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Execução do revestimento de fachada pede cuidados

Escolha dos materiais, inspeção dos serviços e limpeza devem ser bem planejadas na hora de aplicar o revestimento em fachadas de edifícios

Publicado em: 08/04/2009Atualizado em: 10/03/2021

Texto: Redação AECweb

Execução: etapa crítica do revestimento

Redação AECweb

A execução do revestimento de fachada deve seguir procedimentos adequados e bem definidos, afinal, é etapa crítica do processo. É preciso, também, adotar controle de qualidade, desde a escolha e recebimento dos materiais, até a inspeção dos serviços durante a execução e o recebimento final. Essa é uma das recomendações do professor Luiz Sérgio Franco, da Escola Politécnica da USP, doutor em engenharia civil e sócio-diretor da ARCO Assessoria em Racionalização Construtiva. Em entrevista ao AECweb, Franco aborda as melhores práticas de execução, fala sobre as patologias e soluções.

AECweb - Quais os cuidados na execução do revestimento de fachadas?
Franco - A grande maioria dos problemas de fachada acontece devido à execução inadequada. Cuidados muitos simples com a lavagem da fachada antes da execução do chapiscamento, que representa uma parcela muito pequena dessa atividade, quando não executada, pode levar ao comprometimento de todo o serviço, com futuro desplacamento do revestimento, cuja correção é muito demorada e custosa.

AECweb – Como escolher os materiais de revestimento de emboço argamassado?
Franco - O primeiro passo é realizar ensaios prévios, na própria obra, reproduzindo o quanto possível as condições esperadas para a fachada – procedimentos, equipamentos, espessuras da camada e mão-de-obra. São feitos painéis sobre alvenaria e concreto, com todos os possíveis fornecedores ou argamassas produzidas em obra que se pretende utilizar. Observa-se a trabalhabilidade dessa argamassa e, depois de curada, o grau de fissuração, a resistência de aderência e a resistência à compressão, que é indicativo da rigidez da argamassa e de sua capacidade de absorver deformações.

AECweb – E quanto à limpeza da base?
Franco - Na primeira subida do balancim, é preciso proceder a remoção de sujeiras e incrustações, além de preencher furos, tratar armaduras expostas, e eventuais anomalias como fissuras. Na descida, fazer a limpeza de toda a base. Essa limpeza pode ser feita só com hidro-jateamento ou, ainda, com tratamento específicos, como o lixamento da estrutura de concreto, quando for muito lisa e impermeável. Ainda na descida do balancim, pode ser aplicada a camada de chapisco - industrializado ou feito em obra - manualmente ou através de projeção, conforme definido pelo planejamento da obra e pelos ensaios iniciais.

AECweb – O que fazer com os pontos críticos?


Franco - Na próxima subida do balancim, pode-se mapear a fachada, para definir a espessura a ser utilizada e identificar os pontos mais críticos, de grande ou pouca espessura. Nos pontos mais espessos, o ideal é fazer uma primeira aplicação de argamassa de regularização (primeira chapada), para se ter, depois, uma camada de acabamento de menos espessura e posicionar telas metálicas de reforço, quando a espessura for muito grande.



AECweb – Quando é aplicado o emboço?
Franco - Na descida seguinte, é aplicado o emboço. Essa aplicação deve ser feita utilizando as ‘taliscas’ (pontos de referência do plano da fachada), que devem ser colocadas com base no mapeamento. Nessa aplicação, o pedreiro deve tomar o cuidado de ‘apertar’ a argamassa, ainda fresca, contra a base, depois que ela é chapada. Deve-se estar atento, também, para a espessura máxima da camada, que deve ser de 3 cm. Se for necessária uma espessura maior, a aplicação deve ser feita em várias camadas. E ficar atento para o tempo entre a aplicação da argamassa e a execução do acabamento (desempenamento), pois se a argamassa estiver muito úmida – o que pode ser testado apertando a argamassa com o dedo - surgirão depois de secas fissuras de retração.


Execução: etapa crítica do revestimento


AECweb – E quanto aos detalhes construtivos?
Franco - Durante a execução do emboço são executados os detalhes construtivos que devem ser previstos no projeto, como juntas de trabalho e dilatação; reforços construtivos com telas; frisos, almofadas e molduras, detalhes específicos de impermeabilização. Cabe destacar a importância de se fazer um projeto de produção da fachada (projeto técnico), que especifique esses detalhes. É preciso muito cuidado com a qualidade do acabamento, que deve ser adequada a próxima camada que será aplicada – pintura, cerâmica etc. Em seguida, na próxima descida do balancim é executada a camada de acabamento, como cerâmica e argamassa decorativa, que deve seguir as recomendações dos fabricantes e do projeto.

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AECweb - Algum tipo de revestimento apresenta maior dificuldade?
Franco - Existem revestimentos que exigem maior cuidado, pois estão mais sujeitos à patologias. E há também situações que são mais complicadas, como edifícios muito altos, esbeltos ou com estrutura complicada, com balanços, ou lajes de grande extensão, pois a deformação dessas estruturas pode implicar em deformações e patologias dos revestimentos de fachada. Outra situação complicada é a de utilização de cerâmicas escuras ou com características como expansão por umidade muito próxima aos limites estabelecidos pela norma.


AECweb – O que fazer nesses casos?
Franco - Cabe uma atenção especial no projeto, que deve analisar essas situações e propor uma quantidade adequada de detalhes construtivos e, muitas vezes, uma especificação mais exigente das características técnicas dos materiais empregados.



