menu-iconPortal AECweb

Energia fotovoltaica: setor espera regulamentação para investir

Demanda pela utilização deste tipo de energia tende a ser impulsionada e reduzirá os custos para implantação de usinas geradoras.

Publicado em: 22/06/2011Atualizado em: 17/10/2022

Texto: Redação AECweb



Redação AECweb

Energia fotovoltaica: setor espera regulamentação para investir

A geração de energia fotovoltaica no Brasil se prepara para ampliar seu espaço entre as fontes sustentáveis na matriz energética brasileira. O maior entrave para o desenvolvimento citado pelos especialistas é a falta de regulamentação da microgeração por parte da ANEEL - Agência Nacional de Energia Elétrica, seguido pelo alto custo dos equipamentos. “Acredito que no Brasil, em dois anos, o preço do watt caia de R$ 14 para R$ 8. Só precisamos ter escala para os preços baixarem”, afirma José Renato Colaferro, diretor de projetos e administrador da Blue Sol Energia Solar.

Se, por um lado, o regulamento da pequena geração impulsionaria a demanda na utilização da energia fotovoltaica em residências, condomínios, edifícios comerciais e empresas de pequeno porte, de outro, a nacionalização reduziria os custos para implantação de usinas geradoras de todos os portes.


Os investimentos privados em geração de grande porte permitem que a energia fotovoltaica comece a ocupar espaço na matriz energética nacional. No dia 23 de maio deste ano, a MPX Energia, do Grupo EBX, do empresário Eike Batista, foi conectada ao Sistema Elétrico Nacional, tornando-se a primeira usina solar de geração de energia em escala comercial do Brasil. Apesar de a conexão já ter ocorrido, a inauguração oficial ainda não foi anunciada.


Localizada no município de Tauá, no sertão do Ceará, a usina tem capacidade instalada inicial de 1 MW, o suficiente para abastecer 1,5 mil famílias. Implantada com tecnologia no estado da arte em painéis fotovoltaicos, a planta recebeu investimentos de R$ 10 milhões. O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apoiou a iniciativa inédita no país com aporte de US$ 700 mil. Para Marcus Temke, Diretor de Implantação e Operação da MPX, a empresa destaca o seu perfil pioneiro com a inauguração deste empreendimento, considerando que toda a experiência anterior de geração solar fotovoltaica no Brasil ocorreu por meio de instalações de pequenas unidades produtoras, apenas com o objetivo de fornecer energia para regiões isoladas.



“Estamos orgulhosos do sucesso obtido com essa iniciativa e queremos contribuir com a expansão da geração solar no Brasil e o desenvolvimento da tecnologia para a diversificação da matriz energética. O potencial de abastecimento complementar com energia solar é grande no país”, comemora.


Visando reduzir os custos dos equipamentos, a Eletrosul pretende processar o silício desenvolvendo tecnologia para produzir painéis fotovoltaicos 100% nacionais. A empresa, subsidiária da Eletrobras no Sul do país, participou da produção das primeiras placas fotovoltaicas nacionais, por meio de seu Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento e Eficência Energética (DPE). A intenção da Eletrosul é tornar o processo de produção mais barato, viabilizando a expansão da energia fotovoltaica no Brasil.


Com esse objetivo realizou um encontro com representantes do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), da Eletrobras e de outras subsidiárias, do Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alternativas na América Latina (Ideal) e de universidades. No evento, o MCT informou que quer reavaliar o direcionamento dos recursos para pesquisas em energia solar. O coordenador de Tecnologia e Inovação em Energia do MCT, Eduardo Soriano, afirmou que os programas de energia solar, principalmente fotovoltaica, serão prioridade para o ministério nos próximos quatro anos. As iniciativas do MCT na área fotovoltaica, segundo ele, visam produzir o silício (matéria-prima dos painéis fotovoltaicos), de maneira mais eficiente.


Segundo o executivo José Renato Colaferro, da Blue Sol Energia, as indústrias pretendem investir no Brasil, mas estão num momento de extrema expectativa. “As fábricas que produzem os painéis têm a esperança de que haja regulamentação dos leilões específicos para micro geração de energia fotovoltaica, o que dará um grande impulso ao setor no país”, afirma. A falta de regulamentação, segundo ele, é o maior entrave ao crescimento deste mercado. “As indústrias estão realizando estudos no Brasil, mas os investimentos só virão quando a ANEEL definir as regras para a microgeração”, opina.

