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ETE em Campinas já produz 2.500 m³/dia de água de reúso

O recurso, já adotado por construtoras, trata o esgoto pelo sistema de membranas, e obtém 99% de pureza

Publicado em: 22/10/2014Atualizado em: 18/10/2022

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Redação AECweb / e-Construmarket

Água de reuso

Água tratada, porém não potável, com custo menor e de reúso. A solução tem sido adotada por grandes construtoras que atuam em Campinas (SP), para procedimentos como a compactação de terra nos canteiros de obras. O produto resulta do tratamento de esgoto pela EPAR - Estação Produtora de Água de Reúso Capivari II -, que trata o esgoto pelo sistema de membranas, obtendo 99% de pureza. “Optamos pelo tratamento terciário, utilizando a mais moderna tecnologia mundial, que faz a remoção da matéria orgânica e, também, a desinfecção da água através do sistema de membrana”, informa Luiz Carlos Souza, diretor Comercial da Sanasa - Sociedade de Abastecimento de Água e Saneamento. As membranas filtrantes são constituídas por fibras ocas com porosidade nominal de 0,04µm (micras), milhares de vezes menores que o diâmetro do cabelo humano, o que constitui uma barreira física para as impurezas, removendo vírus, bactérias, sólidos e nutrientes.

Optamos pelo tratamento terciário, utilizando a mais moderna tecnologia mundial, que faz a remoção da matéria orgânica e, também, a desinfecção da água através do sistema de membrana
Luiz Carlos Souza

Os três tanques de membrana da EPAR produzem, hoje, 2.500m³/dia de água de reúso. “A operação é totalmente automatizada e com baixo consumo de produtos químicos”, informa o diretor. Inaugurada em abril de 2012, a fase de implantação do sistema na estação de tratamento exigiu investimentos de R$ 91 milhões, com verbas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e da Sanasa, e levou 18 meses para sua conclusão. A segunda fase, em execução e que ampliará o volume de produção, custará R$ 86 milhões.

QUEM USA

Luiz Carlos Souza comemora cada novo contrato para fornecimento, através de caminhões pipa, da água produzida pela EPAR. Segundo ele, o volume comercializado quintuplicou entre janeiro e setembro deste ano, passando de 100m³ para 500m³. Por enquanto, dos 2.500m³/dia produzidos pela EPAR, pouco mais de 20% estão contratados. “A prefeitura de Campinas retira 300 m³/dia para usos como a lavagem das ruas e irrigação de jardins, atividades para as quais a Unicamp também acaba de fechar contrato envolvendo 15m³/dia. A Odebrecht, que está trabalhando na construção das marginais da rodovia D. Pedro I, vai precisar de 300 m³/dia. E já assinamos com Bresco Viracopos um contrato de 2 mil m³/mês. Além disso, vendemos a granel, em média, 20 m³/dia para empresas que utilizam grandes volumes como os lava-rápidos”, revela.

Água de reuso

Mesmo considerando o preço do frete do caminhão-pipa, o custo compensa já que o valor do metro cúbico da água de reúso produzida pela EPAR é de R$ 1,40, equivalente à metade da tarifa da água tratada. “Para a Sanasa, também é um investimento vantajoso, especialmente pelo viés da sustentabilidade, pois a água de reúso produzida, e ainda não comercializada, é descartada para o rio Capivari, o que colabora para a melhoria da qualidade do rio”, informa Souza.

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A operação é totalmente automatizada e com baixo consumo de produtos químicos
Luiz Carlos Souza

O payback do investimento feito na EPAR virá num período estimado entre dez e 15 anos. “A estação está tratando apenas 30 litros/seg de esgoto, o equivalente a 10% da capacidade instalada de produção de 300 litros/segundo, a ser atingida em meados de 2015, quando as obras de ampliação da estação estarão concluídas. Temos, hoje, 90% da ampliação pronta e já em fase de testes. O percentual ainda é muito baixo, em razão de não haver rede suficiente para levar o esgoto até a estação”, diz, acrescentando que a empresa atua para reverter esse quadro.

SECA

Para a Sanasa, também é um investimento vantajoso, especialmente pelo viés da sustentabilidade, pois a água de reúso produzida, e ainda não comercializada, é descartada para o rio Capivari, o que colabora para a melhoria da qualidade do rio
Luiz Carlos Souza

Os números confirmam que a água de reúso é complemento importante em tempos de crise hídrica, como a vivida no estado de São Paulo. “A situação é tão grave que visitei uma importante indústria, em Paulínia, que tem a outorga do governo federal para retirar 1 m³/dia do rio Atibaia para seu parque industrial. Mas não consegue uma gota sequer, o que levou a empresa a desativar três unidades de produção no município. E tem muitas outras nessa situação”, alerta o diretor, que continua: “A própria Sanasa tem outorga para a captação de 4m³/segundo, mas só conseguimos 2,8 m³, no máximo. Estamos, portanto, no limite do que temos que entregar para a população da cidade. Além disso, a estação de produção Capivari II é dotada de tecnologia para tratar 3,6 m³/hora de efluentes industriais de Campinas, o que passará a ser feito”.

A Sanasa tem outras 25 estações de tratamento de esgoto, porém pelo sistema primário. A empresa planeja reformar a totalidade das estações e torná-las produtoras de água de reúso. “Campinas não dispõe de reservatórios. Nós fazemos a captação a fio d’água. E com a nova legislação ambiental é impossível pensar na construção de novas barragens. A solução é a água de reúso para todas as utilidades que se possa imaginar. Nos países asiáticos e mesmo em Londres, a água distribuída à população é água de reúso, oriunda do esgoto tratado, clorada e tratada com ozônio. Portanto, água de reúso é a água do futuro. E se formos analisar de perto, veremos que os rios Capivari e Atibaia são esgotos a céu aberto”, conclui.

Colaborou para esta matéria

José Humberto de Souza
Luiz Carlos de Souza – Engenheiro Civil formado pela PUC-Campinas e pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho pela Universidade Estadual de Campinas – Unicamp.