elétrica de forma consistente. “Contratou-se a energia solar com um dos menores preços que temos conhecimento no mundo”, declarou.

ENERGIA SOLAR

Outro reflexo do quanto a energia solar está conquistando uma nova dinâmica no país é o fato de a CAIXA passar a incluir o sistema no financiamento da casa própria
Ricardo Rüther

Apesar da satisfação com os resultados do leilão, Rüther considera que a depreciação do Real frente ao Dólar poderá representar um problema no percurso, pois os equipamentos para a produção da energia solar contratada são importados. O fato traz a possibilidade de, no futuro, o investidor preferir perder as garantias aportadas até o momento, do que estruturar um negócio que, depois, não se sustente. “O próximo passo é a assinatura dos contratos, o que deve acontecer nos próximos meses”, diz, indicando que a partir daí o quadro ficará mais claro.

O professor observa que a energia contratada não trará automaticamente para o país indústrias fabricantes de placas fotovoltaicas. “Nenhum dos participantes do leilão garantiu a operação de fabricantes aqui somente com o que foi comercializado. É preciso mais. As indústrias querem leilões periódicos”, afirma. Até o momento, a indústria mundial de placas fotovoltaicas vem prospectando intensamente o mercado brasileiro, esperando a confirmação dos volumes garantidos nos leilões.

No momento em que houver uma produção nacional de sistemas fotovoltaicos, o mercado da construção civil “pegará carona e se beneficiará, até porque as construtoras poderão ter acesso aos recursos do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que exige 60% de conteúdo nacional do bem financiado”. Rüther destaca outra novidade: “Um reflexo do quanto a energia solar está conquistando uma nova dinâmica no país é o fato de a CAIXA passar a incluir o sistema no financiamento da casa própria”.

PREÇO EM QUEDA

Um forte impeditivo para adoção da energia solar, no Brasil, foi, até um passado recente, o preço. Porém, as quedas desses valores já vinham acontecendo, e agora se acentuam. “Porque chegaram ao fim os programas de incentivos tarifários concedidos pelos governos europeus aos consumidores. O que leva as indústrias a buscarem novos mercados – e o Brasil desponta como um mercado potencialmente forte”, afirma.

“A adoção dessa alternativa energética pela construção civil está perto de zero. Até porque, o quadro é confuso: se, em 2013 o governo federal reduziu as tarifas de energia elétrica, a atual crise hídrica poderá retirar o benefício. Por outro lado, a resolução da ANEEL, que permitiu às pessoas físicas venderem a energia excedente para a rede pública, sofreu o impacto negativo da cobrança de ICMS. Exigência que alguns estados vêm isentando”, comenta.

ENERGIA EÓLICA

Com relação à energia eólica, devemos encerrar 2014 na 9ª ou 10ª posição. Porém, em termos de investimentos, de aumento da capacidade de produção nova, o Brasil passou a ocupar o 3º lugar, depois da China e Alemanha
Elbia Melo

“O 6º leilão – realizado em outubro passado – foi a continuação da trajetória virtuosa do crescimento do investimento em energia eólica, que já acontece desde 2009”, comemora Elbia Melo, presidente da ABEEólica – Associação Brasileira de Energia Eólica. Hoje, segundo ela, essa é a segunda fonte mais competitiva do país, ficando atrás somente da energia hidrelétrica em termos de preço. Representa três vezes mais a necessidade do Brasil, além de ser uma fonte limpa, renovável. Responsável por 4% do total de energia gerada no país, a eólica cresce 2% a cada dois anos. “Rapidamente passará para 12%, lembrando que os primeiros investimentos vieram em 2012, quando foi inaugurado o primeiro parque eólico. Em 2018, estaremos com 15 GW instalados”, prevê.

A consolidação da energia eólica se revela em números: no final de 2013, o Brasil figurava na 13ª posição em capacidade instalada, sendo que o maior é a China com 90 GW, seguido pelos Estados Unidos com 60 GW. “Com relação à energia eólica, devemos encerrar 2014 na 9ª ou 10ª posição. Porém, em termos de investimentos, de aumento da capacidade de produção nova, o Brasil passou a ocupar o 3º lugar, depois da China e Alemanha”, relata Elbia Melo.

Motivo de fortes críticas em passado recente, o atraso na construção das linhas de transmissão das primeiras usinas eólicas foi, segundo ela, decorrente de problemas logísticos. “As linhas começaram a operar este ano. Portanto, isto já faz parte do passado”, garante. A energia distribuída vem colaborando com o sistema elétrico nacional, no momento em que o país passa por crise hídrica, que impacta a produção das hidrelétricas.

“A cadeia produtiva dos equipamentos de eólica, bastante complexa, está em pleno desenvolvimento, e já assistimos à nacionalização da fabricação de vários itens, especialmente dos três principais. São nove fábricas de aerogeradores – as maiores do mundo – produzindo no país; o segundo maior fabricante mundial de pás, que é brasileiro, também opera aqui, além de duas outras; as torres de concreto e de aço são de fabricação nacional. Além disso, a energia eólica está mudando a cara de regiões pobres, como a do semiárido brasileiro”, informa.

Colaboraram para esta matéria

Ricardo Ruther
Ricardo Rüther – Graduação em Engenharia Metalúrgica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestrado em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, UFRGS, doutorado em Electrical and Electronic Engineering – The University of Western Australia (1995) e pós-doutorado em Sistemas Solares Fotovoltaicos realizado no Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems na Alemanha (1996) e na The University of Western Australia (2011). Atualmente é professor associado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e coordenador do Grupo de Pesquisa Estratégica em Energia Solar da UFSC (Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq).
Elbia Melo
Elbia Melo – Doutora em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em Economia pela UFSC (1999), e bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Presidente-executiva da ABEÉolica – Associação Brasileira de Energia Eólica – desde setembro de 2011. Membro da Diretoria da CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – de junho de 2006 a abril de 2011. Foi economista-chefe do Ministério de Minas e Energia (2003-2006), coordenadora de Política Institucional do Ministério da Fazenda (2002-2003), assessora de Assuntos Econômicos no Ministério de Minas e Energia (2001), assessora na ANEEL (2001-2001), professora da Universidade Federal de Santa Catarina (1998-2000). Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia Industrial. É especialista em Regulação e Mercados de Energia Elétrica, tendo atuado nessa área desde 1998.
Maurício Tolmasquim – Presidente da EPE – Empresa de Pesquisa Energética.