AECweb - Quais os erros recorrentes praticados nas obras?


Franco - Os erros recorrentes na obra são aqueles associados à falta de supervisão e controle. O desempenho de fachada é crítico, não adianta controlar e fazer bem feito 95% do serviço. Se numa fachada de 5 mil m2, 1% da fachada, ou seja, 50 m2 derem problema, com fissura ou desplacamento, a fachada toda estará comprometida. É muito comum a ocorrência de fissuras entre a laje e as alvenarias do último pavimento e, se não estiver prevista e executada uma junta no revestimento de fachada nessa posição, com muita freqüência se tem esse problema. A causa é muitas vezes a ausência de um projeto técnico.


AECweb – Há outros erros?

Franco - Outro problema comum e muito sério, é não dar atenção a preparação da base com a limpeza e o chapiscamento. Ai quando os problemas surgem sempre são muito complicados de resolver, pois envolvem quase sempre grandes extensões do revestimento. Outra situação é a não observância do tempo correto entre a aplicação da argamassa e o acabamento, principalmente quando o revestimento é espesso ou o tempo ambiente é frio e chuvoso. Nessas situações, a argamassa demora em perder água (‘puxar), mas o operário ganha por m2 produzido. Se não tiver frentes de serviço liberadas para ir trabalhando, pode dar o acabamento precocemente e o resultado serão as fissuras de retração do revestimento.

AECweb – E quanto à argamassa ‘batizada’?
Franco - Faz parte dos problemas ligados a má execução intencional. Esse é o caso de pedreiros que ‘contrabandeiam’ gesso ou cimento para adicionar à argamassa e tornar mais fácil a execução, principalmente de detalhes mais demorados como é o requadro de vão. O caso do gesso é o mais crítico, porque depois de algum tempo reage com os componentes do cimento, formando um composto altamente expansivo levando à completa deterioração do revestimento nas partes em que ele foi utilizado. Há alguns anos vivemos uma verdadeira ‘epidemia’ dessa prática, cuja eliminação depende de uma fiscalização muito intensa.


AECweb - Quais as principais patologias decorrentes da má execução?
Franco - As principais patologias são o desplacamento do revestimento ou de alguma de suas camadas; a ocorrência de fissuras e a ocorrência de manchamento. O desplacamento, além do preparo inadequado da base, pode estar associado à deformação excessiva da base, associada à falta de junta de movimentação. Nos prédios em que esse problema ocorre, geralmente aparece como um estufamento na região do encontro entre a viga da estrutura e a alvenaria, principalmente em prédios revestidos por cerâmica.



AECweb – O desplacamento tem a mesma origem?
Franco - Uma argamassa inadequada também pode provocar o desplacamento. É o caso de argamassa com baixo potencial de aderência. Outro problema associado à argamassa é a falta de retenção de água, que pode levar a emboços com baixa resistência superficial, que no caso da cerâmica pode causar o desprendimento das placas. Esses problemas da argamassa podem ter sua origem na dosagem inadequada, nos materiais com problemas, ou na falta de um controle de dosagem e produção na obra.


AECweb – Como evitar as fissuras?
Franco - Além das fissuras de retração que já havia comentado, muitas ocorrem quando há uma fissura na base, que se transmite para o revestimento. Em situações comuns, como o encontro entre viga e alvenaria, quando é possível prever grande probabilidade de seu surgimento, o projeto deve colocar um detalhe construtivo específico, como uma junta ou, pelo menos, um friso, para que, se surgir, ocorra dentro do friso e facilite o tratamento.


Execução: etapa crítica do revestimento


AECweb – E quanto aos manchamentos?
Franco - São várias as causas dos manchamentos, desde contaminação e características dos materiais empregados no revestimento, até o acúmulo de poeira ou microorganismos sobre a camada superficial. Um problema muito comum é o machamento conhecido no mercado como ‘radiografar’ a base ou a estrutura. O problema está associado a características da base, como diferenças muito grandes de absorção entre a estrutura e a alvenaria, pela utilização de espessuras reduzidas de emboço.


AECweb – As patologias comprometem a estanqueidade das fachadas?
Franco - Sim, até porque o revestimento faz parte da vedação vertical e contribui para a estanqueidade. Quando há fissuração, ou em situações adversas de execução de detalhes, essa perda de estanqueidade pode ser muito difícil de corrigir, pois pode estar espalhada por toda a fachada.


AECweb –  Como solucionar as patologias? O custo é elevado?
Franco - A dificuldade ou o custo para corrigir essas patologias depende basicamente da origem e da extensão do problema. As fissuras, que tem origem na deformação da base, podem ser corrigidas quando surgem. Como isto pode se dar ao longo de vários anos, não se consegue corrigir a origem do problema, mas tratar conforme vão aparecendo. Problemas com grande extensão, como o desplacamento ou a perda de aderência, podem ocorrer de forma generalizada. Além de se refazer o serviço, é preciso demolir e remover o material utilizado anteriormente, com custo superior a fazer certo da primeira vez.




LUIZ SÉRGIO FRANCO
Luiz Sérgio Franco é engenheiro civil (1983), mestre (1987) e doutor (1992) em Engenharia Civil. Professor e pesquisador da Escola Politécnica da USP desde 1986, atuando na área de Tecnologia da Construção de Edifícios, Racionalização e Alvenaria Estrutural e de Vedação. Sócio-diretor da ARCO Assessoria em Racionalização Construtiva, especializada em projetos de vedação vertical, alvenaria estrutural e revestimentos.