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Elevação de custos e crise hídrica: ameaças à recuperação da construção civil

Segundo FGV IBRE, a volatilidade atual reforça a importância de se ter informações consistentes para minimizar riscos

Publicado em: 30/07/2021Atualizado em: 04/08/2021

Texto: Juliana Nakamura

Recuperação da construção civil
Construtoras devem analisar todas as particularidades do atual cenário (Foto: Dragon Images/Shutterstock)

A cadeia da construção civil, em especial o mercado imobiliário, vive um momento de apreensão. Se por um lado a taxa de juros em níveis baixos e o acesso mais fácil ao crédito criam um ambiente favorável aos negócios, por outro algumas ameaças enchem o cenário de nebulosidade.

O forte aumento de preços de insumos básicos desde setembro de 2020 é um motivo de preocupação em função de seus impactos no custo das obras e, consequentemente, na redução das margens de lucro e na elevação do preço de venda dos imóveis.

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As perspectivas para 2022 são favoráveis, mas as empresas precisam dar atenção à questão dos preços quando forem olhar seus posicionamentos estratégicos
Ana Maria Castelo

O INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) acumulado em 12 meses já passa de 16%. Segundo Ana Castelo, coordenadora de Projetos da Construção na Fundação Getúlio Vargas/IBRE, o cenário atual de continuidade de aumento de preços pressiona a renda das famílias e os custos das construtoras. “As perspectivas para 2022 são favoráveis, mas as empresas precisam dar atenção à questão dos preços quando forem olhar seus posicionamentos estratégicos”, alertou a pesquisadora, em webinar promovido pelo FGV IBRE em junho.

CRISE HÍDRICA E INFLAÇÃO

A inflação acumulada em 35% em 12 meses, conforme o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) é outro desafio, não só para a construção civil, mas para toda a economia. “Vivemos um período de grande pressão inflacionária com perspectiva de alguma desaceleração no segundo semestre de 2021 e em 2022”, resumiu André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor do FGV/IBRE.

Ele lembrou que a crise hídrica tende a encarecer o custo de geração de energia. “Embora commodities como minério de ferro e cobre devam parar de subir, temos uma crise hídrica que impõe mais um obstáculo ao desenvolvimento”, comentou Braz, ressaltando que a projeção do Instituto para o fim de 2021 é de inflação ao consumidor acima do teto da meta de inflação.

COMO NAVEGAR EM CENÁRIOS COMPLEXOS?

“Aumentos significativos de custos em um curto período, como vem acontecendo, conseguem provocar grandes desarranjos organizacionais”, comentou Ana Castelo. Neste ambiente de alta instabilidade, um fenômeno comum é os índices de preços não refletirem a realidade das empresas.

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Com contribuição relevante para o setor, o INCC permite acompanhar o movimento de preços em toda a cadeia produtiva, contribuindo com informações para que empresas e associações façam orçamentos, negociações e planejamentos de compras. No entanto, índices setoriais são calculados com base em uma ponderação média de 12 meses. Além disso, a estrutura de ponderação utilizada representa uma média da exposição do setor à variação dos preços de produtos e serviços. “A ponderação média aborda insumos e serviços que desafiam mais a estrutura produtiva de cada segmento. Mas, a depender da empresa, a média pode estar distante da realidade”, explicou Castelo.

Conhecendo a estrutura de ponderação do negócio, é possível, com a utilização das taxas de variação estimadas pelos institutos de pesquisas para os índices setoriais, personalizar a inflação de cada empresa/obra
Arnaldo Gomes de Brito Júnior

Arnaldo Gomes, coordenador de Índices Customizados do FGV IBRE, concordou e defendeu o uso mais amplo de fórmulas parametrizadas que considerem a composição de custos de cada empresa. A medição de uma inflação específica requer uma análise mais detalhada sobre a estrutura de custos, decompondo-a para estimar os pesos de cada despesa. “Conhecendo a estrutura de ponderação do negócio, é possível, com a utilização das taxas de variação estimadas pelos institutos de pesquisas para os índices setoriais, personalizar a inflação de cada empresa/obra”, afirmou Gomes. Segundo ele, além da aplicação em contratos, esses índices favorecem o autoconhecimento da empresa sobre seus custos e sua própria inflação.

Uma singularidade que costuma favorecer o descolamento entre a inflação real sentida pela construtora e o índice setorial é o uso de sistemas construtivos mais racionalizados. O INCC, como elaborado hoje, considera que as obras tenham uma proporção de custos de 40% para materiais e equipamentos, 10% para os serviços e 50% para mão de obra. Em construtoras que utilizam sistemas construtivos que exigem menos trabalhadores no canteiro, essa proporção será diferente, com maior incidência de materiais e equipamentos.

Colaboração técnica

 
André Braz — Mestre em economia pela Universidade Federal Fluminense e em finanças e economia empresarial pela EPGE/FGV. É coordenador do Índice de Preços ao Consumidor no Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-IBRE).
 
Ana Maria Castelo — Mestre em economia pela Universidade de São Paulo, é coordenadora de Projetos da Construção no (FGV-IBRE).
 
Arnaldo Gomes de Brito Júnior — Especialista em análise estatística, é coordenador de Índices Customizados no (FGV-IBRE).