Colaferro afirma que hoje, as residências precisam armazenar a energia gerada, o que exige uma bateria cara e antiecológica. “O ideal é que possam vender o excedente ao sistema nacional ou gerar créditos de energia (Net Metering). Ele explica que o pico de consumo residencial ocorre entre 18 horas e 22 horas. A energia fotovoltaica é gerada durante o dia, ou seja, quando está sendo produzida, o proprietário não consome e precisa armazenar. “A solução é colocar o excedente na rede elétrica, vendendo para o sistema ou gerando crédito. Esse é o ponto de espera das indústrias para investir em geração de energia fotovoltaica no Brasil”, afirma.

Confira também: 

Painel de energia solar 

Led

Conectores elétricos

Fios e cabos de cobre encapados

CONSTRUÇÃO CIVIL 

Colaferro diz que nas condições atuais, a energia fotovoltaica se viabiliza na ponta do consumo, para empresas de pequeno porte ou residências. São os que pagam mais caro pela energia elétrica no Brasil. Também se apresenta viável nas localidades distantes da rede elétrica, tanto que tem sido muito usada no programa do Governo Federal Luz para Todos. Segundo ele, nas áreas urbanas as construtoras podem agregar valor ao empreendimento imobiliário com essa alternativa. “Isso tanto na percepção do cliente, como na redução dos custos. O comprador sabe que está investindo em um imóvel cujo projeto está preocupado em reduzir custos, investindo em eficiência energética de fonte limpa. Além disso, a construtora tem o marketing positivo de oferecer um imóvel construído dentro dos novos conceitos de sustentabilidade”, afirma.

No setor empresarial, ele diz que as empresas de pequeno porte chegam devagar. Primeiro instalam pequenos sistemas para aprender a lidar com a tecnologia. Ao perceber os resultados e suas vantagens é que ampliam sua utilização. Colaferro conta que visitou uma escola nos Estados Unidos que havia instalado um sistema fotovoltaico para economizar 4% da energia que consumia. Entretanto, com o interesse que o sistema despertou na comunidade o consumo foi reduzido em 18%.


Outro segmento em que há vantagem de optar pela fotovoltaica é o de prédios comerciais ou de escritórios, pois a energia será gerada durante o período de consumo e, portanto, não haverá excedente para vender, armazenar ou perder. Nesses casos, com 8 horas de consumo/dia é possível pode produzir entre 40% a 50% da energia necessária. Ele explica que nesses locais o consumo é quase linear, com as lâmpadas, computadores e outros equipamentos ligados, enquanto que a energia do sol é gerada como uma curva, com pico por volta do meio dia. Portanto, com um gerador solar é possível produzir energia durante 3 a 4 horas por dia.

Para se ter uma idéia dos custos de se instalar essa alternativa energética, Colaferro diz que o sistema on gread, conectado à rede, custa de R$ 11 a R$ 14 por Wtt/Turm Key, que é aquele pronto para funcionar, com inversor, fiação e estrutura. Ensina que, no caso de uma residência em Fortaleza, por exemplo, que tem grande período do dia ensolarado, levando em conta um consumo médio de 300kWh/mês e geração solar de 5 horas por dia, seria necessário instalar um gerador de 2,5kW, o que representa um investimento em torno de R$ 28 mil. Hoje, diz, os valores ainda estão caros  porque a demanda é pequena. “Nos Estados Unidos, o watt custa em torno de US$ 6,9 (ou R$ 9,60) e no Brasil poderia ficar em torno de R$ 8 a R$ 9.”.

Ele informa que a melhor infraestrutura para instalar o sistema é o telhado, pois não exige novos investimentos. Em termos de tecnologia, o sistema utilizado em 90% dos projetos é o Silício Policristalino. Já o Mono Cristalino que é mais eficiente e custa mais caro. “Temos ainda o Amorfo, que parece um plástico, é dobrável e é menos eficiente, além de exigir o dobro de área para gerar a mesma quantidade do policristalino – indicado, portanto, para quem tem grandes áreas disponíveis para instalar o sistema. Outra opção é o Telureto de Cadmio, que é o silício chamado de fita, um filme encapsulado em vidro, que também é mais barato e menos eficiente”, explica.

Redação AECweb


 COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA


Energia fotovoltaica: setor espera regulamentação para investir JOSÉ RENATO COLAFERRO é diretor de projetos da Blue Sol Energia Solar. Anteriormente, foi analista de fundos da RBC Wealth Managemente. Bacharel em administração de empresas pela Ibmec Business Scholl, Colaferro é especializado em energias renováveis, geração distribuída e eficiência energética pela Universidade de São Paulo (USP).