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Está em vigor a norma técnica do sistema construtivo wood frame

Inédita no país, a normativa cobre o uso do sistema em obras térreas e assobradadas dos mais variados tipos de usos, como residencial, comercial e de saúde

Publicado em: 22/08/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: ungvar/Shutterstock)

Entrou em vigor em julho de 2023 a nova norma brasileira ABNT NBR 16.936 – Edificações em Light Wood Frame, elaborada de acordo com o conceito mais atual de performance e desempenho. Nela, estão definidos os materiais que compõem o sistema construtivo, desde a sua estrutura principal até os fechamentos e revestimentos.

“A norma apresenta os requisitos mínimos para os materiais atualmente consagrados para essas finalidades, de maneira que a edificação atenda aos critérios da norma de desempenho, a NBR 15.575, em todas as suas partes”, explica o engenheiro Euclesio Manoel Finatti, coordenador Nacional da Comissão de Estudos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), responsável pela criação da Norma do Sistema Wood Frame.

Esses requisitos estão definidos em outras normas específicas, ou já têm a comprovação do desempenho, tanto dos materiais quanto da edificação, por meio de testes feitos para empresas que já constroem em wood frame no Brasil, como Tecverde, Immergrun e ALEA.

“As tecnologias e materiais relacionadas ao wood frame estão em pleno desenvolvimento em todo o mundo. Sendo assim, a norma abre espaço para a utilização de novos materiais ou tecnologias de fabricação e montagem, desde que o desempenho final da edificação seja comprovado por testes específicos”, esclarece o engenheiro Guilherme Corrêa Stamato, coordenador do grupo de Projetos da Norma ABNT de wood frame.

A norma abre espaço para a utilização de novos materiais ou tecnologias de fabricação e montagem, desde que o desempenho final da edificação seja comprovado por testes específicos
Guilherme Corrêa Stamato

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Critérios estabelecidos pela NBR

Um dos critérios especificados pela norma de desempenho é de que a edificação apresente Vida Útil de Projeto (VUP) de pelo menos 50 anos. As construções em wood frame historicamente conseguem atender essa demanda. “Mas, para isso, é necessário aplicar os conceitos de preservação das peças de madeira e de chapas que são apresentados na norma específica NBR 16.143 – Preservação de Madeiras – Sistema de Categoria de Uso”, informa Finatti.

Ele lembra que, nessa norma, os tratamentos que a madeira deve receber em cada situação de exposição são relacionados com a responsabilidade estrutural que cada peça possui.

A norma NBR 16.936 também apresenta critérios de dimensionamento para o projeto estrutural. Eles são baseados na NBR 7190 – Projeto de estruturas de madeira, atualizada em 2022 e diretamente alinhada com a versão atual do Eurocódigo 5 – Estruturas de Madeira (EN 1995-1-1).

Dessa mesma norma europeia foi extraído o conceito de cálculo das ligações entre chapas e montantes e de cálculo das ancoragens das paredes e pisos de wood frame. “Uma particularidade da nova norma é que ela permite o uso de madeira com classificação visual, critérios que são detalhados no Anexo A”, diz Finatti.

Além do capítulo de dimensionamento estrutural, a norma de wood frame apresenta especificações de impermeabilização e detalhes geométricos importantes para a proteção da edificação contra a umidade. Atender a essas especificações é um requisito para que seja garantida a longevidade da edificação.

De acordo com os especialistas, poucas exigências são apresentadas em relação às interfaces com instalações elétricas e hidráulicas. Até porque, os sistemas atualmente utilizados para essas instalações nas construções em alvenaria convencionais são diretamente aplicáveis ao wood frame. “Sendo que o wood frame tem ainda mais afinidade com os sistemas de instalação rápida, tipo PEX”, fala Stamato.

A norma apresenta os limites de furos ou entalhes de passagens dessas instalações, que geralmente são o único ponto de conflito entre instalações e estrutura.

A norma apresenta também questões relativas ao desempenho em situação de incêndio. Mesmo observando que a norma é aplicável às edificações térreas e assobradadas, onde as exigências de Corpo de Bombeiros são mínimas, o documento apresenta os requisitos e uma configuração de construção padrão, já testada, para esclarecer a todos sobre o desempenho das construções em wood frame nesses casos.

