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Controle de produção é fundamental para desempenho da madeira laminada colada

Além do forte apelo estético, material pode ter função estrutural. Sua integridade, no entanto, depende de controle de qualidade rigoroso durante a fabricação

Publicado em: 10/12/2019Atualizado em: 05/08/2022

Texto: Juliana Nakamura

Versátil, a madeira laminada colada pode ser usada desde pequenas passarelas a grandes estruturas de projetos residenciais, comerciais e institucionais (foto: divulgação/Rewood)

Muito utilizada nos países do hemisfério norte, a madeira laminada colada (MLC) é um produto engenheirado muito versátil que, como o próprio nome indica, é produzido a partir da colagem de lamelas de madeira dispostas de forma que as fibras fiquem paralelas entre si.

As aplicações deste produto são bastante amplas, de pequenas passarelas, escadas e coberturas, a grandes estruturas em projetos residenciais, comerciais e institucionais.

Produzida a partir de madeira de reflorestamento, a MLC tem como características alta capacidade de carga, baixo peso próprio, alta resistência a fogo e estabilidade dimensional. Além disso, por ser ensaiada em laboratórios, apresenta características físico-mecânicas conhecidas, o que facilita o trabalho do projetista de estruturas.

O material tem se mostrado uma alternativa à madeira maciça, permitindo um melhor aproveitamento dos recursos florestais. Mas o que mais se destaca quando se fala em MLC é a possibilidade de criar elementos de forte apelo estético, com grandes envergaduras, capazes de vencer amplos vãos, com formas arqueadas e dobradas. Um exemplo de aplicação pode ser visto no pórtico de acesso ao Bondinho do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro. A madeira laminada colada também pode ser vista na sede do Centro Cultural Coreano, em São Paulo, em vigas e pórticos.

CONTROLES DE QUALIDADE

O desempenho estrutural da madeira laminada colada depende, fundamentalmente, da precisão do seu processo de fabricação, sobretudo da qualidade da união entre as lamelas de madeira.

"Manter duas superfícies juntas é um trabalho de arte", revela o engenheiro Carlito Calil Neto, diretor industrial na Rewood. Segundo ele, para fabricar MLC para fins estruturais, várias normas devem ser seguidas e o produto deve ser testado em laboratório para um melhor controle e repetibilidade. "Etapas como pressão de colagem, geometria de finger joint, gramatura de adesivo, tempo de assemblagem e tempo de cura devem ser seguidos à risca", diz Calil.

Etapas como pressão de colagem, geometria de finger joint, gramatura de adesivo, tempo de assemblagem e tempo de cura devem ser seguidos à risca
Carlito Calil Neto

A ABNT NBR 7190 - Projeto de estruturas de madeira faz referência à fabricação da madeira laminada e colada, bem como lista os ensaios a serem realizados para que se possa ter certeza de que o processo está em conformidade.

Outro documento importante como referência para fabricação da MLC é a norte-americana AITC 115-2009, para controle de qualidade.

Fabricada a partir de madeiras como pinus e eucalipto, a MLC possui ao menos três camadas ortogonais de madeira laminada serrada que são coladas com adesivos estruturais para formar um sólido retangular. A seleção da madeira, bem como do adesivo para unir as lamelas são alguns dos pontos mais críticos da produção deste tipo de solução.

Com relação à colagem, caso o processo não esteja de acordo ou aconteça alguma anomalia, o descolamento das lamelas, conhecido também como delaminação, pode ocorrer. Embora muito raro, o problema é sério. Dependendo do grau e da extensão do descolamento, uma viga em MLC pode até entrar em colapso.

A MLC é desenvolvida a partir de madeira de reflorestamento (foto: divulgação/Rewood)

ADESIVOS PARA MADEIRA LAMINADA COLADA

Calil explica que, no caso da madeira laminada colada, as propriedades da madeira possuem um nítido efeito nas ligas adesivas. "As características anatômicas da madeira influenciam na colagem de madeiras, a exemplo da variabilidade na densidade e porosidade que ocorre em lenhos inicial e tardio, cerne e alburno, e lenho juvenil e adulto", comenta o engenheiro. Segundo ele, de modo geral, as madeiras de folhosas (cedro, eucalipto) apresentam mais dificuldades para colagem do que as de coníferas (pinus).

Os adesivos devem ser escolhidos considerando as condições climáticas de uso, especialmente temperatura e teor de umidade. No momento da especificação, são consideradas três classes de uso principais: para interiores, para uso exterior coberto e para exterior descoberto.

É sempre importante optar por um adesivo que tenha a certificação para uso estrutural
Carlito Calil Neto

Também interferem na definição do sistema de colagem o tratamento preservativo contra organismos xilófagos, e os métodos de fabricação da MLC. Na maioria das vezes, são utilizadas colas de alto desempenho baseadas em caseína, resorcina, ureia-formol e melamina. “Mas é sempre importante optar por um adesivo que tenha a certificação para uso estrutural”, recomenda Calil. Ele lamenta, no entanto, ainda não haver no Brasil um fabricante com tal certificação.

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Colaboração técnica

Carlito Calil Neto – É formado em engenharia industrial madeireira na UNESP (Universidade Estadual Paulista) com especialização em processo de produção de madeira laminada colada. Mestre em ciência e engenharia dos materiais pela USP (Universidade de São Paulo) e doutor em engenharia civil pela mesma instituição, atua como diretor industrial na Rewood.