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Fundações em estacas raiz combatem esforços de flexão

A técnica, que atinge as camadas mais duras do subsolo, é indicada para obras em que há necessidade de suportar cargas elevadas

Publicado em: 21/10/2016

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Estacas raiz - fundaçõesPara dimensionar corretamente a estaca raiz, são necessárias todas as informações da sondagem do terreno e a identificação da camada mais dura e sua profundidade (Pavel L Photo and Video / Shutterstock.com)

Ideal para projetos que necessitem de elevada resistência a grandes cargas, as fundações em estaca raiz evitam problemas com recalques. A solução consiste em uma estrutura cilíndrica argamassada, executada no próprio canteiro e que apresenta elevada tensão de trabalho do fuste. “A técnica recebe esse nome porque atinge as camadas mais duras do subsolo e fica enraizada na rocha. Fazendo uma analogia, seria como a raiz do nosso dente entrando na estrutura óssea da boca”, explica o engenheiro Marcio Marangon, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Parte da estaca pode ficar embutida na rocha, tornando a fundação capaz de suportar pesos maiores lançados sobre si. Para atingir os níveis mais profundos do subsolo, são necessários equipamentos de corte com a capacidade de penetrar ou atravessar materiais duros. “Muitos profissionais classificam a técnica como ótima alternativa e consideram usá-la em todos os seus projetos, porém isso não faz sentido”, destaca o docente, lembrando que as características da estaca raiz serão subaproveitadas caso utilizadas em construções mais simples. Não é preciso investir em tecnologia mais avançada para resolver problemas menores.

DIMENSIONAMENTO

A escolha pela solução deve estar baseada nas características do projeto. Obras de portos, que apresentam esforços horizontais, ou na construção de edifícios em alvenaria estrutural e viadutos – que não podem sofrer a mínima possiblidade de recalques –, são alguns exemplos em que a estaca raiz surge como uma opção que garante resultados satisfatórios.

O profissional responsável pelo projeto da fundação deverá ter pleno conhecimento sobre o solo e suas características para dimensionar corretamente a estaca raiz. São necessárias todas as informações da sondagem do terreno e a identificação da camada mais dura e sua profundidade. Sem esses dados, pode acontecer de o projeto prever determinado comprimento da fundação e, no momento da execução, constatar-se que a estrutura não terá o tamanho suficiente para se apoiar sobre a rocha.

PROCEDIMENTO

A técnica recebe esse nome porque atinge as camadas mais duras do subsolo e fica enraizada na rocha
Marcio Marangon

Alguns requisitos básicos devem ser cumpridos para que a estaca raiz seja executada. O canteiro precisa apresentar condições de receber os equipamentos de escavação, que têm porte menor se comparados com bate-estacas e perfuratrizes para hélice contínua. Dependendo do projeto, é possível posicionar as estacas de maneira totalmente vertical ou com alguma inclinação. Todo o processo não causa vibrações, o que permite usá-lo sem incomodar os ocupantes de edificações vizinhas.

A execução começa com o posicionamento do equipamento no local onde acontecerá a escavação. A perfuração é realizada com o auxílio de tubos, que vão cortando o solo. “Ao atingir a camada de rocha, os dispositivos do equipamento são trocados para que se consiga cortar o material duro”, explica Marangon. Uma vez que a profundidade projetada é alcançada, coloca-se a armadura metálica no interior do tubo de perfuração, que também receberá a argamassa. A mistura, geralmente plástica, é introduzida sobre pressão no equipamento e vai preenchendo o furo de baixo para cima.

Quando a argamassa ocupa totalmente o tubo de perfuração, sua extremidade superior é tamponada e aplicada uma pressão com ar comprimido. Essa força aumenta a penetração da argamassa no solo e eleva o atrito lateral. Por fim, os tubos são retirados por meio do controle de pressão.

VANTAGENS E DESVANTAGENS

De acordo com o professor, a principal vantagem oferecida pela solução é a possibilidade de combater esforços de flexão. “Outros tipos de fundações não resistem a essa força”, destaca. Por outro lado, o grande empecilho para o aproveitamento da estaca raiz é o seu elevado custo. Os investimentos necessários para aplicação dessa técnica são sempre superiores aos preços de outras soluções.

QUALIDADE

A estaca raiz ainda não possui uma norma técnica própria, entretanto o procedimento é norteado pela ABNT NBR 6122 – Projeto e execução de fundações.

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Colaboração técnica

Márcio Marangon
Marcio Marangon – Graduado em Engenharia Civil pela Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), tem mestrado em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e doutorado em Engenharia Civil pela COPPE - Universidade Federal do Rio de Janeiro. É professor associado II da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde leciona na graduação e na pós-graduação. Tem experiência na área de engenharia civil, com ênfase em geotécnica.