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Furto de cobre é desestimulado pela substituição por alumínio

Distribuidoras de energia e prefeituras fazem a troca de fios e cabos elétricos pelo metal mais leve e de menor valor comercial. A solução pede apenas alguns cuidados técnicos. Saiba mais!

Publicado em: 24/10/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Shutterstock)

Na cerimônia de sua inauguração, em maio de 2008, a Ponte Estaiada, cartão postal da capital paulistana, estava parcialmente às escuras. Fios, cabos e projetores da iluminação de uma das alças tinham sido furtados. Durante o período de instalação do sistema, o engenheiro Paulo Candura, diretor da Luz Urbana, responsável pelo sofisticado projeto, assistiu a diversos episódios ocorridos ali. Mais tarde foi diretor do Ilume, setor responsável pela iluminação pública da cidade e, de novo, acompanhou cotidianamente o problema.

Distribuidoras de energia e prefeituras de vários pontos do país, na tentativa de desestimular esse tipo de evento, vêm substituindo cobre por outros metais. Em nota enviada à reportagem do portal AECweb, a ENEL Distribuidora informa que “já não utiliza o cobre em 90% de suas redes. A empresa adota medidas preventivas para coibir o furto de cabos de cobre em sua rede elétrica, utilizando atualmente cabos de alumínio ou aço aluminizado. Já nas tampas das caixas, os materiais metálicos estão sendo substituídos por materiais polimérico ou concreto. A distribuidora também investe em travas para dificultar o acesso de infratores em suas instalações”.

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Razões técnicas

“O alumínio é mais leve e mais barato do que o cobre, o que desestimula o furto”, comenta Candura. O desempenho de ambos os metais é similar, sem causar oscilações ou impacto na qualidade da energia fornecida aos consumidores. A substituição é válida para redes públicas de energia, porém proibida pela legislação para as instalações elétricas no interior das edificações.

O alumínio é mais leve e mais barato do que o cobre, o que desestimula o furto
Paulo Candura

Aspecto técnico que respalda a decisão da ENEL e de outras empresas é a resistividade desses materiais e sua capacidade de condução de energia. “O cobre e o alumínio possuem baixa resistividade e são dúcteis. Porém, a resistividade do alumínio é 65% maior que a do cobre. Logo, ao conduzir uma mesma corrente elétrica, os cabos de alumínio vão utilizar maior seção nominal em relação aos cabos de cobre”, explica Candura, garantindo que as substituições não acarretam oscilações e nem impactam a qualidade do fornecimento de energia aos consumidores.

Na prática, é preciso empregar fios de alumínio de bitola maior, o que é fácil de calcular, segundo ele. O material exige, também, que as conexões sejam muito bem-feitas. “A conexão do alumínio com cobre, além de apresentar o problema da oxidação do alumínio, envolve a corrosão galvânica resultante da ligação de dois metais diferentes. A solução para esse problema passa pelo uso de um conector específico, normalmente chamado de conector bimetálico”, ensina, observando que as distribuidoras de energia adotam critérios rigorosos para a escolha dos materiais utilizados nas redes e, também, para a seleção de fornecedores.

O mesmo cuidado com as conexões é adotado quando a distribuidora opta pelo uso de cabos de ferro revestidos com alumínio ou cobre, igualmente com baixo valor comercial. O manuseio desse tipo de cabo é mais complicado, porque ele é muito rígido e exige conexões especiais. “Porém, é melhor ter o inconveniente técnico do que ter problemas de furto, que geram uma série de prejuízos financeiros e, também, de qualidade e de índice de desempenho, regulados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL)”, comenta.

A cidade de São Paulo fez a substituição do cobre pelo alumínio há muitos anos. “A situação dos furtos já era grave, mas se tornou ainda pior com a pandemia, porque muita gente rouba esses materiais para poder comer”, diz, lembrando que são alvos, também, as tampas de bueiro (boca de lobo) em ferro, atualmente feitas em concreto para mitigar os furtos.

A situação dos furtos já era grave, mas se tornou ainda pior com a pandemia, porque muita gente rouba esses materiais para poder comer
Paulo Candura

Invertendo tensões

Algumas distribuidoras de energia, como a do Rio de Janeiro, optam por inverter a posição dos fios de baixa e de média tensão na rede pública. “Essa é uma ação um pouco complicada, pois não segue o padrão de norma ABNT. É uma tentativa de reduzir não somente o furto de material, mas também de energia conhecido como ‘gato’”, diz.

Usualmente, os cabos que passam na parte superior das instalações públicas são os de média tensão (13.800 Volts) e os que ficam abaixo transmitem a energia de baixa tensão – conforme a região do país varia de 220 até 380 Volts. O cabeamento de média tensão leva energia até o transformador, que rebaixa a voltagem para os cabos normalmente situados abaixo. Ao inverter as posições, a pessoa terá acesso físico à rede de média tensão, porém não conseguirá puxar energia.

A cadeia do furto

De acordo com Paulo Candura, os fios e cabos elétricos são furtados até mesmo à luz do dia, em pequenas ou grandes quantidades. O produto é vendido para os depósitos conhecidos como “ferro-velho”, que o revendem diretamente ou para empresas que derretem o material. Em ambos os casos, o metal acaba na ponta da cadeia. “Por trás dessa cadeia há grandes interesses”, comenta.

No caso da Ponte Estaiada, numa única ação foram levados cerca de 120 projetores metálicos, além de cabos e fios. Ele ressalta que foi um furto técnico. “Quem furtou teve o cuidado de refazer corretamente as conexões e deixar o cabeamento de dados funcionando”, conta.

Durante a instalação do sistema de iluminação, em outro evento, Candura e a equipe foram ameaçados com metralhadora. “São grandes quantidades de material roubados, como nesse caso, ou furtados e enrolados em bobinas”, diz, indicando se tratar de ação profissional.

Apesar de toda a experiencia vivida, ele entende que as soluções técnicas são as que estão sendo adotadas pelas distribuidoras de energia e prefeituras. “Se faz o que é possível fazer”, comenta.

As discussões em torno do tema entre os especialistas e a área de segurança do poder público indicam que a solução mais efetiva seria o fechamento dos “ferros-velhos”. Por enquanto, vale a fiscalização e a interdição daqueles locais onde o metal de origem não rastreável é encontrado.

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Contato
projetos@luzurbana.com.br

Colaboração técnica

Paulo Candura – Formado em Engenharia Mecânica pela Universidade de São Paulo, pós-graduado pela FGV em Administração da Produção e Operações Industriais. Foi professor do curso de Capacitação para Gestores em Iluminação Pública do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia – ISITEC/SEESP. Membro do Illumination Engineering Society of North América - IESNA. Membro das Comissões de Estudos CE. 34.3 – Luminárias e Acessórios da ABNT, e da CE. 34.4 – Aplicações Luminotécnicas e Medições Fotométricas da ABNT. Membro oficial pelo Brasil na Divisão 4 - Transporte e Aplicações Externas da Comissão Internacional de Iluminação – CIE (Commission Internationale de L’Eclairage). Trabalhou por quase 20 anos no Departamento de Iluminação Pública de São Paulo – ILUME onde ocupou os cargos de diretor Técnico Geral, diretor de Manutenção e Operação e diretor de Materiais. Desde 2013 é titular da Luz Urbana, empresa especializada em projetos de Iluminação urbana, esportiva e de interiores, elaboração de planos diretores de iluminação urbana, modelagem para PPP’s, e projetos de eficiência energética.