“O Brasil passa agora a contar com uma norma para edificações em wood frame alinhada tanto com as normas internacionais vigentes, quanto com as exigências de desempenho das normas brasileiras. Isso dá segurança para a indústria de componentes, para os construtores, para os moradores e para os órgãos financiadores. Atendendo a essa norma, tem-se o conforto, a segurança e a durabilidade que uma edificação deve ter”, comemora Finatti.

O Brasil passa agora a contar com uma norma para edificações em wood frame alinhada tanto com as normas internacionais vigentes, quanto com as exigências de desempenho das normas brasileiras
Euclesio Manoel Finatti

A expectativa do setor, segundo ele, é de que a indústria da construção brasileira e os órgãos que fomentam e incentivam a pesquisa e a inovação abracem essa causa, impulsionando o desenvolvimento da construção industrializada, como é o sistema construtivo wood frame.

“É uma forma efetiva de contribuir para o aumento da produtividade, melhoria da qualidade, redução do desperdício e do custo de operação e manutenção do patrimônio público e privado construído. Só assim poderemos contribuir também na busca de minimizar o déficit habitacional brasileiro que está em torno de mais de 6 milhões de habitações”, comenta Stamato.

Vantagens do sistema wood frame

De acordo com os especialistas, as vantagens do sistema são inúmeras. “Quase não há desperdício de materiais, pois não tem perdas e nem sobras, economizando tempo na execução”, dizem.

A rapidez e facilidade de montagem são destaques: o tempo de execução é de 1/3, se comparado com uma construção convencional, pois os módulos chegam prontos para serem montados no canteiro. “O processo produtivo mais importante foi feito na fábrica, otimizando tempo, fazendo com que a obra seja finalizada com muito mais agilidade, impactando diretamente no prazo de entrega e no custo final do empreendimento”, ressalta Finatti.

Para Stamato, o viés da sustentabilidade representa importante vantagem, já que o sistema gera menos resíduos e utiliza menos água e energia. Produzido na fábrica, segue um processo rigoroso de controle e qualidade, eliminando qualquer possibilidade de erros durante a montagem. “Diferentemente do que acontece na construção civil tradicional, onde os materiais e as falhas de execução são os fatores que mais geram custos e mais prejudicam o meio ambiente, esses problemas não acontecem no wood frame, porque tudo é pensado e entregue no canteiro de obra da forma que deve ser montado, dispensando ajustes.”

Por fim, eles lembram que o sistema tem grande facilidade de transporte, pois um único caminhão, em uma só viagem, consegue transportar até duas casas de 42 m².

Colaboração técnica

Euclesio Manoel Finatti – É Engenheiro Civil formado pela Pontifícia Universidade Católica - PUC PR; pós-graduado em Engenharia de Produção pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo - USP; formado em Ciências Econômicas pela Fundação de Estudos Sociais do Paraná. Diretor e responsável técnico há mais de 37 anos da Braengel – Construções e Empreendimentos Imobiliários, com participação em diversas gestões de entidades setoriais, como o Sinduscon-PR, Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP-PR) e Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). Coordenador Nacional pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) da Comissão de Estudos 002:126.011-001 para criação da Norma do Sistema Wood Frame.
Guilherme Corrêa Stamato – É Engenheiro Civil pela USP-São Carlos (1995), onde fez mestrado (1998) e doutorado (2002) em Estruturas de Madeira no Laboratório de Madeiras e de Estruturas de Madeira, especialização no Advanced Engeneered Wood Composites Center, da Universidade de Maine, EUA (2001) e pós-doutorado em Pontes de Madeira. Coordenador do grupo de Projetos da Norma ABNT de wood frame, em estudo, e membro do Comitê de Revisão da Norma NBR 7190 “Projeto de Estruturas de Madeira”. Coordenou o desenvolvimento da Diretriz SINAT-005 para a construção de casas wood frame no Brasil. É sócio-diretor da Stamade – Projeto e Consultoria em Madeira LTDA, empresa focada no desenvolvimento de soluções técnicas para estruturas de madeira e consultoria para desenvolvimento de Sistemas Construtivos em Madeira e de novos produtos engenheirados de madeira.